FIM DE CASO


Despejo  à Velha Senhora

Por incrível que pareça,
Ó senhora grisalha, de mãos nodosas  e olhos tristes,
Talvez sintamos a tua falta...
Foi longo o tempo em que estivemos juntos,
E a proximidade gera vínculos,
Mesmo quando feita de ingredientes infelizes.

Sentimos tantas vezes os teus dedos magros
A nos cingir no abraço indesejado !
Teus lábios frios no beijo que rejeitávamos
De tua boca desdentada e murcha.
Daquela boca que se abria em sorriso
Para o pouco,
Porque só ao pouco conhecias
E te assustavas com a possibilidade da abastança,
Vendo nela o pecado,  o luxo, o  supérfluo.

Quantas vezes nos acompanhaste no sono e na insônia,
Sobre catres de palha e lençóis rotos.
Mas fostes tu, bem ou mal, uma companhia
De longos dias,
Ainda que a gente a todo custo
Te evitasse e te arrumasse a mala rota
Para partires 
Para  nunca mais voltar.

Não ! Tu insististes sempre em estar ao nosso lado
Porque a gente se assentava sobre o teu colo esquelético
E julgava que fosses tu  o poço de virtudes
Que nos alimentaria com as águas da salvação.

Ledo engano sobre teus poderes inócuos
De nos limitar o vôo,
Te cuidavas prudente para que não caíssemos
Dos céus, para onde nos levavam as nossas asas.

Hoje deixarás esta casa vazia
De tua presença, bem ou mal, marcante,
Para nossos corações cansados...




Um vazio é sempre sentido
E hoje partirás para sempre,
Restará,talvez, uma saudade esquisita,
Que nos levava a juntar moedas
como as galinhas juntam os grãos do terreiro,
E tu sempre a nos dizer que havia de ser assim mesmo;


E até blasfemavas nos levando a crer
Que tínhamos que conviver contigo
Para que se  nos abrissem as portas
De um céu de mentiras que inventavas
Todos os dias
Quando a gente tentava te botar no olho da rua.

Mas agora tu mesma desejaste partir
Porque não te deixamos mais lugar nesta casa.
Vai, Dona Pobreza,
Pelo mundo afora que te confunde com virtude.
Estamos, sim, fazendo-te uma festa
De tua definitiva despedida de nossas vidas.


Ó pobreza,  a bem da verdade, nos fez melhores, talvez.
Ensinou-nos a modéstia, a humildade e a paciência
de esperar que um dia teu lugar, que se ampliou tanto em nossa casa,
Ficasse maior para receber a Prosperidade, como um dom que é nosso.

Tchau, Dona Pobreza. 
Esperamos que mude o teu comportamento, pois a ser  como és,
Em nenhum lugar terás pousada permanente
Porque o Universo é rico
E não tem lugar para a miséria, a carência e a limitação.
Bye bye, Pobreza. Converta-te de tua mesquinharia e pequenez,
E mude o teu nome, o teu jeito e a tua essência,
E só então serás bem vinda
Na próxima casa que bateres.

Leve às pessoas e suas famílias,
Do que te restar,
Somente a virtude de esperar

Até que Dona Riqueza,  
a verdadeira hóspede


Venha ocupar o teu lugar.

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