MAGNO (Biografia Dialogada) 35-40






Geraldo Generoso in Magno Alves - O Pulo do Gato
Quando o nosso velho automóvel pé de bode não pegava na manivela (a partida dele era ainda por esse meio), a gente fazia o mesmo. Dava um tranco, ele saía dando uns pulos e o motor funcionava. É o mesmo processo para alguém que está insistindo em pensar positivo mas precisa de um tranco para “pegar na partida”. Ou mesmo de um reboque provisório para sair do atoleiro.

Generoso: Isto quer dizer, conceituando essa questão, que as AÇÕES também alteram o curso dos pensamentos de uma pessoa. Até acrescentaria que, uma vez posta em prática, o certo é ir até o fim, sem ficar tão preocupado com os resultados. Pouco importa se não for o melhor, o importante é que na vida “não há mal que pra bem não venha”.Todos os males vem para o Bem.

Magno: - Sim, o resultado que nunca chega é aquele que ficou adormecido ou morto em nosso desejo de realizá-lo e para o qual não fizemos nada de bom ou de ruim.

Se você vai entrar em algum negócio ou emprego, ou mesmo num casamento, você, necessariamente, não precisa nem deve entrar para esse território novo ignorando todas as alternativas. Obviamente, deverá pesar  os prós e os contras. Mas depois de tomada a decisão, estar disposto a arcar com todas as conseqüências desse novo passo.

Generoso: - A psicologia ensina que para conter a ação gasta-se tanta energia, ou até mais, do que para agir.  Se, por um lado, agir é apostar em algum resultado, a inação, por seu turno, não resulta em absolutamente nada. Pior ainda, gasta energia sem nenhum retorno e termina num cansaço doentio, diferente daquela canseira gratificante que é correr atrás de alguma coisa.

Magno: Qualquer pessoa, que resolva se mexer, sair da inércia vai experimentar uma sacudida no pensamento e nas emoções que ele burila. Nem estou falando – e faz um bem inegável – sobre exercícios, malhação, ginástica etc, dentro dos limites de cada um.

Generoso: - Você acha que mexendo o corpo acaba por mexer na cabeça e, nesse tranco, pode-se entrar num caminho de vida melhor.

Magno: - Isso acontece de forma automática. É claro que se a pessoa começar a se movimentar, abraçar uma atividade, qualquer seja ela, e ao mesmo tempo primar por agir positivamente, com o pensamento bem calibrado com os sentimentos, os resultados serão inevitáveis.

Mas ficar recluso, recolher-se a um mosteiro e buscar milagres se constitui numa probabilidade de êxito bem menor. A vida é movimento, o universo é movimento incessante. Não há como não seguir essa diretriz cósmica.


MAGNO ALVES - FAZEDOR DE CABELO E CABEÇAS


Generoso: - Mas isto quer dizer que não se pode excluir o pensamento positivo?

Magno: Absolutamente. Em hipótese alguma o pensamento positivo pode deixar de ser cultivado. O que não pode faltar é o ato conseqüente depois do pensamento cultivado. Mas quando a pessoa começa a agir, ela está usando o que se poderia chamar de um truque para alinhar os neurônios, digamos assim.

Generoso:- Ocorre, também, que uma ação positiva desencadeia, invariavelmente, uma reação positiva. Essa reação positiva nasce de dentro e de fora; do interior e do exterior e se interagem umas com as outras.  Mas vamos supor, Magno, que alguém – e são tantos nessa condição – chegue para você e diga: “ Magno, tudo isto é muito bonito, muito otimista e até pode ser verdadeiro. Mas eu estou desempregado, sem perspectiva nenhuma. O quê posso fazer num mundo automatizado, informatizado e com tantos desempregados iguais a mim no olho da rua?

Magno: - Outra vez nós voltamos à questão do foco. Não podemos subestimar essa condição de alguém que está em desespero por falta de uma ocupação. Veja bem que estou dizendo “ocupação” e não, emprego. Emprego quem cria são as empresas – e os termos são quase  parentes gramaticais.

Mas “ocupação” é outra história. Ocupação cada qual pode criar, com mais ou menos lucro, em melhores ou piores condições. O próprio governo dispõe de estatísticas diferenciadas, com classificação para emprego e ocupação. Sem falar em termos mais específicos da Economia, como formalidade e informalidade comercial.

Mas, primeiramente , a pessoa precisa derrubar esse tabu de  que o mundo só tem lugar para pessoas especiais. Se isso fosse verdade estaríamos perdidos. Quem faz o mundo são as pessoas comuns. As pirâmides do Egito estão lá não foi graças a este ou aquele faraó.
O rei egípcio não deu um estalo de dedos para tudo aquilo surgir do nada e desafiar milênios. Precisou do arquiteto, do mestre de obras que entendia o que o arquiteto queria fazer (talvez até melhor do que o governante).

A construção das pirâmides requereu uma multidão de peões, de trabalho braçal, com seus feitores em cada seção e por aí afora. Se não fosse essa massa de pessoas comuns não existiria nem pirâmide no Egito; nem a Ford ou a General Motors nos Estados Unidos, que estão presentes no mundo inteiro; nem o Bil Gates teria a fortuna que detém se fosse somente contando consigo próprio unicamente.

 Acontece muito freqüentemente de as pessoas se julgarem inferiores, mesmo entre as iguais do seu convívio profissional.  E aqui entra o item auto-estima. Quando uma pessoa se autodenomina com essa palavra feia “desempregado”, infelizmente o sinônimo mais próximo é “desocupado”. 

 Um desocupado, voluntária ou involuntariamente, cá entre nós, cai em qual sinônimo? – “Vagabundo”. E isto forma uma trava na cabeça da pessoa. O que você pensaria de você mesmo se você concluísse que você é um vagabundo?

 Você pode até rir do que estou dizendo, os leitores podem até achar que estou fazendo piada, mas é um caso muito sério. A questão maior é essa. Houve um tempo - nas minhas benditas quedas, das quais até me sinto feliz por terem me fortalecido – que perdi o foco da minha vida.


Eu havia perdido tudo. Em vez de investir no meu negócio, investi em ilusões. Como um garoto que em vez comprar um caderno e livros para  estudar se desse à compra de sabão para fazer bolhas furta-cores.   Arrumei a minha mala e fui para bem longe enfrentar o garimpo.

Mas, como ? Procurar ouro seria o mesmo que procurar uma agulha num palheiro. Logo que cheguei para  minha nova ocupação, movido pelo desejo de ficar rico bem depressa, a primeira coisa que se me deparou foi que eu não tinha jeito para aquele trabalho.

 Pior ainda, eu via aqueles meus novos colegas de profissão (eu nem era profissional), reclamando dia e noite das condições precárias de trabalho, das carências, do preço alto de tudo. 

Em áreas de garimpagem os custos são normalmente mais elevados.
Então, constatei, em breve, que aquela atividade (não tenho nada contra quem sonha com um veio de ouro ou uma ninhada de pedras preciosas) era o mesmo que jogar no bicho, na loteria e, quando acertasse em qualquer jogada já estava devendo tudo para o lotérico ou o bicheiro. Não há nada pior do que depender da sorte, pura e simplesmente.
Fiquei ao ponto de ter-me restado sabe o quê?

Generoso: - Você me disse que nessa época só restou uma tesoura e uma máquina velha de cortar cabelo. É isso mesmo?

Magno:- Isso mesmo. De concreto eu só tinha essas duas ferramentas como única coisa em que me pegar. A princípio fiquei deprimido.

 Parei com tudo. Dei aquela parada para dar uma olhada em minha vida a fim de tomar um rumo. Mas, que rumo?

 Eu não tinha recurso nem para a passagem de volta. Fui investindo o pouco que possuía confiando na sorte, e a sorte não gosta que a gente dependa dela.

Aí me lembro estar conversando com um colega no acampamento. Nós parecíamos apostar quem conseguia reclamar  mais do que o outro por aquela situação de penúria. Encontrava-me num verdadeiro beco sem saída. Até a minha cueca já estava penhorada pelo dono da área de garimpagem.


De repente me deu um estalo. Esse meu amigo – Josimar, estava com o cabelo por fazer e, quando me viu mexendo na minha tralha, ao se deparar com a máquina e a tesoura, ficou curioso.

Perguntou-me o que eu estava fazendo com aquelas ferramentas. “Por acaso você é barbeiro?”. “Não” – respondi, “sou cabeleireiro, tive um salão muito chique, frequentado por madames da alta sociedade e, por vários motivos, quebrei a cara e estou aqui, onde o Judas perdeu as botas e o calcanhar”.

À primeira vista – eu próprio estava barbudo e cabeludo -  ele não confiou muito na minha habilidade. Mas talvez por solidariedade – e as pessoas quando estão sofrendo são mais solidárias – me autorizou que fizesse o cabelo dele.

Aí foi “mole pro gato”. Como havia muitos peões, e até mesmo pessoas com família naquela vila de sonhadores, em pouco tempo começou a chover gente no lugar que eu chamava de “salão improvisado” . 

A partir de então o meu ganho, apesar de não ser alto para o meu padrão, já me permitiu sobreviver por lá algum tempo. Até que pude comprar uma passagem  e retornar para  São Paulo, de onde nunca deveria ter saído.

 Mais uma vez você e os leitores podem notar o alto preço que a gente paga quando perde o foco.  

Voltando à história do pato, eu nem voava nem andava, só fazia o que pato sabe fazer sujando por onde passava.

 Não posso negar que a experiência valeu a pena.
Aprendi mais sobre o coração humano, e vi o quanto de sofrimento as pessoas são capazes de suportar. Nisso é que eu vejo a misteriosa força da vida.

Generoso: - Sim, Magno, mas então você tem a suposição de que uma pessoa nunca deve dizer que é, mesmo sendo ou estando, um desempregado?

Magno: - Não, Generoso. Não é suposição. Isso é matemático. Emprego é uma palavra elitista. Ocupação é o que não falta. E cada vez mais teremos desempregados. E qualquer pessoa, com um mínimo de iniciativa vai estar ocupada. Isto se deve à robótica, à informática – pois a tecnologia não pára de crescer, então emprego hoje é coisa de luxo.

Mas o homem ou a mulher que quiser fazer algum trabalho, sempre terá no que se ocupar. Preferentemente, escolhendo a habilidade que domina melhor. No meu caso, por exemplo, o que me salvou foi entender que não nasci para garimpeiro. Tão logo reencontrei o meu foco, o mundo se incumbiu de ir bater à porta da minha tenda e eu pude sair daquele lugar e daquela situação.

Só hoje compreendo que o  meu grande equívoco era a pressa em enriquecer. Queria ficar rico  o quanto antes.

 Reconquistar o que perdi da noite para o dia. Embora também deva fazer a ressalva que não existe isso de se perder tudo da noite para o dia.

Mas querer ficar rico de repente  é miragem e até nem teria graça se realmente eu houvesse encontrado um generoso veio de ouro ou muitos quilates de diamante.

 A minha mina estava onde sempre esteve: no lugar de onde eu saí para uma aventura louca, pela qual paguei o preço  da carência naquele degredo voluntário.
Porém,  não quero, em hipótese alguma,  que as pessoas, espelhando-se neste exemplo verídico menos feliz de minha vida, se  limitem nos seus sonhos e se castrem. Para algumas pessoas é necessária essa experiência de deixar tudo e buscar terras e pessoas estranhas e aventurar-se por novas terras e novas condições.

Se não fosse assim o mundo seria muito pobre. O que seria de nós sem os aventureiros? Colombo não teria descoberto a América; Cabral não teria descoberto o Brasil, e assim por diante.

O meu grande erro foi ter perdido o “foco”. Fui literalmente sem lenço e sem documento, contando com o acaso, e não poderia ter sido diferente. 

Mas as pessoas devem entender que OCUPAÇÃO existe; em toda e qualquer parte sempre há o que fazer. A questão de se ganhar pouco nunca é definitiva. Todo o “muito” é feito de muitas porções de poucas coisas. Tudo que existe se constitui de átomos. Você quer coisa menor do que um átomo?

Generoso: - Seria bom definir melhor como a pessoa pode se entregar a ações positivas. Pelo que deu para entender, é que o indivíduo faça um esforço se mover, e por conseqüência, motivar-se à ação.


Magno: - Quer ver um exemplo simples?  O sujeito foi despedido do emprego porque o patrão queria enxugar o quadro de pessoal. Em situações tais, invariavelmente, no ato da demissão a pessoa recebe lá um dinheiro resultante, ou do tempo de serviço, ou mesmo apenas das férias e décimo-terceiro proporcional, abonos do Pis/Pasep ou algo que o valha. Não é isso o que acontece?

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