O SILÊNCIO DA VIOLEIRA


Pelo seu modo simples de falar, pela espontaneidade nos gestos, puros ao feitio de sua alma cabocla, ela nos era familiar. Como alguém que a gente conhecesse a vida toda e não se cansasse de admirar, respeitar e venerar.. De coração valente, sua alma se blindou ao longo de tantas lutas, sem jamais recuar na esperança e sem nunca prescindir da sua viola. Da viola com que ela sabia fazer a mágica da beleza sem partituras, do som divino de seus rasqueados e guarânias, filhos legítimos do pujante Mato Grosso. Helena Meirelles foi fazer inveja aos anjos com seus ponteados eternos.


Interessante como essa artista parecia ignorar o próprio valor de sua genialidade, ao contar de forma singela toda a sua trajetória de vida, que também vale por uma sinfonia. O Mato Grosso do Sul, que nos deu Helena numa sexta-feira 13, não chorou sozinho no momento em que partiu para os pousos celestes a nossa inesquecível Primeira Dama Mundial da Viola. Ao Brasil inteiro, a todos quantos tenham ouvido suas músicas, foi impossível ficar indiferente à harmonia de seus acordes. Os causos que só ela sabia contar motivavam ricos e pobres, analfabetos e intelectuais.

A magia no manejo das cordas – que ela dominava de forma absoluta – encantava já da primeira vez os que a ouviam. E ouvem, pois seus discos aí estão para merecidamente imortalizá-la e nos trazer nas ondas da saudade o som que era só dela, que só ela sabia tirar no choro das cordas. No dia 29 de setembro de 2005, há poucos dias do reflorir da primavera, Helena Meirelles se encantou em definitivo, após encantar o mundo com sua presença e sua música. Tudo nela era forte, num molde brasileiro no que apresenta de melhor e mais peculiar.

Mesmo vivendo à margem da mídia, até mesmo fugindo do sucesso pelos recantos mais inusitados, sua música foi bater ponto nos Estados Unidos. Isto aos sessenta e nove anos de idade e de simplicidade, rusticidade até. Mas ainda que tardio, o sucesso chegou, tarde mas merecidamente. É de se esperar agora, que as emissoras de TV e rádio, no interesse de nossa brasilidade mais legítima, prestigiem-na, expondo em todas as cores e tons a sua viola inimitável.

Felizmente, ainda temos muito por que nos orgulhar do nosso país, quando uma pessoa como Helena Meirelles, a Dama da Viola, na sua humildade de berço e vida, mostra ao mundo o que temos de nosso. Reconhecida pela plebe e pelos nobres, de garis a intelectuais e estadistas, seu nome se insere no panteão de nossos maiores, e se faz numa estrela cantante num espaço bem nosso, onde já mora uma saudade. Saudade que dói mais fundo quando corto as estradas do pujante Estado do Mato Grosso.

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