MAGNO ALVES (BIOGRAFIA DIALOGADA)


Magno Alves em Biografia Dialogada com Geraldo Generoso

Falando nisso, eu me lembro de um poema que você escreveu há algum tempo, que falava sobre se dar essa chance a si mesmo para ver o mundo por inteiro antes de se ir embora da vida.

Generoso: Sim. É o poema ANTES DE PARTIR, que compus pensando exatamente nessa situação em que a pessoa se desgosta da vida e fica na expectativa do próprio fim.

Magno:  Acho que esse texto deve fazer parte deste livro. Pela forma com que conclama as pessoas a insistir no próprio sonho, expresso em forma de versos livres, mas com cadência, talvez possa mostrar, pela ótica poética, que a vida sempre tem algo novo a nos oferecer.

Geraldo Generoso -2017


Se não te encantas por mais nada nesta vida,
Saiba que ainda não morreu a última rosa,
Apenas ocultou-se nas dobras do inverno,
Para aos beijos do sol, numa explosão de luz,
Ressurgir perfumando a primavera em flor.

Se agora a solidão mortifica a tua alma,
Pense ao menos tanger a última canção
Que ainda não saiu do bojo de tua lira;
Adie o quanto possa a hora da partida.
O passaredo em bando ainda não ensaiou
O último gorjeio para o entardecer.

Se pesadelos sobre ti se desabaram,
Destroçando esperanças por acontecer,
Espera só um pouco mais, dê um tempo ao sol
Para trazer a aurora dos confins da noite
Sobre o colo azul do céu inteiramente novo.
Não penses hoje em ir embora deste mundo,
Antes que nos jardins todas as rosas floresçam;

Antes que a imensa orquestra  de que é feita a vida
Te enseje ouvir então seus últimos acordes!
Fique mais um pouco, não deixe este cenário,
Antes que o derradeiro pássaro da tarde
Venha pousar as suas asas em gorjeios
Sobre o último galho do último silêncio!

Não vá embora ! Não vá embora ! Não vá embora
Antes que todos  os teus sonhos aconteçam.





Generoso : Muitas pessoas gostaram desse poema. Ele foi composto exatamente com essa intenção de que as pessoas enxerguem o dia seguinte como um ponto de interrogação de ouro em sua vida. Magno, dizem que ressentimento faz a pessoa ser endividada. Você acha que isto tem alguma base lógica?

Magno : Olha, o que sei de verdadeiro é que o ressentimento é um verdadeiro saco de chumbo que a pessoa carrega às costas. Ressentimento é uma vingança reprimida. E você quer sentimento pior do que a vingança? Pior que a vingança, só o que vem depois dela: o remorso. Mas vamos por nós mesmos analisar o quanto sofre uma pessoa ressentida.

Generoso: É também, creio eu, uma forma de imaturidade, de não entender que a vida e as pessoas tem seus pontos positivos e seus pontos negativos.

Magno : Sim. Mas como eu disse, vamos analisar por nós mesmos, pois quando mais jovem não posso negar que também agasalhei certos ressentimentos e vi o quanto mal me fizeram. A partir do dia que apaguei certos ressentimentos que eu remoia gratuitamente, comecei a escalada para uma seqüência de vitórias. Principalmente no campo financeiro. Não sei, com certeza, se há alguma relação entre ressentir-se e endividar-se, mas o que fiquei sabendo foi que o ressentimento só  traz conseqüências infelizes.

Generoso : Quanto a isto não resta dúvida, mas também vamos parar naquilo que você disse mais ou menos no começo deste livro-entrevista: a pessoa habitua-se com isso. Pega o costume de cultivar magos e remoê-las, como alguém que vai arrancando sucessivamente as cascas das feridas, tão logo as mesmas comecem a cicatrizar-se.

Magno : Muito bem. É isso mesmo. Esse sentimento de ficar remoendo mágoas para com esta ou aquela pessoa é um hábito, sim, que vai-se enraizando na mente da pessoa sem que ela perceba. É preciso estar muito atento para esse detalhe.

GenerosoA palavra ressentimento quer dizer sentir (sofrer) duas vezes.  Mesmo as pessoas que acreditam que o sofrimento age como um purificador da vida atual,  para purgarmos eventuais erros de vidas passadas, são unânimes em afirmar que basta sofrer uma vez só para se aprender a lição que nos faltou em vidas anteriores.

Magno : Mas como ficou dito, há pessoas que cultivam esse hábito, mesmo tendo consciência, a cada passo, de quanto ele as prejudica. Por que isto acontece?  Por ter incorporado esse modo de ser à sua personalidade. E vira um vício cujo preço a pagar é elevado.  Não se requer que a pessoa se torne num autômato, sem sensibilidade, mas para o seu próprio bem deve aprender a sentir uma única vez as coisas desagradáveis que lhe acontecem. Que sirvam, quando muito, como lição e experiência mas para sua mente objetiva, sem sentimentalismos doentios.

Generoso : Então, até certo ponto, você acha que devemos ser indiferentes a muitos fatos de nossa vida?

Magno : Analise,  por você mesmo, como a sua vida teria sido diferente, para melhor, se você tivesse se mantido indiferente a muitos atos de outrem para com você. Sempre que vemos alguém que sabe se colocar acima desses sentimentos, estamos diante de um espírito superior. O cultivo de uma certa indiferença ( não descaso) dá nobreza à alma e engrandece o caráter.

Generoso:  Apesar que a vida, como um sistema de trocas as mais diversas, sempre acaba por deixar alguém contente e alguém insatisfeito. Porque somente Deus doa, entre os seres humanos há apenas trocas. Por conta disso, sempre sobra alguma vantagem para alguém, em desvantagem para outro.

Magno :  Mas cultivar o ressentimento é aumentar a própria desvantagem sofrida. Por essa razão é que concordo com o sábio sufi, indiano, HAZHAT YNAIAT KAN, quando ele pregava a indiferença como um meio de melhor convivência na sociedade. Isto também é válido para pessoas muito crédulas, ingênuas, simplórias. Acreditam em tudo o que ouvem e, pior ainda, sofrem muito com o que vêem e ouvem.

Generoso: Sim, é preciso filtrar não só o que ouvimos, como também calibar nossa sensibilidade a fim de não embarcar em toda onda que se nos apresente.

Magno: O mais importante é que para virar uma página de sua vida, o único meio é não querer insistir na leitura da página que você já virou. Você pode ter experimentado as suas mágoas e desapontamentos. Todos nós, sem exceção,  já passamos por isto. Mas como dizia o imortal poeta libanês, Gibran Khalil Gibran : “aquele que se deixa acorrentar pelo passado não pode disputar com o presente”.

Generoso: Magno, será que os leitores entenderão o que você quer exatamente significar pela prática da INDIFERENÇA?
Magno: Bem lembrado. Precisamos ser mais claros com esta recomendação. Quando eu digo que a pessoa deve ser um pouco indiferente, é exatamente pela falta de uma palavra mais simples que essa. O termo exato seria, talvez, seja equânime. Mas aí você me faz o favor, pega aquele dicionário ali e vamos registrar, textualmente para o leitor, o que isto significa.

Generoso: Sim. Equânime é aquele ou aquela que tem equanimidade. [Do lat. aequanimitate.]
S. f.
 1.     Igualdade de ânimo tanto na desgraça quanto na prosperidade.
 2.     Serenidade de espírito; moderação.
Eqüidade em julgar; imparcialidade, retidão, eqüidade. 

Magno: O perdão que devemos a nós mesmos, na questão da auto-estima, é aquele que devemos igualmente dar aos demais. Você nunca verá uma pessoa de sucesso de lamuriando, reclamando – nem sequer mentalmente – contra este ou aquele. Já constatei na prática, por mim mesmo e por pessoas  de meu convívio, como a sorte muda a partir do instante que se deixa de remoer sobre coisas e pessoas que nos infelicitaram.

Além disso, o ressentido traz estampado na face algo que espanta as pessoas de seu redor. E os negócios bons lá se vão escorrendo pelo ralo e o infeliz sente o quanto o repelem e assim, num círculo vicioso, passa a se ressentir ainda mais. Aí, sim, vem o desapontamento pela vida que até parece justificável aos seus próprios olhos.

Generoso :  É.. .isto gera um efeito desastroso para qualquer pessoa. Pois em sociedade, cada qual vende uma imagem de si próprio. Nem é preciso dizer que não há lugar para pessoas viciadas em ressentimento.

Magno :  O mais difícil, como sempre enfatizo, é a pessoa dar aquela brecada, entrar dentro de si mesma e se examinar com um critério objetivo. Em certo grau, ou em certos momentos, todos nós agimos sem usar cem por cento de nossa sanidade. 

Generoso: É até compreensível que isto aconteça, pois somos seres humanos limitados, com 5 bilhões de células pensantes, mas nem sempre fazemos uso sequer de uma mínima porção desse capital.

Magno:  Mas isto é outra história e todo mundo sabe. Para consolo dos que procuram a reinvenção da roda, tenho a dizer que ninguém deve se preocupar em não usar todos os recursos da mente. Ninguém até hoje foi capaz dessa proeza. Nem mesmo do uso pleno do cérebro. O mais importante de tudo é deixar fluir a existência da forma mais natural possível.



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Generoso: Um dos capítulos, talvez o mais  importante deste nosso livro será aquele onde se enfatiza  o assunto AÇÃO POSITIVA. Acho que esse é o caminho e se trata de uma postura nova, mas eficaz, que qualquer um poderá constatar no próprio dia a dia com resultados quase que imediatos.



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