TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO




               Como todas as questões políticas  importantes, a transposição das águas do rio São Francisco tem suscitado muita polêmica. Por toda a região do nordeste brasileiro, por onde o São Francisco transita com suas águas milenares, habita de costume a população mais pobre e com um baixo índice de qualidade de vida.

           O São Francisco passa por regiões semiáridas, mas em alguns locais fica sua mancha de riqueza, pontuando um contraste visível com a pobreza dominante na maior parte de seu trajeto.

            Com os modernos conhecimentos e aparatos de engenharia civil, é perfeitamente possível realizar a transposição das águas do Velho Chico. A obra em si é perfeitamente viável e o custo, ainda que alto, está dentro das possibilidades do governo. O que se discute são dois pontos capitais, de onde surge a polêmica, aliás necessária e que precisa ser devidamente pesada pelos do a favor e pelos do contra.

            A primeira preocupação, justa e reconhecida, é  com relação ao impacto ambiental. O meio ambiente hoje está presente em todas as mesas de discussão política e isto é muito salutar. Todos sabemos  que a natureza não admite, via de regra, a interferência das mãos humanas em seu modo de ser e de viver. Os resultados, quando se impõe mudanças ao meio ambiente, podem mesmo se revelarem  catastróficos. O que a natureza tem de belo, também tem de violenta quando reage às investidas irresponsáveis do homem.

            A segunda  preocupação poderíamos situar como o cuidado com a ecologia humana. As famílias ribeirinhas  (fixadas ao longo das margens do Rio São Francisco), muitas delas terão que ser transladadas para outros lugares, de vez que as águas cobrirão parte de territórios hoje habitados.

            Obviamente, as águas  sepultarão não só geograficamente – as terras e seus cultivares – mas também história, tradição e o sagrado sentimento de querência ao solo nativo dos que ali vivem. Isto ainda seria contornável, se fosse possível transferir todas essas pessoas, com suas famílias – seus pertences e seu gado – para outros sítios onde suas vidas continuassem, no mínimo, nas mesmas condições do local de onde deverão sair.
Na verdade, há muito o que fazer nesse sentido, e todos sabemos como são lentas e emperradas as ações que envolve o monstro  burocrático , que retarda decisões improrrogáveis. Oras, nesse caso, estamos lidando com vidas humanas, com pessoas que não pediram essa transposição. Um contingente de pessoas frágeis economicamente, fixadas ao seu próprio chão e ao seu próprio céu. Foi pesando esses fatores que um religioso entrou em greve de fome, opondo-se à forma como está planejada a obra de mudança da configuração do São Francisco.

Na busca de uma síntese para a discutível proposta, inegavelmente a transposição irá beneficiar bastante as economias dos Estados abrangidos. Pelo menos em tese, vai criar melhores condições de vida, com mais água a irrigar vastas áreas de plantio daquele importante pedaço de Brasil.

Mas, para concluir, a transposição pura e simples, não operará milagres. Se não houver investimentos palpáveis, de recursos financeiros drenados para lá, devidamente projetados ao feitio da vocação da região, será mais um elefante branco como o foi a Transamazônica e outros empreendimentos feitos a toque de caixa. Ademais, é preciso investir o máximo em educação das populações ali radicadas, hoje e no futuro, para que isto também se some a mais probabilidades de sucesso e coroe de êxito essa empreitada histórica.




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