Eudóxio "virou bicho" no Bar de um Português
Já delineei alguns traços do personagem que ora protagoniza estas cenas num bar de Ourinhos: Eudóxio da Silva Mattos, mais conhecido por Dócio, em Ipaussu e região. Ele peregrinava por todos os diretórios da Região do Vale do Paranapanema e sempre era figura carimbada nas excursões partidárias. A princípio do MDB, depois do PMDB, sucessor da sigla que ele chamava de "Mandabrasa".
O Diretório Municipal do PMDB de Ipaussu era uma referência regional. A sede, de direito e de fato, era a Praça Dr. Raphael de Souza, num hotel, que até hoje existe, reformado, remodelado e adequado aos novos tempos.
Aconteceu, pois, que Dócio, o perpétuo delegado do PMDB de Ipaussu, foi solicitado por Espiridião Cury, então candidato a prefeito de Ourinhos (cidade vizinha a 30 km de Ipaussu) para reunir seus militantes a fim de reunir maior número de pessoas numa reunião partidária do diretório peemedebista daquele município.
A reunião aconteceu à noite. Espiridião iria lançar sua candidatura a prefeito e, dado o porte de Ourinhos como sede de sub-região, pretendia já de início estabelecer uma ponte com os municípios vizinhos, bem como dar azo para que, com aquela movimentação, a Imprensa também se fizesse presente e divulgasse o seu nome.
O encontro foi na sede da Câmara de Vereadores de Ourinhos, nas antigas instalações, em uma sobreloja, montada sobre o bar, que hoje ocupa o tema deste blog.
Se não me trai a memória, esse encontro se deu num noite bastante fria de julho ao agosto de 1982. Dócio se deu pressa, após subir a escadaria do então Paço Legislativo Ourinhense, em cumprimentar e abraçar bem depressa os correligionários, para o quanto antes descer e ir ter ao bar no térreo.
O diálogo entre o novel freguês e o dono do Bar, transcorreu mais ou menos assim?
- Boa noite - disse Eudóxio, com sua voz costumeiramente clara e enérgica -. Eu quero um cobertor de copo. Que como deve saber, é o Conhaque Palhinha.
- Sinto muito pelo senhor, mas o Palhinha não vou ter. A propósito, é uma marca de bebida muito antiga e vejo mais a preferência dos fregueses pelo Conhaque Presidente.
Colocando o dedo indicador à altura do pomo de Adão, Dócio sapecou:
- De "presidente" eu estou até aqui, disse enfatizando a fala num aperto do indicador sobre o pescoço. - Se tiver Dreher eu até bebo, senão vou procurar outro lugar para beber.
- Oras, tenho aqui o Deher e vou servi-lo com muito gosto. Mas o senhor me parece revoltado, de sangue quente. O amigo obra em quê?
- Obro contra essa ditadura fascista. Nesses "malufs" da vida ! Tá vendo a cor do meu cabelo. Até na raiz é vermelho - disse o freguês passando as mãos pelo cabelo ruivo.
- Ora, ora. Mas não vamos brigar por isso. Já entendi. É um político.
- E do PMDB de ponta a ponta (a eleição era para governador, prefeito, deputados e vereadores, com Franco Montoro na liderança das pesquisas).
- Ó, Ó, Oh ! Sabe que o amigo é um prato cheio para o Maluf? - disse o português. E prosseguiu: - Maluf compra todo mundo, o senhor, pelo que vejo, valorizado assim, terá preço um pouco mais alto, mas não vai escapar de ser seduzido por alguns cobres.
- Oras, seu Portuga duma figa - disse Dócio exaltado. E prosseguiu: "eu vim aqui para falar de sua terra. Do bom Vinho do Porto. Do bacalhau português que eu até acho melhor que da Noruega. Do azeite puro de oliva e tantos fados que já dancei com tantas damas em minha juventude. Mas, pela sua posição venal e, pior ainda, julgando que todo mundo está à venda como os seus secos e molhados, eu vou te dizer isto:
- Pega a sua mala, portuga e volte de onde você veio. O Brasil é a Santa Casa do mundo,. Tudo que é estrangeiro vem para cá e depois dá coices no prato que comeu.
Falava e já bebia a terceira ou quarta dose de conhaque. E foi desfiando um rosário de impropérios capaz de fazer aflorar qualquer patriotismo lusitano, mesmo em terras de "mares nunca dantes navegados".
Arrematando seus protestos, Dócio gritou tão alto esta frase "EU SOU AQUELA COISA QUE NÃO DOBRA!
Tal foi a força dos pulmões para evocar essa expressão que era um bordão costumeiro, eis que,
- B U M ! cai abraçado a uma cadeira e a custo o português o reanimou e foi o que bastou para chegarem os amigos e correligionários: Hélio Brizola, Ataíde Bento, Espiridião, Vitorinho Maistro e o bar superlotou e, tendo Espiridião vencido a indicação para prefeito, a festa continuou atéaltas horas, , com o Dócio metendo o pau na ditadura, no Maluf e, para completar, no distante e inofensivo Portugal, a gritar em altos e consecutivos brados
É MONTORO NA TESTA. É PMDB DE PONTA A PONTA.
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