Primeira Parada
Neste nosso passeio, ao roncar dos motores da
locomotiva, embrenhamos por um túnel iluminado, aparentemente infinito,
descansando nossos olhos na paisagem em derredor, às vezes com a vegetação machucada pelas intempéries, mas no geral as
tintas da exuberância predominam no cenário.
Tudo está muito claro à nossa volta. A luz está a
nos mostrar que estamos protegidos, no interior da montanha imensa, por um envoltório de aço nas paredes do amplo
túnel pelo qual o trem vai avançando
devagar.
E aqui a conversa passa a ser muito séria. No
interior deste rochedo, cuja portentosa estrutura sugere segurança, o trem vai
fazer a primeira parada. Nesta fortaleza, parte feita pela Natureza e parte,
por mãos humanas, vamos conversar sobre um princípio da verdade, tão ou mais
sólido do que o próprio cenário onde estamos refugiados dos bulícios do mundo
lá de fora.
Estranho Personagem
O túnel forma uma perfeita câmara de eco. Isto
permitirá ouvir a voz clara e forte de um eremita. A chusma de passageiros se
espreme pelas portas de saída do trem
que está em silêncio. Todos se mostram
curiosos por esta primeira parada para ouvir aquele habitante que emerge
de uma caverna incrustada no interior daquele penedo.
Tudo conforme previsto no roteiro, exceto que o
mestre, em lugar das sandálias calça um par de tamancos. Também ninguém
esperava encontrar o filósofo prometido pelo guia turístico vestindo uma calça
azul e desbotada com barras esgarçadas. Menos ainda que, em vez de um austero
manto, ele cobrisse o peito apenas com
uma camiseta branca, sem mangas. Somente
a barba, negra como seus olhos que pareciam fuzilar à distância, lhe emprestava
um certo tom exterior de sabedoria e espiritualidade.
O Mistério Maior
E assim, ali mesmo, ao ar livre, em pé sobre uma enorme pedra, vamos ouvir as palavras de nosso primeiro
guru:
“Galera, eu
sei que o bicho tá pegando. Eu sei que não é mole para cada um de vocês ter que
brigar sempre em desvantagem para
descolar o rango, vestir um pano
à prestação, morar à prestação, e ainda assim levar uma vida que não tá
com nada.
Pular cedo,
pegar trilho e sentir a galera se espremendo. Ou pular num trem metropolitano !
Aí, meus maninhos e maninhas, o bicho pega solto e o caldo
engrossa. Espreme daqui, espreme de lá,
até chegar para o trampo e repetir o mesmo barato do dia anterior,
quando aconteceu a mesma coisa e no fim não aconteceu nada, porque a vida
passou a ser um tremendo bagulho.
Mas, entre
vocês também se encontram pessoas ricas, gente que comprou tudo, ou quase tudo
que a grana pode comprar e, mesmo assim,
está com a cuca cheia de grilos.
Pô, esse
barato tá errado, meu! O cara dá um duro e continua sem cascalho. E continua
trabalhando só por trabalhar. Outro maninho tem grana à beça pra deitar o
cabelo para a Europa, Estados Unidos e
os cambaus, e também fica grilado, numa tremenda fossa, sem tesão para curtir o
barato da vida.
Gente, tem
coisa errada. E a gente tem que descobrir que o
barato não deve nem pode ser
esse. O neguinho fica embaçando,
embaçando, de repente o bicho estica os membros, veste o pijama de pau e aí o bicho come tudo que é
do homem.
Se tem trampo,
o trampo cansa. Se não tiver trampo não
tem nem direito a não ter nada. Essa configuração tá braba, meu!
Mas a galera
não se move. E quando digo pra se mover não é partir pro pau, não. Isso já era,
malandro. Tem mais é que usar a massa cinzenta, levantar dois dedos pra
cima e acreditar no lema Paz e Amor,
bicho. Só que o cara quando fala isso dá uma de currupaco, repetindo as coisas
sem ter noção do barato que tá dizendo.
Bem, galera, o
que eu queria era bater pra vocês uns macetes, ainda que estou meio novato
nessa manha de sobrevivência, mas já levei muita porrada e cansei de só viver
fazendo porralouquice, porque descobri que tem muita coisa legal, tem muita
gente legal e sempre tem um caminho muito da hora para a gente seguir quando
encara um barato novo e não se conforma em viver como barata tonta, dando banda
de revoltado e deixando tudo pra depois da missa, sem dar conta de que o
momento que está pintando agora é o que conta.
Façam aqui uma
promessa pra valer: de nunca mais olhar para o dia que já se foi, nem tentar
adivinhar o dia que vai pintar amanhã.
Vou bater para vocês, em linguagem de gente, uma
mensagem que copiei há algum tempo de um rabisco moderno e espero que esta seja
a primeira mensagem para curtir a vida numa boa, sem incucações e sem grilos.
(continua) Se gostar, compartilhe. Abraço a todos. Geraldo Generoso
(continua) Se gostar, compartilhe. Abraço a todos. Geraldo Generoso
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