Amigos e
amigas, felizmente dos mais diferentes pontos do globo terrestre. Eu sou um
escritor brasileiro, mais a passar o tempo com a Poesia, aliás, até por
comodidade, porque fazer um romance exige fôlego que minha preguiça não
permite.
Eu sei que todos gostam de ouvir
histórias. E, ao longo de 70 anos de vida, convivendo numa família de longevos
(conheci três bisavós), e as passagens são muitas no correr desse tempo.
Trago nesta página a minha bisavó
Edwigges Brasília Franco. Ela era parteira, curadeira, benzedeira contra
lombrigas e ventre-virado. Mas era muito mais que isso.
Carisma transcendente, transudava
autoridade e firmeza em tudo o que dizia. Sua fé era tão profunda (ou elevada)
que a simples conversa dela com alguém desesperado ou triste, era o suficiente
para acalmar e alentar qualquer coração.
Edwiges conhecia muitas histórias de
assombração, almas penadas, saci-pererê, lobisomem e por aí à fora. Fosse nos tempos atuais, certamente ela seria
convidada para palestras sobre folclore, que se dá nos meses de agosto, no
Brasil.
Quando nasci, em 1948, minha mãe
contava apenas 17 anos. E assim como ela,embora ela tivesse uma modesta casa na
fazenda, a gente vivia na casa de meus avós – Manoel e Benedicta Fontes, onde
eu pousava toda noite.
Vó Edwiges também tinha sua própria
casinha, sempre cheia de gente para ouvir conselhos, contratar partos, benzer
criança enlombrigada ou com mau olhado etc. E durante o atendimento dessa
clientela, eu me postava próximo à janela da amada bisavó para ouvir os casos
de assombração e almas de outro mundo.
Tão logo ela se dava conta de que eu
estava na escuta de seus causos, me convidava a ir embora, que aquilo não era
convesa para eu ouvir e depois ficar amedrontado e dar trabalho para os meus
avós.
O espaço, e o respeito ao leitor,
vai me limitar, por hoje, a contar só uma passagem, que se deu quando ela já
não morava conosco mas com o filho caçula, João Franco, na cidade de Paraguaçu
Paulista. Embora ela relutasse por todo modo, meu tio-avô João incumbia a neta
dela, Maria Helena, a dormir na casinha dela, que ficava logo em frente.
Conta minha prima Maria Helena
que, numa certa tarde, chegou um telefonema de São Paulo anunciando a morte de
um genro de Edwiges, que teve e criou 10, entre filhos e filhas.
Por precaução (aliás desnecessária
para toda aquela potência espiritual que era minha bisavó), o filho dela, João,
pediu à Maria Helena e à esposa que não dissesse nada naquele dia sobre a morte
do genrso Joaquim Bernardo, ao que parece, falecido meio de repente em São
Paulo.
Obviamente, minha prima Lena,
nada comentou sobre o fato. Mas, alta madrugada, Lena ouviu a vovó Edwiges a
falar em tom repreensivo com quem ela não fazia a mínima ideia. Claro, foi
saber o que do que se tratava e supôs que a vó estivesse com algum pesadelo ou
sonambulismo.
Mas das palavras que entendeu,
prima Lena se estremeceu toda e ficou estupefata. Entre outras palavras,
Edwiges, com sua voz de forte timbre, ordenava de forma enfática:
- Compadre Joaquim Bernardo !
Vai para o seu lugar que agora não é mais aqui!
Já me avisou que deixou este mundo e agora basta. Que sua alma descanse
em paz, ou trabalhe, se você puder, se assim Deus, Nosso Senhor te permitir.
Vai embora e seja abençoado. Você teve seus defeitos, que não eram poucos, mas
Deus é bom além do quanto se puder imaginar. Ele lhe dará um bom lugar. E
agora, Joaquim, siga o caminho que sua alma merecer.
Geraldo Generoso - del Brazil para vocês |
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