Poema 333 Noiva do Vento

NOIVA DO VENTO

Bem cedo chegou,
Alva, mansa e linda,
Quando a aurora ainda
Sequer despontou,
Ela veio esguia
Sobre a noite que ia
Em breve ser finda.

Em seu colo trouxe
E espalhou com os dedos
Finos, transparentes,
Uma canção doce
Sobre os arvoredos
E os telhados quentes.

Com seus membros lassos,
Foi descalça e boa
A lavar cansaços
Da rua sem passos
Naqueles espaços
Fez-se  em garoa.

Branca se esvoaça
A pisar a rua,
Em desfile, nua,
Com o vento enlaça,
Avança e recua
E cantando passa.

Garoa-garota,
Em nudez marota,
Surpreendeu o estio,
Ganha em sua rota
Do vento indiscreto
A ecoar no concreto
Um longo assobio.

Num sopro ciumento
Vestiu-a de folhas,
Inteiro se molha
Pra lograr o intento,
De saciar o cio,
Com ela fugiu
Para o firmamento.

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