Este RELATO, QUE VERTI PARA POESIA, É DA FOLHA DE SÃO PAULO DE HOJE, 19 DE OUTUBRO DE 2013, SENDO A AUTORA DA REPORTAGEM ESTÁ MENCIONAA LOGO NO INÍCIO: Juliana coiSSIDE
MINHA HISTÓRIA - DORIVALDO
PORFÍRIO DE LIMA, 44
Meu filho roubou, eu vou pagar
Jales, cidade paulista
Lá tem gente de valor,
E em meio a essa lista
Consta alguém, cujo labor
É serviçal de pedreiro
Nesse lugar do interior:
É o Dorivaldo Porfírio
Que por amor ao seu filho
Foi um homem superior.
Estando em casa da irmã
Uma nota o deixou surpreso
Ao saber pela manhã
Que o filho estava preso
Por furto numa drogaria
E em posto de gasolina,
Na filmagem conferia
De seu filho era imagem
Levada à delegacia.
Dorivaldo de imediato
Procurou pelos credores,
Para compensar o ato
Do filho aos acusadores.
Dinheiro não possuía
Nem cheque entra na história,
Mas pagou o que devia
Só com nota promissória.
Ainda há gente decente
Como esse valente pai,
Que ao filho adolescente
Em socorro certo vai.
De pedreiro é servente,
Mais que muitos vale mais
Por seu exemplo de vida
Ele deixa uma semente
À sua família querida
Pelo que fez e o que faz.
Sua alma foi ferida
Mas livre está a sua mente
E seu coração, em paz.
(...) Depoimento a
JULIANA COISSIDE SÃO PAULO
Eu nunca havia pisado em uma delegacia antes, graças a Deus. Só passava
na frente.
Meu filho caçula, Bruno, estava jogando bola lá perto de casa quando um
policial veio e o prendeu. Eu estava na casa da minha irmã. Não estava
trabalhando porque está difícil arrumar serviço como ajudante de pedreiro --tem
dia que tem, mas passa muitos dias sem ter.
Minha mulher ligou: "Estão prendendo o Bruno, nosso filho".
Pensei: "Vou direto na delegacia saber o que é isso". Porque meu
filho é trabalhador, pedreiro como eu. Ajuda a pagar as contas. E nunca tinha
visto nada estranho em casa, como dinheiro, arma, droga.
Eu e minha mulher sabíamos que ele usava maconha, e desconfiávamos que
tinha alguma outra droga, porque ele chegava às vezes meio irritado. Ele contou
para a gente que usava, pediu para ser internado. Estávamos arrumando uma
comunidade [terapêutica] aqui com a Igreja Católica, mas aí ele foi preso.
No caminho da delegacia, pensei que talvez poderia não ser nada. Ele
estava trabalhando certinho, mas sempre tem as más companhias.
Quando cheguei, me mostraram as imagens dele [captadas pelas câmeras de
segurança do posto e da farmácia]. Fiquei meio em dúvida, porque nunca tinha
visto aquelas roupas. Mas ficaram falando lá que foi ele, foi ele, então a
gente fica quieto. E não o vi ainda desde que foi preso [em 8 de outubro].
Falaram o valor roubado por ele e um colega: R$ 600 da farmácia e R$ 900
do posto. Era bastante.
PROMESSA
Veio na hora a vontade de devolver o dinheiro. Quando o filho não
presta, os pais abandonam, nem vão atrás. Mas corri atrás para mostrar caráter,
o que é certo. E porque ele é trabalhador, não é vagabundo.
A avó do outro rapaz [suspeito de participar dos roubos] me disse que os
pais nem vão atrás do menino, que ele já não tem jeito.
No meu caso, não. Não é porque é meu filho, mas eu acho que ele tem
conserto.
No dia seguinte, fui ao posto e perguntei quem era o dono. O próprio
respondeu, é até conhecido meu. Contei o acontecido com o Bruno. "Era teu
filho? Não acredito", ele disse. E eu: "Se meu filho fez isso, quero
parcelar e pagar". Ele não acreditou, ficou surpreso com a honestidade. Eu
disse: "Acredite porque, se for meu filho, vou pagar porque ele é
trabalhador".
Pedi para parcelar os R$ 900 em promissórias de R$ 90. O ganho da gente
é pouco, não chega ao fim do mês. A diária [de auxiliar de pedreiro] é R$ 70,
mas às vezes você consegue trabalhar dois dias, depois para.
Fiz a mesma coisa na farmácia. O dono falou que como foram dois
envolvidos no roubo, ele dividiria os R$ 600 em R$ 300. Mas soube depois que um
comerciante viu a história na TV e pagou a conta.
Se não der para pagar os R$ 90 do posto no fim do mês, eu pago R$ 40, R$
50, o que der. Se hoje em dia a gente andando no caminho certo já corre o risco
de alguma coisa dar errado, imagina se andar no caminho errado? Dá mais errada
ainda a vida, e as pessoas não confiam na gente.
Mostrei as promissórias ao delegado. Ele disse que nunca viu ninguém
fazer isso. Ele sabe que todo mundo é trabalhador na minha família.
Queria agora é tentar lutar para colocá-lo numa comunidade [terapêutica]
para se tratar. Já ofereceram vaga de graça. Como meu filho já tinha pedido
ajuda para ser internado, ele merece, não é?
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