LEMBRETE FINAL DO LIVRO ORAÇÕES POÉTICAS

Quando falamos com Deus, a qualquer hora, seja qual for o motivo de nossa oração, súplica ou desabafo, sempre ressoa um hino de louvor ante à majestade divina. Estes poemas nasceram de momentos assim. Destinam a Você em todos os momentos por que passar, sempre mantendo a consciência de que o Senhor está presente, sejam quais forem as condições.

Geraldo Generoso - Ipaussu - SP

MENSAGEM DO LIVRO ORAÇÕES POÉTICAS


O Reino de Deus é extremamente acessível, mas todos nós, talvez até por uma necessidade mesma de evolução, ou por conta de um mistério maior, procuramos o reino em poderes enganosos. Ainda que aparentemente auspiciosos, sempre se nos revelam passageiros. Apesar de compreendermos esta verdade, nem sempre damos conta da enorme oportunidade que o Creador nos oferece na tarefa tão gratificante de vivermos na Sua Presença. . Se algo nos parece errado na vida, é sempre tempo de acertar, construir e reconstruir. Mas nunca será tempo de odiar ou maldizer, pois isto nor reterá o coração no porto do desajuste e da infelicidade. As receitas de Deus são tão simples que a gente nem sempre acredita que são eficazes.
O simples ato de depor uma semente ao chão, resulta em dádivas de flores e frutos aos viajores e no conforto da sombra que alivia-lhes o cansaço da caminhada.
Que estes poemas, sejam sementes de luz a iluminar os caminhos de todos os homens e mulheres de boa vontade.

DILEMAS E INCERTEZAS


NO DILEMA DA INCERTEZA
Frágil se revela o ser humano nesta travessia
Sobre um tempo cada vez mais desumano.
Quase impossível viver serenamente
Com vozes gementes ao nosso lado,
E o peso do fardo mais se sente
Por viver num planeta inacabado.
Asssombram-nos fatos e pessoas,
Reboa da morte a voz tragando
E vai levando as horas, más e boas
Com nova gente o mundo povoando.
Não sabemos dizer do fim previsto
Ou mesmo se esse fim será real,
Tudo aqui se revela no imprevisto
Desta gangorra entre o bem e o mal.
Mas vida prossegue e, a despeito
De tudo e de todos, sempre insiste
Em acolher, do coração, no peito,
Ao menos uma ilusão que ali persiste.
Em provas evidentes se entremostra
Uma força maior, acima e além
Desta vida terrena sem resposta,
A demonstrar que há o Supremo Bem.
Do Lar Paterno de onde exilamos,
O que nós mais queremos é o retorno
É por Deus que no fundo ansiamos.
Mesmo tendo venturas mil em torno,

Geraldo Generoso - Ipaussu sp Brasil

AMIGO OCULTO


AMIGO OCULTO
Eu Te encontro em cada esquina, com Teu passo no meu passo;
Tantas vezes já Te vi chegando, tantas outras, partindo...
Eu Te vejo sempre, Amigo,
Rumo à escola ou à oficina, e até a destinos ignorados,
A contragosto, obrigado a levar um fuzil e a mochila
Na função de soldado...
Eu Te vejo calado,
E, às vezes, triste
Cruzando o portal de um presídio
Ou adentrando a um hospital!
Às vezes vejo-Te adormecido
Sobre catres de albergues ou mesmo
A esmo jogado o Teu corpo
Sobre uma calçada
Que serve de passeio a ricas ruas.
Eu Te vi ontem, eu Te vi hoje...agora mesmo!
Percebo que tantos Te procuram
Nas igrejas e nas doutinas,
Nos aglomerados e nas praças !
Nas eu Te vejo sempre, em toda parte...
Amigo, eu Te vejo oculto
No âmago de cada ser humano,
E nunca posso gritar aos que vão comigo:
Olhem lá o Cristo
Dentro daquele coração!

geraldo generoso

SOB A SOMBRA DO ALTÍSSIMO



Vivo a sondar-Te por esta
Pequena fresta de eternidade
Feita de dias e noites tão breves!
E Te imagino acima de todas as dimensões,
Quer de festejos ou lutos,
Além muito além de todas as medidas
E acima de todas as concepções
Que nascem e morrem nesta e noutras vidas.
Sinto-Te no orvalho cristalino, e na madrugada que o distila,
Em suaves gotas, sobre a verde relva de cada amanhecer...
Escuto-Te no pássaro que gorjeia, no limoeiro, ao pé desta janela
Onde o verão vem ao dia de sol acender..
Vejo-Te na criança no manejo de uma bola.
Vejo-Te no céu, na terra, em toda parte,
Sem ousar entender como de fato és!
Só sei que Te situas muito adiante da imaginação que cria a própria arte;
Não te imagino, sequer como um poder,
Pois seria compará-lo a atributos cegos
De forças sabidamente transitórias...
Não! Estás acima do poder
Numa dimensão humanamente ignorada;
Seria blasfêmia comparar a Tua força
Até mesmo com o poder nuclear.
Olhando para o infinito , se Te contemplo me extasio,
Por Te disfarçares no próprio Nada,
Para não nos matar de espanto e temor.
Ocultas-Te no recôndito de cada coração,
E Te disfarças num simples gesto de amor.

GERALDO GENEROSO

SOCORRO INFALÍVEL



Senhor,
Quando para os Teus céus
Meus olhos fito,
Mesmo em meio à desdita
Em seus escarcéus,
Eu sinto a Tua Presença
Com aroma de infinito.

Mesmo na tempestade,
Com cheiro de peste e morte,
Eu me refugio em Tua majestade
Sem temer a fatalidade
Ou os ventos forte
Da adversidade
A selar minha sorte.
Não me sinto aflito:
Sei que estás desperto
E,em Teu braço forte,
Escondo o meu grito
Meu socorro é certo !

Geraldo Generoso - Ipaussu - S.Paulo. Brasil

RECOMEÇO



Quero iniciar o dia nascente
De forma diferente
Dos muitos que vivi:
Entregando-Te por completo, este coração repleto
De tantas coisas a pedir.
Antes e acima dessas coisas e pessoas,
Quero colocar nesta entrega consentida
Primeiramente o meu amor por Ti.
Amparam-me os Teus eternos braços;
Desfaço-me, pois de tantos laços
Que me retiveram a vida em todo este pedaço
De existência sofrida.
Em tão simples gesto, encontro a Tua paz
E já não sinto mais
Preocupações com o resto
Dos dias que virão nem com os dias que ficaram atrás.
Nenhuma circunstância, coisa ou pessoa
Ante as quais já me vi tremer
Nenhum temor ora me traz,
Neste simples saber que me creaste por Amor
Para uma vida sã e boa
Porque Tua vontade só o Bem pode trazer
Por Tua mão que consola e perdoa.
Em lugar de temor ou inquietação
Coloquei no coração
Tão somente a certeza de que existes;
E, como tudo em que puseste a mão,
Do mais simples ao maior dos ojbetos,
Como Arquiteto Supremo entre os arquitetos,
Jamais creaste um projeto em vão.


Geraldo Generoso

O SUPREMO SIGNIFICADO DA VIDA




Não vemos o incorpóreo Amigo,
Não ouvimos, sequer, a Sua voz;
Mesmo sem o haver, vemos castigo
E até na lilberdade, férreo algoz.
Esse mal aparente, tão antigo
Se faz conosco e traz espanto a nós,
Mas além do gradil, há um abrigo,
Vem à bonança, da tormenta , após.
Às formas que envelhecem, culto extremo,
Prestamos e assim, teimosamente,
Parar a vida e o mundo então queremos...
Mas há em nós mesmos um poder eterno
Que transparece espiritualmente
E brilha além do céu e até do inferno

Geraldo Generoso


CONVICÇÃO INABALÁVEL


CONVICÇÃO INABALÁVEL
Senhor, no silêncio tenho buscado
A vossa resposta de Amor, nesse Vosso idioma
Tão alheio ao humano entendimento!
Encerro-me numa redoma deste único pensamento:
Que é sentir a Vossa Presença a inundar de Graça
Esta vida que passa, feita de momentos!
Apagar a cada desavença,
Repor tesouros que as traças
Levaram sem o Teu consentimento!
Às vezes me pergunto, solitário,
Qual o real sentido do viver?
Não encontro razões paa o fadário,
Nem em Tuas mãos castigo pude ver.
Debruçado sobre tantos mistérios,
Que à compreensão é um desafio,
Procuro, olhando os páramos etéreos,
A ver se vejo desta meada o fio.
Descubro, afinal, com alegria:
Jaz aqui mesmo no meu peito,
Levas-me ao encontro do Teu Ser perfeito.
A Tua Presença que me alumia,
Descortino aqui mesmo o paraíso,
Sem ir em busca de igreja ou templo;
Contigo viverei num mundo indiviso,
E isto é tão só questão de tempo.

Geraldo Generoso - Ipaussu - SP - Brasil

NOS BRAÇOS ETERNOS




Senhor,
Estas imagens que me assustam
Quase me levam a estremecer !
Embora miragens,
Sem razão de ser e de viver,
Permanecem e insistem
Da noite ao amanhecer!
Ainda assim, não blasfemo nem vacilo,
E firmo os passos sobre o rochedo
Desta fé maior que o medo
E até o fim tais fantasmas repilo.
Se apenas Te contemplo
No vazio em que se escondem
Sem tempo ou espaço,
E, plácido me deixo embalar,
Sentindo sempre a me sustentar
A força infinita dos Teus braços.

Geraldo Generoso

ETERNA FORTALEZA



S e n h o r, mesmo tendo eu ciência
De que a suficiência da Tua graça,
Nesse Teu amor que jamais passa
Está agora sobre mim,
Ainda assim, às vezes vacilo
Ante o inútil temor a um vírus ou bacilo
Que a esta minha vida possa dar um fim.
Às vezes, pela senda,
Sigo confiante em Tuas promessas
E delas me relembro uma por uma:
Que em minha tenda] chegará praga alguma,
E deterás a seta venenosa, livrando-me da contenda
E da peste perniciosa.
Mas, na minha fraqueza, quantas vezes hesito
Em viver em mim a Tua natureza de poder infinito ?
De sentir neste pó a Tua grandeza?
E me faço de Teu lar simples proscrito,
A lançar aos Teus céus o meu grito
Esquecido de que és a minha fortaleza!
Senhor :que eu possa ver a Tua realidade,
Sentir na alma a luz da Tua verdade
E em meu coração o Vosso eterno amor
Que atravessa o tempo e a eternidade !
E em lugar desse inútil clamor
Possa sempre Te elevar o meu louvor
Como exemplo de fé e caridade.

LUZ OCULTA



Os obstáculos se sucedem num crescendo
Que me parece impossível
Superá-los com as minhas próprias mãos !
Corro ao Teu encontro
E esta corrida me parece vã,
Mas me sobrerresta em minha fé anã
Uma réstea de luz com a qual sempre conto.
Só resta Te esperar na vigília amanhecida,
Tecida da esperança insone do luar
Em encontrar a Tua mão estendida em suprema proteção!
Deixo-me ir, enfim, ao fim que ignoro por completo:
- De onde virá esta paz que me invade?
De onde me vem esta força com sabor de eternidade ?
De onde vem esta luz a inundar-me os olhos apagados?
Vem de Teu santuário, assim tão mansamente,
Oculta entre as sombras do meu rosto
A iluminar-me inteiramente,
Que não sei como explicar
Como posso, apesar desta pesada cruz às costas,
Ter forças para erguer-me ao Teu céu infinito.

 Geraldo Generoso - Ipaussu - SP - Brasil

LUZ NAS TREVAS


Sem anúncio prévio,
Às vezes, submergimos
Sob uma avalanche de trevas.
E no prélio
Desses negrores tormentosos,
Quais abutres ameaçadores,
Sentimo-nos desditosos,
Acovardados ante as dores,
Na noite atroz que nos leva
A crer Deus, surdo aos nossos clamores,
E até de Sua onipotência duvidar.
Mas que mal pode as trevas nos fazer
Em seus itinerários passageiros,
Se já no princípio, o Senhor,
Na condição de único Creador
Em Seu infinito Amor
Dispôs nos céus dois luzeiros?



 Geraldo Generoso - Ipaussu - SP Brasil





SOB A SOMBRA DA CRUZ




SENHOR,
Venho Te entregar a "minha" vida
Como chaga exposta,
Ao Vosso Amor infinito
E ouvir a Tua resposta
A este fundo clamor.
Senhor,
Quem me explicar poderia
Este sentimento de orfandade
Que seccionou-me o coração
Da Fonte da Tua Graça?
Senhor,
Pela verdade de que estás
Em cada átomo do Universo,
Por que este fosso tenta, neste átimo,
Arrojar-me à descrença?
Que Tua excelsa luz
Invada cada amanhecer
De todos os meus dias,
E possa a sombra a pender da cruz
Deixar-se, enfim, por Tua luz vencer
E brilhar na fé e na sabedoria.

Geraldo Generoso - Ipaussu - SP Brasil

O CÉU ESTÁ AQUI MESMO



Ante os mistérios insondáveis,
Humanamente inexplicáveis,
Conjecturamos sem parar...
Dos mais simples aos mais sérios
Nos defrontamos com mistérios,
Aos quais tentamos desvendar.
De Deus nos falam os pastores,
De um mundo além deste de dores,
Pleno de luz, amor e paz !
A fé se acende em nosso peito,
Pelo Senhor tornar-se aceito,
Cristo Jesus nos fez capaz.
É impossível desvendar
O infinito a nos mostrar
A perfeição que em tudo existe.
Não entendemos a beleza
Que rege toda a Natureza
Por mais que a ela se conquiste.
Não temeremos nenhum mal,
Temos a fé no Bem Total
Que não criou o mundo a esmo.
Pensemos sempre apenas nisto:
- A luz de Deus no amor de Cristo
Sempre está dentro de nós mesmos !

Geraldo Generoso




PRIMEIRA ESPERANÇA


Se a esperança, de ti, fugitiva, algum dia,
As asas debater, vôos de exílio alçando, Não desesperes, firme, caminhando,
Continue os teus passos pela ardente estria.
Se lágrimas de dor teu rosto vier banhar, E, solitária, a angústia, tentar te abater, Lembrai, então, que é essa a hora de mais crer Quando uma dor qualquer vier te visitar.
A um crente o tropeço apenas representa Razão da própria luta em que se debate, São a parte integrante e melhor do combate, É bússola que rumos novas orienta.
Seja sempre o perdão a rútila armadura
Com que te hás de cobrir em tua luta empenhado;
Seja a fé tua bengala, o amor, o teu cajado
Seja a esperança a estrela na tua noite escura.


Um sorriso de fé erga n’alma por lança,
A qual hás de empunhar se alguma dor pungente
Na estrada te assaltar inopinadamente
                  Para te arrebatar a última esperança!


Faze da tua alegria a doce companheira
Que Deus te deu e, do ânimo, o teu malho;
Siga confiante acreditanto em teu trabalho
N’alma encerrando ao fundo a esperança primeira !

Geraldo Generoso

CONSAGRAÇÃO DE APOSENTO



SENHOR,
Que todo Ser que aqui chegar,
E cruzar o portal deste recinto,
Sinta a Vossa Presença, como eu sinto,
Da luz do Vosso Amor neste lugar.
Que aqui se faça pela Graça Tua,
A chama acesa de um amor em brasa,
Que desfaz qualquer treva, que das ruas
Possa rondar quem entre nesta casa.
Que aqui se acampem a cado momento
Os anjos das Tuas hostes celestiais,
Que se dissolva todo o desalento,
Calem-se, pelo Amor, todos os ais.
Que aqui se pense e a cada instante
Proclamado seja o Teu santo nome
Com a fé vivida no amor constante
Que ao Teu calor a cada dor consome!
Que Tua essência inunde cada canto
Com o Vosso encanto neste lar pequeno;
Que nos recubra sempre o áureo manto
Do amor imortal do Nazareno !
Que todo aquele que aqui vier,
De qualquer raça, homem ou mulher,
Sinta a Tua Presença a derramar
A bênção de poder que tens pra dar
A quem em Ti o coração puser.

Geraldo Generoso - Ipaussu sp

ALGUÉM MUITO ESPECIAL

Por onde quer que se ande pela terra,
Vemos a cada palmo, a cada instante,
A paz ausente e, no furor da guerra,
A dor da Terra com os seus viventes !
Cada qual faz o céu sempre distante,
E mais gritante a vida em meio às gentes.
Ante esse quadro assustador e horrendo

Há alguém a criar no mundo crendo.
Há gritos de presídios e hospitais !
Há gritos de miséria longe e perto,
Há solidão e luto em tantos ais,
Na travessia deste chão deserto.
Além do tempo incerto a luz e a paz.
Aonde jaz o amor por certo?
Ante esse quadro, de dor feita à custa,
Há alguém a criar, que não se assusta.
Milhões de vozes a exprimir carência,
Hordas famintas sem teto nem pão;
É infausta e malograda a experiência
Desta seqüência de um viver em vão
Que não foi explicado pela ciência
Nem resolvido pela religião.
Ante esse quadro que nos desalenta
Há alguém acima que ao amor sustenta.
Quem será esse alguém, presente e oculto,
Que ainda crê e em criar persiste?
Que a cada instante as marcas de seu vulto
Se expressam num semblante, alegre ou triste!
Mas sempre criativo, infante ou adulto
Está no homem esse alguém que existe
E quer, como Ele, nos fazer criadores
De um novo Éden de frutos e flores..


 Geraldo Generoso






LEGÍTIMA CARÊNCIA


LEGÍTIMA CARÊNCIA
Geraldo Generoso - do livro ORAÇÕES POÉTICA

Maldizemos, às vezes,
esta fome de mundo que nos assola,
esta ânsia pelo nada que se evola
de esperanças vãs e estúpidas !
Amargamos reveses e naufrágios,
pela busca infrene de posses e títulos,
pagos ao peso de imensos ágios,
por bens insignificantes e ridículos.
Na matéria, desse pó, de que em parte
somos feitos,
Imergimos a alma integralmente,.
a insistir na pífia arte,
por todos os modos e jeitos,
de desfrutar intensamente
por via de corpos imperfeitos
uma falsa ventura prazerosamente.
Mas neste Universo desmedido
nada se perde, nada está perdido,
nem um só átomo há de se perder.
Bendita esta fome insaciável
pelo que pensamos precisar ou ter,
Esta fome que nos corrói,
que tanto nos consome e que tanto dói
em nossa alma tem a razão de ser:
Esta sensação de tremendo vazio
que nos traz mil desejos, infinita vontade,
É um mero disfarce a esconder o pavio
Por nossa fome de eternidade.


INDAGAÇÕES DO FUNDO DA ALMA


POR QUÊ ?

Por que em carne nos tornaste
sobre este vale a esmo,
nesta árida procura por nós mesmos?
Olho-Te pelo rosto do Sol
e as perguntas se esboroam;
apagas Teu luzeiro, trevas os ermos povoam
E dá-nos a Lua como Teu farol.
Nessa infinda procura pelo próprio Eu,
a Tua luz na selva escura nem por um segundo,
pelas vias do mundo,
do menor entre os homens se esqueceu.
Embrigamo-nos de mundo,
na inconsciência adormecidos;
imergimos, por vez, em profundos
pesadelos e gemidos
que nos nascem do mais fundo
daqui dos nossos corações feridos.
E ao final de tantos pesadelos,
que a vida nos impôs em duros fados,
em Ti depomos todos os desvelos
porque na verdade até nossos cabelos
antes dos de Abraão por Ti estão contados !


 Geraldo Generoso -

TROPA EMPACADA


Na Fazenda Santa Rosa, no município de Timburi-SP, este fato aconteceu pela década de 1960 do  século passado. Nessa propriedade, antes da formação da represa da Usina Chavantes, havia nas imediações do Rio Paranapanema uma casinhola de madeira, muito modesta, de feitio caboclo e muito estimada de seus antigos moradores. Mormente pelos moradores da casa, Seu Livino, a esposa Dona Dulcides e o filho Abílio. Tudo transcorria na maior felicidade.  A  família via naquele pedaço de chão às margens do rio piscoso um paraíso que por nada trocariam na face da terra. Não é por ser meu torrão natal, mas sou obrigado a concordar que esse nomeparaísoainda hoje calha bem para Timburi.
Eis que Seu Livino morre de repente, ali pelas bandas de um arrozal, não sem a tempo do benzedor Quirino ter-lhe colocado um tição de fogo na mão direita, à guisa de vela para iluminar-lhe o caminho sem volta.
Abílio, o filho órfão criado,  passou a exercer a função de cocheiro. Pela distância que ficava da sede a casinhola onde viveu a vida toda, nem sempre ele chegava no horário de trabalho estabelecido. Por respeito ao finado  Livino, que aliás era seu compadre, o administrador procurou a melhor solução para que o rapaz deixasse de perder a hora como vinha acontecendo. Por sorte havia, nas imediações da cocheiraonde Abílio procedia a ordenha diária,  uma casa vaga. Prontamente aceitou mudar-se para a nova morada, mesmo tendo em conta de que toda a história de sua vida estava naquele rancho às margens do Rio Paranapanema, onde nasceu, viveu e cresceu.
No dia aprazado,  Seu Manoel – o administrador -  mandou o carroceiro Domiciano descer a serra e ir buscar os trens da família  de Seu Livino para a nova residência. Em chegando, em  poucos minutos a mudança estava toda sobre a carroça, pronta para subir o morro. Mas quem diz de a carroça sair do lugar ? Os burros tentavam uma arrancada, e outra,  e nada!
 Domiciano, o carroceiro, brandia o chicote em vão. Assim o tempo foi passando e tudo na mesma. Um burro, de nome Barão, que era do tronco, chegou a empinar em protesto e respondeu às guascadas com coices e manotadas.  Coincidentemente, não muito longe dali, estava o curador Basílio Quirino cuidando do arrozal, onde assistira a Livino em seus últimos momentos. . Não deu outra. Domiciano foi apelar ao curandeiro:
    - Seu Basílio, nãopara acreditar, mas o espírito de Seu Livino não quer esta mudança. Olha que minha tropa, não é por falar, é barra pesada e nunca empacou. Agora, de repente, os burros não saem do  lugar. Isso pode ser coisa de outro mundo.
Em breve chegou o curador em tom cerimonioso. Tirou o chapéu e aproveitou a deixa.
    - É. Ainda bem que estou por perto e sei lidar com esse tipo de situação. Isso é muito comum, mas eu sei como conversar com Livino e explicar a necessidade de a família mudar-se para a sede.
     -Gente – continuou o curandeiro - me dá  uma licencinha que eu vou ver o que o Livino está querendo me dizerMas pelo jeito não é nada grave não, ele está sorridente. Não sei se é porque ele gostava muito de mim, mas vocês não precisam se preocupar que tudo vai dar certinho.
    Seu Basílio foi para o canto da casa, perto do paiol e ficou uns cinco minutos. Voltou o curador como quem traz a solução, pitando seu enorme cigarrão de palha. A mãe, o filho e o carroceiro pareciam rezar pela anuência  pacífica do finado.
    - Domiciano - disse Seu Basílio Quirino com firmeza - o Livino  mandou  dizer para você  soltar  a correia do breque da carroça que tudo está resolvido ! Da  parte dele está contente em ver a família em lugar de mais recurso
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