Entre o Governo e a Anarquia
Geraldo Generoso
Cada
um de nós, por conta da condição humano, apresentamos, sim, um vezo anarquista
que remonta, quiçá, ao Éden perdido. Já se disse que “as leis são sem conta nos
povos corrompidos”. Por outro lado, os governos moldam as civilizações mais do
que são moldados pelos povos que representam.
Podemos
perguntar, não especificamente nos cingindo, no tempo e no espaço, ao nosso
país ou ao mundo atual – até onde os governos realmente representam o povo , de
que se diz parte? Mesmo não se remetendo a um juízo de valor, isto é, se o
governo é eficiente ou não, mas quem, em sã consciência, votaria por mandar um
filho para a guerra? Ou mesmo, em sã consciência, tomasse de um mochila e rumasse para o teatro bélico em nome
de uma questão de Estado ou simples capricho de um governante?
Nunca
poderemos aquilatar, na medida exata, quais os atos do governo – na esfera do Executivo , Legislativo e
Judiciário –se realmente fazem-se no eco às aspirações dos representados? A
dimensão dos países – em território e população – está na ordem inversa dessa
representatividade, pois o povo passa a ser algo abstrato.
Na Suíça votava-se em decisões, mas o porte do
país permitia esse luxo, além, obviamente, da índole democrática, ainda que com
suas mazelas. Sim, porque na Suíça as mulheres obtiveram direito a voto depois
do Brasil, em meados do século passado.
Não se leve em conta – é bom repetir – a
competência ou não, sob o aspecto gestão, deste ou daquele governo. A proposta
é discutir o fato de que não há uma lógica em alguns atos da parte dos
dirigentes.
Se
dependesse, pura e simplesmente, dos povos, de cada povo, a guerra não mais
teria lugar no planeta. Nem sequer entre árabes e judeus. Na História antiga,
era até plausível entender que grupos se guerreassem, pela própria proximidade
entre suas fronteiras.
Ainda assim, entender não significa admitir
como válidas todas as guerras antigas, pois em nenhuma delas houve um motivo
nobre, ou sequer uma premência justificável. A única guerra realmente romântica
haja sido, talvez, a Guerra de Tróia, onde se disputava a bela Helena. Embora,
ainda assim, se perscrutarmos a história a fundo, constataremos que houve
motivos menos nobres do que a simples flechada de Cupido no peito do guerreiro.
Não
são os povos famintos e miseráveis que invadem os países ricos sob a alegação
do motivo famélico, biblicamente
admissível. Em toda a História isto
nunca se verificou. Grande é o esforço dos governos – e nesta era de marketing
em tudo isto se torna grandemente facilitado – em criar versões e preconceitos,
instilar o medo para que os indivíduos hipotequem a própria vida em função de
um simples desejo dos chefes guerreiros.
Se
uma extraterrestre chegasse à Terra e visse a nossa realidade nesse aspecto – e
em tantos outros igualmente infelizes – jamais entenderiam a lógica de se
investir tanto dinheiro fisgado
compulsoriamente do cidadão, em nome de seu bem-estar, para mandá-lo a
campos de batalha. Pior ainda insuflar de modo doentio na mente dos fanáticos a
vocação para morrer dentro de um carro-bomba, num triste espetáculo de loucura
e estupidez.
Por causas sem fundamento, fruto de lavagens
cerebrais demoníacas. A que extremo chega a condição humana! No entanto, por
mais que busquemos visualizar um horizonte de real liberdade, sempre haverá o
desafio de que a ordem, pelo menos de modo simbólico, exige comandantes e
comandados.
Concluímos, pois, que os governos, apesar de
suas mazelas e suas imperfeições, é um “mal” necessário. Pelo menos por
enquanto.
*
escritor e jornalista – especial para DIÁRIO MS – Dourados - MS
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