TINOCO E SUA CHEGADA NO CÉU
Geraldo Generoso (Ipaussu-SP)
No dia 4 de maio,
Caído numa sexta-feira,
O Brasil teve um desmaio,
Tremeu a Nação inteira.
Chorou o mundo caboclo
Pela morte do Tinoco,
Do País a voz primeira.
Por 75 anos
Cantando sem ficar rouco,
Sessenta com o Tonico;
15, “Tinoco e Tinoco”:
150 milhões
De discos, esses campeões
Já venderam e mais um pouco.
Em respeito ao leitor,
A quem tiro o meu chapéu
De poeta e trovador,
Vou colocar no papel,
Sem aqui aumentar nada
Como se deu a chegada
Do Tinoco lá no céu.
Diante do portal celeste
Fez logo o “Pelo Sinal”.
São Pedro disse “vieste
Para o mundo angelical,
Aqui está o Tonico
E aqui neste mundo rico
O show nunca tem final.
Ao Tonico ele abraçou
E, este, ao abraçá-lo,
Na hora lhe entregou
A viola de São Gonçalo,
E disse aqui tem serviço,
Meu violão é de São Francisco,
Vamos então afiná-lo.
São Pedro, o grande Porteiro,
Secretário do Senhor,
Pediu a moda “Canoeiro”:
- Saibam que fui pescador
E o abençoado Carreirinho
Que aqui tem seu lugarzinho
É dessa canção o autor.
Tinoco os causos contava:
- Foi bem boa a vida nossa.
O Tonico confirmava:
- Muito bela era a palhoça,
Fincada lá no sertão,
Pendurada no espigão
Perto da mina e da roça.
No auditório perfumado
Com aroma de mirra e incenso,
Ambos foram abraçados
Pelo Torres e Florêncio.
Chegaram bem de mansinho
Tião Carreiro e Pardinho
E enfim quebrou-se o silêncio.
Cornélio Pires chegou,
Feliz, de alegria pleno,
E ao Tinoco perguntou:
- Vocês cantaram sem treino,
Sem nada desafinar,
Distante, você em seu lar
E o Tonico aqui no Reino?
Tinoco deu-se a explicar:
- Cornélio, ultimamente,
Pouco antes de vir pra cá,
Se dava um fato frequente:
A cada noite eu sonhava
Que com o Tonico eu cantava
Em um lugar diferente.
- Em sonho eu me transportava
Com a viola na mão.
O cenário variava
Sempre uma nova emoção,
Grande auditório aplaudia
Quando a viola eu tinia,
E o Tonico, o violão.
Com bandeiras de São João,
Havia muito foguetório,
Bem próprio para a ocasião.
Tudo achei muito bonito,
Por isso eu até supus
Que lugar com tanta luz
Devia ser o infinito.
Tinoco assim concluiu
Aquela explicação;
O Tonico retiniu
As cordas do violão.
Em meio a vivas e palmas,
Podia ver que as duas almas
Era uma só em cada irmão.
Por no céu não haver canseira
Na voz e na inspiração,
Modas saíram em fileira
E a alma do sertão
Num enlevo terno e doce
Ali ao céu elevou-se
Na mais perfeita união.
No show ali realizado
Nenhum artista faltou,
Mas não só os consagrados,
Muitos dos quais ajudou,
Tinoco estendeu a mão
E com muita emoção
Com o Tonico assim falou:
Agora ficou perfeito
Sem ter que fazer as duas
Vozes, só com o meu peito,
A “segunda” agora é sua
“Primeira” volta a ser minha;
E agora a gente caminha
A cantar no antigo dueto.
Não se pode avaliar
Se o Céu mais contente ainda
Mais do que é pode ficar,
Mas Tinoco com sua vinda
Com o Tonico a cantar
Fez o ambiente balançar
Com a “Moreninha Linda”.
Hoje na eternidade
Junto ao coro de anjos mil,
Resta à posteridade,
Ao olhar pro céu de anil,
Sentir o canto caboclo
Do Tonico e Tinoco
Coração deste Brasil.
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