"Todos são iguais perante a lei? Mas há os que são mais iguais.
Geraldo Generoso *
Muito se tem discutido sobre a condição de os
detentores de mandato gozarem do que se
chama foro privilegiado. Isto por ausência de termo mais adequado. Sim, em caso de possíveis irregularidades, crimes
ou improbidade administrativa, aos detentores de cargos públicos eletivos é
assegurado o direito de se submeterem a julgamento dos Tribunais de Justiça,
que de instâncias superiores.
Para começar, dizer que há foro privilegiado
seria subentender concessão de
privilégios, ao arrepio da lei, a
quem, em caso de culpa, por dedução lógica
só poderia merecer o rigor da lei.
Prefeitos, governadores, ministros de
estado, parlamentares em geral, contam com esse resguardo, a bem da Justiça,
pelo menos em tese (pois cada caso é um caso) para um apuro isento de quaisquer
questões que surjam no transcurso, ou mesmo após, de um mandato conferido pelos
eleitores.
Ao assim dispor, a Legislação leva em conta a quanto pode ficar
exposto um político ou equivalente, no seu lidar com tantos e tantos interesses
conflitantes.
Nem sequer falemos dos interesses inconfessáveis – que pululam ao
redor de quem senta numa cadeira de prefeito, governador ou presidente. Imagine
deixar, sem qualquer rede de proteção,
alguém que detém nas mãos o que se chama “a chave do cofre”, e entre os
dedos a caneta, para admitir ou demitir assessores e grande número de
funcionários em cargos de livre nomeação na administração.
Por conta da própria
realidade, um mandatário se obriga a dizer mais nãos do que sins, a
um número ilimitado de pessoas físicas e jurídicas.
Assim disse o Papa Bento XVI, até se
definindo como homem de um não fácil e franco comunicador, na maioria das vezes em sua vida
de dirigente da Igreja.
Sabemos que isto ocorre, porque a fraqueza humana é
inegável. Mormente no território político, os interesses se entrecruzam,
momento a momento.
A qualquer pretexto, embarcando na onda da generalização de
pré-conceituar que todos os políticos são suspeitos até prova em contrário,
inverte-se a disposição milenar do Direito, de que “toda pessoa é inocente
até prova em contrário”.
Há ainda outro dado preocupante, quando alguém da
área política é acusado. Quando se trata
de um homem ou mulher investido em cargo público, a imprensa – que também é um
poder, e que poder! – ao simples transcrever declarações de suspeita da honra
ou probidade levantada por esta ou
aquela pessoa, ou mesmo do próprio
Ministério Público (Promotoria de Justiça) – a
honra desse mandatário é exposta à execração pública, por conta de um julgamento prévio que jamais, ou muito
dificilmente , poderá ser revertido.
E ainda que revertidos, provadas
como improcedentes, as denúncias sempre oferecerão azo, em uma ou outra oportunidade,
coincidentemente em épocas de eleições por parte do interesse eleitoral de
eventuais adversários.
Ou quando outros
interesses, dos mesmos acusadores ou de
outras pessoas estiverem em jogo. Ademais, a imagem de uma pessoa pública tem
um raio de alcance bem maior do que a de
uma pessoa comum.
Por isso, até por uma questão matemática, o prejuízo da honra
de um homem público é tão grande quanto o número de pessoas que o conhecem, direta ou
indiretamente.
Num reexame necessário e
atual, esta questão foi levantada com vistas a disciplinar essa questão
delicada, até mesmo de coibir
declarações à imprensa por parte dos promotores públicos , pelo fato de a opinião pública, nem sempre saber
distinguir acusação de culpa com o
respectivo julgamento. Como se sabe, julgar
é atribuição específica dos juízes em suas várias instâncias do Poder judicial.
. A reação de alguns
integrantes do Ministério Público foi
denominar a prudência desta lei,
no resguardo de eventuais inocentes,
como Lei da Mordaça.
Na
forma da presente exposição, ficam evidenciados alguns pontos mais profundos
para se reconsiderar a questão. Também não se deduz de que a Justiça Comum seja
incompetente, no sentido menos feliz do termo, mas na busca de isenção
absoluta, sem influências de qualquer jaez, o foro especial para agentes
políticos nos parece ser o mais indicado.
* escritor e jornalista
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