05 de dezembro de 1966.
Minha querida Namorada,
Daqui a dois meses esta minha espera, até o momento infrutífera, completará aniversário. Custa-me, querida, entender a
razão de ser deste esperar indefinido, alimentado por migalhas de suas
promessas.
A cada vez
que lhe cobro uma decisão, sinto-me prensado num dilema jamais vivido. Não raro
me sacode um ímpeto de opções opostas: ou tudo ou nada. Mas nesses momentos, a
luz tímida da esperança se faz valer sobre a hipótese inconcebível de perde-la.
A ser
verdade que partir é morrer um pouco, em breve confirmarei esta impressão. Sou
obrigado a voltar para a minha terra. Longe do de mais precioso penso ter de
meu. Mas o que de mim restar aqui persistirá, em emoções e pensamentos.
Tanto
assim que se você firmar bem os seus olhos e os seus ouvidos, será possível ver
o meu fantasma a lhe falar do que você já se fez acostumada a ouvir. E verá,
com certeza, a minha silhueta a rondar o seu portão.
Se aqui
permanece, fico sujeito a prestar o serviço militar. A tal não me obrigo ao
voltar para o meu município de origem, onde há dispensa de incorporação.
Amo a
Pátria e não se trata de uma deserção, mas de uma opção tomada em tempo de paz
para a Nação, o que em nada me acusará a consciência por falta de patriotismo e
devoção à Pátria.
Ainda
assim, uma palavrinha sua seria suficiente para reter-me aqui, mas infelizmente
isso seria bom demais para ser verdade.
Voltarei
sempre que puder. Com frequência farei chegar-lhe as minhas cartas, das quais
você diz gostar. Tudo farei para que não me esqueça. Faça como farei no lembra-la
a cada dia, pois assim tem sido minha vida, desde quando você nela entrou pela porta da frente.
Beijos
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