DESABAFO DE UM PAI
Geraldo Generoso
Eu,
que sou Pai de tantos filhos, não me canso de esperá-los, revestidos de amor um
dia... Um dia destes qualquer, em que nos encontraremos face a face.
Meus filhos! Ah, meus, às vezes, descuidados herdeiros,
são meninos e meninas travessas. Muita vez se deixam hipnotizarem por
brinquedinhos do mundo, feitos de plástico, de papel ou de lata.
Brinquedos que
amassam. Castelinhos de areia que se dissolvem ao menor suspiro do vento.
Quando não, divertem-se a esculpir bonequinhos de neve, para chorar quando a
mínima réstia de sol os dilui numa simples e amorfa massa de água, a sumir
devagar, devorada pelo chão.
Oh, se Meus filhos, Meus às vezes
descuidados filhos sentissem os eflúvios do meu eterno Amor, a imbuir-lhes em cada
célula de seu ser o alento da eternidade.
Todavia, um a um, MEUS FILHOS se
achegarão ao meu Velho Lar para a alegria de um
reencontro bendito, num dia que só Eu sei.
Mandei-lhes um recado por meu Filho
mais velho, há algum tempo, e Ele transmitiu-lhes na íntegra o teor de Minhas
promessas, sintetizada na frase que atravessa milênios :
NA CASA DE MEU PAI HÁ MUITAS MORADAS.
Oh, se Eu não fosse o dono absoluto
do tempo e não detivesse na concha das mãos todo o Universo!
Ah, se Eu ignorasse o futuro, e
sofresse da incerteza de que os reunirei
a todos em nosso primeiro lar !
Sem essa presciência e não tivesse
essa certeza de novamente os atrair ao Paraíso.
Se eu ignorasse o que serão dos
MEUS FILHOS E FILHAS, que moram numa casinha pequena e azul, chamada Terra,
sentiria, por certo, arrebentar em Meu peito infinito uma angústia do Meu
tamanho e Eu deixaria de ser eterno, pungido pela saudade de minhas travessas
crianças.
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