ADIVINHE QUEM EU SOU


Quem sou eu ?

Muitas pessoas são prontas em acolher, contra mim, a versão injusta  dos que não me apreciam. Desde cedo aprendi sobre a impossibilidade em contentar a todos. Impossível passar pela vida  ileso a toda e qualquer crítica ou malquerença.
São muitos entre os que me chamam de escandaloso, quando num frêmito, às vezes, faço crestar as águas do mar num rebojo de vagas impetuosas. Talvez assuste a pescadores, como Pedro e seus amigos  àquela altura da vida,  a quem o Mestre repreendeu pela pequenez da fé.
Muitos me taxam de indiscreto quando passo a varrer as ruas e o pudor das mulheres, entre aquelas que preferem  saias e vestidos. Nada me é estranho, nem sou parcial em meus gostos, pois também passeio pelas praias  onde os trajes se fazem menores.
Alguns, literatos mais soturnos , definem a minha voz como um uivo. Porém, os verdadeiros poetas,  à minha passagem,  sabem encontrar a melodia que faço subir desde o chão até as árvores e torres,  nos altos edifícios ou nos campos.
Outros, ainda, me definem como um amante precipitado quando levo em meu colo  a chuva enamorada.

Na  verdade, porém, tais comentários resultam do despeito que inspiro aos inertes, aos acomodados, aos que não sabem quão saborosa é a distância que cobre lugares diferentes.
Passo invisível entre multidões que me olham e me escutam. Elas percebem  tão só  os efeitos da minha passagem.Sou um arrastador de nuvens, e um carregador  de papéis,  que alguém - negligente ou distraído - deixou cair sobre a calçada.

Não há quem me veja ou detenha.. Ninguém me dá a mão ou sequer um aceno. Sou um visitante a chegar sempre sem convite por quase todos os lugares.

Contudo, a quem me quiser ver com bons olhos, sem favor nenhum,  contemple as plantas, cujo pólen transporto por distâncias sem fim, para florir jardins e pomares, apesar dos que  imprudentemente, em sua ignorância, me amaldiçoam e me recriminam..

Como me faz feliz o chamamento  que me dispensou o grande Francisco de Assis, ao me denominar, juntamente com o lobo, o sol e a lua, pelo carinhoso e verdadeiro  tratamento  de IRMÃO VENTO.

 
Vista da Cidade de Ipaussu - Brazil
Geraldo Generoso - crônica premiada em concurso literário.




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