CIÊNCIA, SIM; MÁGICA,NÃO
Geraldo Generoso

            Desde os meus saudosos tempos da revista  Seleções do Readers Digest, em que em sua linha editorial primava por enfocar as mais novas conquistas da ciência médica mundial, lia com vivo interesse  as boas notícias, já àquela época, de quanto a ciência avançava em favor das pessoas. Por outro lado, sempre concluía, que a maior parte dos benefícios, que envolviam milhões de dólares em pesquisas – públicas, privadas e fundacionais, infelizmente só poderiam  prestar a socorrer  a uma minoria restrita do planeta.

            Talvez, por essa razão, deixei de me seduzir pelo brilho de tantas e tão constantes conquistas científicas. E com a microbiologia hoje em ritmo galopante, a cada vez me faço mais cético quanto à abrangência dos trabalhos ingentes dos nossos homens e mulheres da ciência.
            Para reportar a um tema de atualidade,  ainda fresco e polêmico, eis que os Merlins dos microscópios, provetas em seus sofisticados laboratórios, vêm com a novidade de extrair espermatozóides na mulher, apta, pois, a reproduzir sem o concurso masculino, a quem é inerente por natureza esse ingrediente químico milagroso.

            Oras,  não que a minha condição de poeta se estremeça diante de uma prática tão crua e tão sem sentido. Muito menos  me acode um senso crítico ante essa prática por qualquer viés religioso, porque não acredito que sejam, religião e ciência, terrenos irreconciliáveis, ainda que estanques.
            Pode ser uma interpretação pessoal, e nem por isso não são necessárias as opiniões individuais para que suscitem debates e da discussão nasça a luz. Contudo, pergunto-me:  aonde querem chegar, esfalfados em seus redutos, comprometidos que implícita e explicitamente um cientista deve estar com a humanidade, para oferecer algo de tão bizantina inutilidade.? E, pior ainda, a que público se destinaria essa desinvenção da roda, em número, gênero e grau?

            A alegação é de que um casal de mulheres poderá, daqui por diante, procriar sem o envolvimento de um homem, ainda que seja um doador anônimo de esperma numa clínica de fecundação.

            Será que o leitor já pensou a que público se restringe  essa supérflua utilidade dos cientistas, que ora mancheteiam todas as mídias do mundo por conta dessa estupidez?

            Será que passam por cima da própria natureza humana ao quebrar com um simples tubo de ensaio a magia do amor entre um homem e uma mulher? Quantos, ou melhor, quantas mulheres no planeta inteiro, mesmo em países de Primeiro Mundo optarão por esta maluquice e, ainda que se optasse, quantas poderiam arcar com os custos envolvidos para usufruírem, num extremo e árido feminismo  ou hermafroditismo induzido – desse expediente que, a rigor, não implica sequer a melhoria genética (tema de per se polêmico)?

            Oras, sei que a quem se der ao trabalho de pensar – e eu jamais faria que os outros pensassem como eu, mas que pensem comigo, na inocuidade lúdica de certos cientistas, por mais respeitosos que sejam, entenderão que a função da ciência não é fazer mágica, mas promover o bem-estar e o progresso da humanidade em todos os sentidos.

Email: braunaster@gmail.com

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