O Poeta nasce Poeta
À primeira
vista, tal declaração parece sinalizar que a arte literária se processa de um modo
anárquico e sem nenhum balizamento técnico. Os poetas, e todos os escritores
de forma geral, não contam
unicamente com a inspiração pura e simples no mister de escrever. Há
quem diga como Mansfield, quanto ao
processo de criação literária :
“Não há porque esperar pela inspiração, a
faculdade de escrever é uma excitação vital para a saúde do espírito, um
exercício da alma que deve ser realizado sempre, de forma livre e simples.
Escrever ao cair da tarde; escrever qualquer coisa e tudo do mais profundo do
coração.”
Isto podemos constatar ao oferecermos a
palavra a qualquer escritor, de hoje ou de ontem. Mas para não ir tão longe,
nem saltar sobre GARCIA LORCA, esse especialíssimo vate espanhol, mundialmente
consagrado, deixemos que ele próprio nos ofereça o seu depoimento:
“Nas minhas conferências tenho falado por vezes da Poesia, mas a única
coisa de que não posso falar é da minha poesia. E não porque seja um
inconsciente do que faço. Pelo contrário, se é verdade que sou poeta pela graça
de Deus - ou do demônio - também o é que
o sou pela graça da técnica e do esforço, e por dar-me conta em absoluto do que
é um poema”.
Qualquer de nós,
escritores ou meros escrevinhadores, quando fazemos saltar nossos alfarrábios
das gavetas, sempre nos damos conta de
que o que escrevemos poderia ter sido escrito de forma melhor.
E até, automaticamente, vamos retocando
palavras aqui e ali, rearrumando a frase em outros trechos e, às vezes, até
imprimindo um novo desfecho ao poema ou história que se decantou, e vem nos
encontrar com o senso crítico mais apurado. Não obstante, é sumamente
necessária entender que toda obra é, acima de tudo, um trabalho de fé. Fé,
sobretudo, em si mesmo..
Destarte,
destacando essa necessidade de autoconfiança
indispensável a todo pensador – e mesmo para as demais pessoas em geral,
leia abaixo um texto de Ralph Waldo Emerson (escritor e poeta norte-americano,
nascido em 1803 e falecido em 1882)
“
Acreditar em seu próprio pensamento, acreditar que o que é verdadeiro para si
mesmo, em seu próprio coração, é verdadeiro para todos os homens, é ser gênio.
Manifeste a sua convicção latente e ela transformar-se-á em sentimento
universal, pois sempre o que jaz no interior manifesta-se no exterior e nosso
primeiro pensamento a nós voltará pelas trombetas do Juízo Final. Familiar como
o é, para cada um de nós, a voz da mente, o maior mérito que atribuímos a
Moisés, Platão e Milton é que eles consideravam nulos os livros e as tradições,
e falavam, não o que os homens pensavam,
e, sim o que eles próprios imaginavam. O homem deve aprender a perceber e
observar aquele lampejo de luz que perpassa pela sua mente, provindo do
interior, mais que do esplendor do firmamento dos poetas e sábios. Todavia, ele
repele sem reflexão o seu pensamento, porque é seu próprio. Em todas as obras
dos gênios, reconhecemos nossos próprios pensamentos rejeitados; eles voltam a
nós com uma certa majestade estranha. As grandes obras de arte não nos podem
ministrar lição mais inspiradora do que esta. Elas nos ensinam a ficar, nessas
ocasiões, fiéis às nossas impressões espontâneas com bem-humorada
inflexibilidade, principalmente quando todos os clamores estão do lado oposto.
De outro modo, amanhã, um estranho dirá, com imperioso senso comum,
precisamente o que sempre pensamos e sentimos e, envergonhados, seremos
forçados a aceitar, de outro, a nossa própria opinião.”
O objetivo deste
livro é o de despertar essa
conscientização da necessidade de otimizar, sob todos os aspectos, o processo
criativo e, em alguns casos, recorrer a meios alternativos dos quais decorram
os melhores resultados possíveis.
Cumpre, no entanto,
uma ressalva bastante oportuna. Não se trata de perseguir um virtuosismo
literário (*), “tecnicamente perfeito,
cujo valor reside na aparente ilusão suscitada pelos efeitos compositivos,
habilidosamente encontrados mediante o emprego de normas formais. Aqui, plagiando aquele lema das escolas de
propaganda – nada substitui o talento”.
(*) ANGELO RICCI,
em seu prefácio ao livro de I.A. RICHARDS,
Princípios de Crítica Literária - Editora Globo – Porto Alegre –1967.
0 comentários:
Postar um comentário
Comentários sempre serão bem-vindos!
Para assinar sua mensagem, escolha a opção "Comentar como -Nome/URL-" bastando deixar o campo URL vazio caso você não tenha um endereço na internet. Forte abraço!