A MORTE É MÚLTIPLA PARA QUEM FICA

Quando uma esposa parte...

JUNHO DE 2014.



        Faltava pouco para as 7 da manhã, do domingo de 8 de junho, quando trinou o telefone. 
      Recusei atender até que parasse de tocar. Na ingênua esperança de que fosse engano da parte de alguém que àquela hora, ainda fresca do dia, tivesse errado o número.
       
      Mas a campainha insistiu. Até parecia que o telefone tivesse algo a ver com uma má notícia e que se eu não o ouvisse o fato não teria acontecido.

      Todavia, não foi assim. Do outro lado da linha também havia emoção. Com esforço me disse o interlocutor: sua esposa faleceu às seis e meia  da manhã..

        Esse enunciado não é simplesmente o ponto final de uma história de vida de tantos anos, sob o mesmo teto. Mais sob o teto da casa do que na rua ou nas praças. 

          Nem mesmo restaurantes foram muitos. A vida era completa em  casa. Não precisava sair muito. Por isso saíamos muito pouco. Raramente. Às vezes para ir à missa ou na casa da filha, ou num supermercado fazer compras, ou quando não, em casa de minha mãe ou das irmãs dela.

         Há uma propriedade das mais cruéis nas palavras que designam a partida de uma pessoa e, mais ainda, de um ente amado. 

      As palavras MORREU, FALECEU, PARTIU etc, nos chicoteia a cada lembrança que nos vêm dessa pessoa compulsoriamente ausente.

      Na magia do coração, às vezes recompomos momentos felizes, alegres, até mesmo irreverentes e engraçados, daquela que comigo partilhou derrotas e vitórias, risos e lágrimas, mas sempre se manteve como uma fortaleza.

      E eis que a força de uma palavra também traz sua magia de transformação. FORTALEZA. Ninguém tem o direito de fazer de uma FORTALEZA, um MURO DE LAMENTAÇÕES.

      ANTONIA CARRERO GRANDINI viveu de forma digna. Mais que um ombro, sempre foi um colo para tantas e tantas pessoas: pobres ou remediadas, crentes ou ateus, ricas e poderosas.

     Que o digam os seus alunos, colegas de trabalho e todos quantos que tiveram a ventura de conhecê-la.  Ontem foi sua missa de Sétimo Dia na Igreja do Senhor Bom Jesus. 

    E na cerimônia sentia-a feliz pela missão cumprida. Por ter lutado contra a própria morte, sem jamais mostrar qualquer medo da vida. 

     Assim, quando nas minhas horas de solidão e silêncio na casa em que partilhamos tão bela convivência, e em meu coração ecoar aquelas palavras mentirosas (de falecimento ou morte), já não me deixarei levar por elas nem me prenderei em seu falso significado.
     
    TONINHA viverá sempre por tudo quanto fez de bom. Por legar um mundo melhor a muitos jovens, aos quais ela deixa para a  continuidade da luta. 

     Se estivesse nela, tenho certeza, que jamais seria de seu desejo que quem quer que seja sofresse pela sua partida. 

    Ela era assim. E assim permanecerá, no seio do Altíssimo, a velar por nós. Sua falta será sentida sempre, mas o céu se regozijou  porque,  a partir de 8 de junho de 2014, passou a  contar entre suas hostes com um Anjo a mais.











        





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