FORÇAS QUE RENASCEM DOS ABISMOS

DA DEPRESSÃO À RESSURREIÇÃO

Gergeneroso



É sintomático afirmar, durante as várias quadras da vida, que os "altos e baixos" fazem parte deste enredo que cada qual interpreta no plano existencial.

Não há como fugir de evidentes desafios. Muitas vezes você é assaltado pelo imprevisto, quando menos espera e nem sequer é capaz de entender o porquê de certas investidas do destino, sem aviso.

Há, nessas circunstância, períodos breves e  longos. Tão mais longos quanto mais penosos se nos apresentam. Por mais que se busque evitar tantos empecilhos, contratempos, sem falar em desgostos profundos e até deprimentes, a realidade sempre insiste em mostrá-los como inevitáveis.

Somos nada mais que uma cápsula pensante, envolta em carne, osso, nervos, músculos e cartilagens e, não sem razão, muita vez você se questiona sobre o por quê disto tudo? 

Até admite que a regra geral se pauta por essa nota: nascer, crescer, envelhecer e morrer. Tudo isto faz parte da configuração a que eu e você e os nossos vizinhos estão, sem escolha, destinados.Com nossos ancestrais deu-se o mesmo. 

No entanto, se você mergulhar bem fundo no seu interior, há de concordar que tudo o que lhe aconteceu - em termos de experiências de sua vida,  carrega um sentido para a própria alma, na condição da imortalidade de que ela se reveste.

Assim como outrora me dava a contemplar as carroças, todas as manhãs a saírem para as lavouras de café, puxadas cada uma delas por 5 muares, sempre havia a necessidade de o carroceiro incitá-los à marcha.

Com o tempo, os burros já treinados, não careciam mais das relhadas da jiboia do condutor sobre os lombos.  Bastava chamá-los a cada qual pelo nome para que tomasse tendência no passo rumo às roças em busca de carga. 

Ouço ainda a voz daqueles trabalhadores, primitivos carreteiros de uma época hoje  transplantada para a era dos motores. Com o tempo, e até creio que o costume também faz o amor, eles nutriam grande carinho pelos seus animais, habituais companheiros de trabalho.

A vida traz momentos  capazes de arrojar à depressão. Até mesmo quando a pessoa está provida, mais que do necessário, não raro do supérfluo, e ainda assim perde o que Viktor Frankl chama de "sentido da vida".

Aqui chegamos ao ponto da palavra que a tantos infunde temor: a Depressão. Doença em voga desde os ranchos e  casebres até às mansões mais finas e luxuosas. 

Não sem ser repetitivo, a esta altura é bem válido aquele axioma, de que "não há mal que para o bem não venha". A própria depressão, somente se faz em  extremamente danosa - às vezes até de forma irremediável-, se não for bem administrada.

Oras ! Mas se estou depressivo - diz você com certa dose de razão -  aí é que sou incapaz de administrar o que quer que seja. 

A rigor, não há como subestimar este mal que, na quase maioria das vezes, nada tem a ver com a nossa vida. 

Nem sequer com a nossa situação de vida. Ela, por si mesma, não dispõe de nenhum poder sobre o que quer que seja. Quando mais não seja uma oportunidade para voos nunca antes imaginados.

O abismo em que alguém se submerge oferece a oportunidade de se tomar um impulso até então nunca empreendido.Mais ou menos como o touro diante de um toureiro. 

Observamos que ele primeiro vai de fasto, invariavelmente, para obter um ganho de força maior do que o usual. Da mesma forma, o artilheiro em campo, na marcação de um pênalti, invariavelmente assim age.

Para melhor ilustrar, caro leitor, imagine  quantas experiências vividas  - algumas até muito dolorosas -, você superou e hoje nada mais representam em termos de limitação de qualquer natureza.

Mesmo que você fosse um masoquista saudoso,  você conseguiria ressuscitar quaisquer de suas dores, a não ser num poema que, a rigor, pode até ser de primeira linha ? 

Só as pedras mudam  tão devagar, ao ponto de, cobertas pelo limo das algas, morrer para a própria beleza e para sua própria razão de ser. Ao fim apenas sepultada literalmente com uma mortalha verde-musgo.

Levanta a cabeça. Imita o touro. Sinta a força que hauriu debaixo, como a planta que, através de sua raiz, e somente assim, pôde trazer flores e frutos, e assim cumprir o sentido da própria vida.

Avante sempre. Não há como viver num universo estático, quando o Creador o fez dinâmico em cada átomo de sua constituição.




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