No momento em que tanto se fala e tanto se propala sobre “cidadania”, mais e mais assistimos, salvo em raras oportunidades, algum protesto contra o “status quo” reinante no Brasil, “como nunca d’antes neste País”.
Daria um rosário quilométrico a enumeração de tantas contradições e falta de lógica em um sem-número de disposições e até mesmo do nosso formato governativo. Mas a não ser nem meia dúzia de “gatos pingados”, a sociedade a tudo absorve sem discussão e sem reclamar.
Achamos tudo natural porque alegam os que gostam e sabem fazer política, no sentido mais infeliz da palavra, tem que ser assim. Ou mesmo no Judiciário, de onde vem o termo “tecnicidade processual” e outros termos doutorescos para enfiar goela abaixo dos governados um cardápio amargo de medidas ilógicas e indigestas.
Não haveria espaço, sequer para um livro com mais de mil páginas, assinalar as contradições, a cada dia mais insuportáveis, deste formato socioeconômico e político que penaliza, principalmente, as pessoas ordeiras e afeitas tão só ao trabalho e a uma vida pacífica e obediente a princípios discutíveis.
São tantas coisas (não daquelas coisas que Roberto Carlos fala poeticamente), mas tantas coisas inexplicáveis à luz da razão, que optei por repartir os temas em várias postagens deste blog.
Na oportunidade, refiro-me à proliferação de siglas partidárias (30 já proliferadas e em período de amamentação regular nas tetas do povo), senão que outras estão em gestação, a pretexto de democracia, para igualmente se locupletar de recursos públicos, que são : fundo partidário, horário “gratuito” de TV, aluguel de siglas a partidos mais estruturados etc.
É muito partido para um País só, que em lugar de resolver problemas cria outros vários problemas na máquina política e no processo eleitoral. E em resumo, o que mais causa prejuízo ao erário público é que, embora neste País não exista, de direito, o patrocínio público de campanhas eleitorais (como no caso da Alemanha), no Brasil ele existe camuflado e muito mais caro do que lá.
É uma aberração, tanto nas câmaras municipais, quanto nas assembleias estaduais, câmara federal e senado estarmos sujeitos a um cálculo esotérica e ilogicamente complicado para a distribuição das cadeiras dos legisladores. E eis que se vota em alguém e seu voto, caro eleitor, vai parar em outra sigla coligada, muitas vezes de plataformas e ideologias completamente opostas às suas.
Oras, se no momento eleitoral essas siglas se reúnem, ao sabor das conveniências, de quem “dá mais”, e que são merecidamente chamados “partidos de aluguel”, qual é então sua razão de ser uma agremiação senão para complicar o processo eletivo e insultar-nos como eleitores?
Cinco partidos políticos no Brasil seria mais do que suficiente. Agora está no útero malicioso de lideranças aproveitadoras da boa fé pública, mais um partido que, curiosamente, leva o nome de Partido Pirata. Não sabemos como usará a abreviatura da sigla, já que o PP tem direito autoral registrado e tem como liderança maior o deputado federal Paulo Maluf.
O Kassab foi a sigla mais recente – PSD. Em um estado coliga-se com o PSDB; em outro se coliga com o PT – partidos diametralmente opostos, mas evidentemente tudo se resume ao sabor de uma conveniência de poder para poder chegar mais longe. Passadas as eleições, cada um dos partidos chamados de “nanicos” recolhem-se à sua insignificância, para negociarem votações que melhor atendam aos seus interesses.
Ainda que deixemos de lado o custo dessas maquinações, em termos de arrancar do erário público fundos partidários para manutenção dos partidos criados, que o povo não pediu para criar.
Aposto 1 por 1 milhão que ninguém, nem mesmo pessoas dadas à leitura da política atual diária, seria capaz de repetir, nome por nome, cada um desses nomes de fantasia dessas 30 siglas, inflacionando o processo político.
Somente durante 6 meses a cada 4 anos, colocam as mangas e as mãos de fora para entabular negociações de interesses nem sempre os mais lícitos . em coligações sem a mínima contextura ideológica, filosófica ou com plano de ação definido.
Justiça seja feita ao atual Vice-presidente da República, Michel Temmer, que até tentou remodelar o processo eleitoral, em que o candidato mais votado (como seria lógico e de absoluto direito) – em qualquer alçada do Poder Legislativo – naturalmente ocuparia a vaga em disputa.
Ao que se sabe, essa disposição de Temmer, absolutamente lógica, não vingou e tudo permanece como antes e, infelizmente, como agora, em que a mesma condição permanece, como uma esquizofrenia sistemática, sem chance de ser remediada.
Por iniciativa do Congresso Nacional, também se tentou limitar o número de siglas partidárias. O assunto até que avançou. Mas ao chegar ao Judiciário houveram por escolher um termo muito bonito – “Cláusula de Barreira” – o que impediu que se normalizasse essa questão.
Alega-se, em prejuízo da ordem lógica, que a democracia, por sua condição de pluralidade, não pode impedir que se criem e se recriem e se engordem novos partidos políticos.
Com certeza, a explicação esteja no fato de que hoje, no Brasil, a atividade política, como fonte de renda, é a que melhor remunera e a que envolve riscos mínimos em comparação com qualquer outra categoria profissional, empresarial ou das profissões liberais.
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