BIOGRAFIA DIALOGADA - MAGNO ALVES - 35 - 45

Generoso: - Sem dúvida. E ainda há o salário-desemprego, que esse trabalhador(a)  vai continuar percebendo  por alguns meses.



Magno: Certo. Só que é aí que  começa o problema, e a pessoa só vai dar por isso em hora imprópria e retardada.

Por conta desse expediente de dispor de uma certa quantia em dinheiro, e, como você bem lembrou, do salário-desemprego, a maioria entre os demitidos só dá realmente  conta de que sua situação está crítica quando esses pequenos recursos se acabarem por completo.

 Aí já é tarde, ou, quando não, a solução é menos motivadora e mais difícil de se pôr em prática. 

Porque agindo assim, adiando o enfrentamento da situação, essa pessoa  perdeu mais que o emprego,  pois perdeu  o foco essencial da própria  vida.
Qual é o foco essencial da existência normal de cada um de nós ?  - é fazer por merecê-la pelo exercício de alguma ocupação.




Generoso: - Pelo que entendo, você quer dizer que esses expedientes de seguridade muitas vezes deixa a pessoa acomodada. Se ela espera um emprego, não deixa de estar contando com a sorte, e sorte, pelo que você bem disse, não gosta de ninguém que dependa dela.

Magno: Isso mesmo. Vamos imaginar que você perca o emprego e por  essa causa, que na verdade é hoje muito comum, resolva sentar na área de sua casa com sua mulher e filhos.
Ali você se senta numa cadeira e fica falando só sobre isso. Ali você persiste retratando as conseqüências  que irão enfrentar dali pra frente.
 E o que é pior: devido ao seu estado emocional, de baixa estima (pois perder o emprego não deixa de ser um pe no saco), você ainda espelha a situação com lentes de aumento, dramatizando ainda mais o que já é um drama na sua vida e na vida de seus familiares. 

Avalie se há clima pior do que esse?
Alguns estudiosos de psicologia do trabalho chegam a comparar, de fato, a perda do emprego como um sentimento próximo ao luto.
 Mas tanto o luto quanto o perder o emprego são coisas que ocorrem. Não há como abolir isto por decreto. Nem mesmo por decreto divino, porque se esse fosse o caminho Deus já teria dito: faça-se emprego para todos. No entanto, ocupação e trabalho não faltam. Nem mesmo em épocas de guerras o trabalho deixa de existir.
E há o mandamento de Cristo bem explícito para quem quiser ler: “Trabalhai, porque Eu e o Pai continuamos trabalhando”.

Uma condição nova sempre tem duas alternativas :- ou melhora ou piora. Isto,  em grande parte, ou senão mesmo na totalidade – depende do que cada um fizer diante dessa  nova situação.
Generoso: - No correr de nossa entrevista você falou sobre o veneno do RESSENTIMENTO. Isto acontece com quem perde o emprego, quase que de forma inevitável. Ele vai pensar que pode ter sido má vontade do chefe, ou mesmo perseguição, escolhendo-o entre os demitidos etc. Com esse estado ressentido essa pessoa já estará de mal com a vida e consigo mesma para ir avante em ocupar-se. Ressentindo-se, vivendo o que passou de desagradável e, pior ainda, com sombrias expectativas para um futuro ignorado. Acredito também, Magno – e caros leitores -, que poderíamos enfocar num mesmo aspecto, o desempregado e aquele comerciante ou industrial que se quebrou, faliu e se lança ao desespero de reconstruir a própria vida.

Magno:- Sim, são equivalentes, porque tanto o profissional desempregado quanto o comerciante falido sentem a sensação de não ter mais o seu lugar no mundo.
Mas a avaliação que deve contar realmente,é aquela que a própria pessoa faz de si mesma. Claro que a primeira providência de nosso ego é transferir para outros a culpa de nossos insucessos.
 Em parte, pode ser que este ou aquele chefe, ou este ou aquele cliente nos tenha acarretado prejuízos consideráveis.
 Mas de que adiantará remoer esses sentimentos negativos, quando todos sabemos que o câmbio da  vida não tem marcha à ré?
Ocupação sempre existe, o mundo está ansioso por novos negócios, tanto que isto move a mídia e movimenta a alma da nossa civilização. Daí que preconizo, com todas as letras, para a pessoa agir.
Claro que é muito bom pensar em cada passo, mas sempre manter a mente ocupada com o melhor, aventando possibilidades a fim de tirar o melhor proveito, mesmo das situações mais complicadas.
Para cada problema, a solução está dentro de nós mesmos, porque nós, unicamente nós, somos os artífices de nosso destino.
Um dos grandes problemas de quem sofre um insucesso – seja ele profissional ou financeiro – é confinar-se em sua própria casa.


Generoso: A tendência natural, e menos recomendável,  é a pessoa  procurar eco para as próprias lamentações. Quando as lamentações se multiplicam são (não tenho dúvida) como orações às avessas.

 A ser verdade que a oração tem poder, não há menos poder (para o infortúnio) nas murmurações e reclamações, ainda que aparentemente sejam verdadeiras. Ainda que verdadeiras, são nocivas, e são as únicas verdades que não interessam a ninguém dar guarida no coração. 

Acho que a união com outras mentes é muito importante, pois é curioso observar no evangelho de Cristo, de forma categórica, a promessa de que certos efeitos benéficos e até maravilhosos, se fazem notar sempre que duas ou mais pessoas estiverem reunidas em seu nome. 

Pode-se notar que Ele nunca prometeu que os mesmos ansiados resultados ocorrerão quando alguém atua sozinho. Então, cumpre observar que a família de alguém que passa pela provação da inadimplência (termo moderno e mais suave) ou desemprego, tem um papel importantíssimo em entender essa condição e, com muito tato, apoiar esse chefe de família, sem, no entanto, transformar-se em câmara de eco para suas explanações sobre o próprio infortúnio.

Magno :- Quando falarmos sobre os 4 pilares da vida, nele destacamos a Família como um dos suportes mais eficientes para a estabilidade e felicidade de um ser humano.
Como nós estamos num bate papo, os assuntos estão pipocando, e isto cria uma conotação de espontaneidade com mais autenticidade para o leitor. Não podemos, contudo, fugir da proposta em que distinguimos, com todas as letras, a pessoa conformada com o desemprego, com aquela disposta a ocupar-se.

Assim, quando abordei o assunto AÇÃO POSITIVA, foi exatamente com o propósito de sugerir que a pessoa dê uma sacudida na poeira e dê a volta por cima.
A ação positiva é você levantar cedo e fazer qualquer coisa que apareça. O espírito da manhã, no seu  ato cósmico tocante para o espírito, que é o renascer do sol, traz uma vibração propícia à análise da vida. O momento também é favorecido porque, pelo sono da noite, o cérebro está mais descansado e a mente encontra-se mais arejada.

A pessoa toma de uma caneta, ou se preferir senta-se ao computador ou diante de uma máquina de escrever, e registra sua situação, sem tirar nem pôr, de como ele a está sentindo.
Mas procura fazer isto de forma objetiva, sem sentimentalismos. Se houver emoção nessa tarefa, que seja emoção positiva pela sensação de se estar traçando um novo caminho.

Generoso: Esta sugestão seria para quem se encontra desempregado. Desculpe: desocupado profissionalmente.

Magno: - Vale para todas as pessoas, mas especialmente para aquelas nessa condição que você mencionou.
 Nesse exame, ela deve tentar ocupar a mente ocupando-se de números, com eles efetuando alguns cálculos relativos à sua condição. Por exemplo: “se eu dispuser de 20 mil reais, posso investir numa fábrica de blocos de cimento”. Analiso em seguida: “quantos blocos posso fabricar por dia? “ e assim por diante. 

A fábrica de blocos é um mero exemplo, cada qual sabe onde o sapato aperta e como desenlaçar o cadarço para aliviar-se.  O bom de tudo isto é que esta atitude e atividade força essa área do cérebro, que é a área da lógica, da matemática, onde tudo é mais objetivo. Ao mesmo tempo, a mente se organiza e desencadeia sensações de expectativas, como sempre ocorre com qualquer um de nós.

         Generoso: - Isto seria um procedimento que precederia a Meditação propriamente dita?

         Magno: - Sim, seria como dar partida num carro a fim de esquentar o motor. A lógica, a realidade, a objetividade não pode estar ausente desse processo. Esta preparação é necessária e este passo  precisa ser observado.

         Generoso: - Aqui você procura situar o ego de quem vai meditar num tablado real. Ao mesmo tempo, com este modo de se preparar para uma imersão nas profundezas do espírito, tal postura será diferente de uma alienação indesejada. De nada adianta alhear-se do mundo por alguns momento, imaginar tudo cor de rosa, ignorando a realidade circundante. Nenhum ser humano poderá lograr qualquer resultado, simplesmente usando a postura do avestruz em face de uma tempestade. Isto é, não vai mudar em nada o panorama da vida de ninguém fazer como essa grande ave que enterra a cabeça na areia e faz de conta que tudo está em santa paz. Sempre que alguém for subir uma escada, é inevitável que ela parta do chão. Até com a Torre de Babel podemos ter certeza que isto foi inevitável.

Magno: Por outras palavras, grande é o número de pessoas que não alcançam resultados satisfatórios numa meditação por que falta-lhes a base de apoio real. Falta-lhes o estofo prático. Falta-lhes o chão para que possam lançar-se ao vôo das próprias aspirações.

Generoso: - Seria como pôr as cartas na mesa e depois deixar a mente jogar pela intuição?

Magno: - É botar as cartas na mesa da mente mas de forma ordenada. O subsconsciente não responde a perguntas mal formuladas. Não atende a questões vagas, sem uma configuração de propostas. Quem pode diagnosticar a vida pessoal, financeira, comercial, profissional, social, conjugal etc., de uma pessoa, em primeiro lugar está ela mesma como mais apta a essa tarefa.

 Nenhum conselheiro dispõe de receita pronta para um determinado indivíduo, porque quem sabe dos problemas desse indivíduo, na superfície e na profundidade, melhor do que ninguém, é ele próprio. Concorda?

Generoso: - Seria, então nesse primeiro passo, uma semeadura de algum desejo específico. A Meditação seria a maturação e colheita desses resultados. Pelo que você afirma, este passo se faz necessário para anteceder a VISUALIZAÇÃO do que a pessoa deseja obter.

Magno: - Visualização, essa é a definição mais correta desta proposta, do que o termo meditação propriamente dita. A palavra meditação lembra monge, claustro, mosteiro, cela etc. Embora a visualização não deixe de ser uma forma de meditar. Mas o que se propõe é encurtar o caminho na busca de um resultado predeterminado. Em síntese, na visualização, a pessoa vai esculpir o desejo. Mas nessa prévia de arrolar cálculos e análises, ela está tirando as medidas do próprio sonho. Correto?

Generoso: - Em tudo, percebo que você, Magno, procura arrumar um meio facilitador, ou por outras palavras, expõe dificuldades com que você se deparou em sua própria trajetória pessoal e profissional.

Magno: - Pela experiência  que vivi, e principalmente pelas formas de pensar e agir que não deram certo, que descobri certos atalhos capazes de chegar a resultados mais eficazes.
 Ou, quando não, foi possível  obter efeitos desejados mais depressa, ainda que o primeiro mandamento de qualquer autor de auto-ajuda, a quem quer que o leia ou ouça, deve ser o de manter o quanto possível uma atitude de paciência e de persistência em esperar. Toda espera é demorada. Toda expectativa viola nossa integridade. Mas é preciso administrá-la.


Generoso: - Não podemos perder de vista que nosso tema é cultivar a AÇÃO POSITIVA.

Magno: - Acho que a esta altura o leitor ou leitora já entendeu grande parte desse conteúdo. A ação positiva chacoalha o corpo e a mente.
Mas é isto mesmo: só que estamos partindo do nascedouro da ação – que é o preparo necessário para agir com inteligência e objetividade, ao mesmo tempo  em que acende a motivação.

 Depois disso, e somente depois, vem a visualização do projeto.
Ato contínuo, o cultivo da ação positiva diária vai selar a validade do pensamento empreendedor.
Não é recomendável, em hipótese alguma, dar um salto nesse processo. Posso falar de cadeira sobre esses detalhes, porque muitas vezes quase desanimei de certas tentativas nesse sentido.

 E esta é, sem dúvida, uma das razões que leva algumas  pessoas a duvidar da eficácia de um mergulho interior bem feito.
Se aquele ou aquela que nos lê, seguir estes procedimentos,vai descobrir em seu interior um caudal enorme de energias adormecidas.
 É a velha história, uma coisa puxa outra.
Nisto se resume a proposta deste  trabalho : ver onde e por quê certas práticas tão propaladas não deram certo com grande número de praticantes.

Oras, para tudo existe um caminho certo, e os detalhes é que fazem a diferença. Na verdade esta é uma proposta de administrar melhor a relação que cada um tem que manter consigo mesmo.

Está mais do que provado que o universo individual de cada um é na verdade uma hospedaria de muitas pessoas e, ainda por cima, pessoas que se diferem umas das outras.
E o que é pior, não raro, essas pessoas lutam entre si, não combinam, não se afinizam. Oras, toda casa dividida cedo ou tarde acaba ruindo.

Generoso: A propósito,  o psiquiatra espanhol, da Universidade de Barcelona,  Myra e Lopez, bem classificou a psique humana como sendo formada de  um misto de anjo e demônio. E concluiu que não somos nem uma coisa nem outra, mas um pouco de cada um.
Assim, espero que as pessoas entendam que é muito fácil lidar com o anjo bom de sua personalidade, mas é também preciso confrontar-se com os próprios fantasmas que não se fazem de rogado para tentar ocupar um espaço nas suas mentes.

Magno: - Essa é uma dualidade necessária para a própria evolução do mundo e do universo. Tudo se resume numa questão de equilíbrio. Ainda que em forma de um breve parênteses, poderíamos aqui explicar aquela questão do direcionamento da fúria, ou raiva – já que falamos em fantasmas ou mesmo os demônios interiores que tanto atormentam as pessoas.

Generoso: - Há um direcionamento válido até para as inevitáveis emoções negativas. E aqui, Magno, poderíamos considerar, numa palavra que você gosta muito, o foco de ação vital de uma pessoa, como fundamental.

Magno: - Sim, direcionamento é um foco. Mas vamos esmiuçar melhor essa questão, porque é muito importante .Faz uma diferença da água para o vinho. Nós temos batido,  igualmente, na tese de que a AUTO ESTIMA é fundamental. Isto você tem presenciado em minhas palestras e conferências pelo Brasil afora.

Generoso: - Tanto assim que até transcrevemos muitos dos questionamentos que alguns ouvintes de suas palestras lhe apresentaram. Felizmente, você foi incisivo e fez prevalecer o seu ponto de vista em benefício de tais pessoas e agora, por extensão, aos nossos leitores.

 Mas vamos supor que alguém está desafortunado, temporariamente insatisfeito – já que felizmente nenhuma insatisfação é eterna - , creio eu que é mais do que normal que ela fique insatisfeita...


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