Geraldo Generoso in Magno Alves - O Pulo do Gato |
Generoso: Isto quer dizer, conceituando essa questão, que as AÇÕES
também alteram o curso dos pensamentos de uma pessoa. Até acrescentaria que,
uma vez posta em prática, o certo é ir até o fim, sem ficar tão preocupado com
os resultados. Pouco importa se não for o melhor, o importante é que na vida
“não há mal que pra bem não venha”.Todos os males vem para o Bem.
Magno: - Sim, o resultado que nunca chega é aquele que ficou adormecido
ou morto em nosso desejo de realizá-lo e para o qual não fizemos nada de bom ou
de ruim.
Se você vai entrar em algum negócio ou emprego, ou mesmo num casamento,
você, necessariamente, não precisa nem deve entrar para esse território novo
ignorando todas as alternativas. Obviamente, deverá pesar os prós e os contras. Mas depois de tomada a
decisão, estar disposto a arcar com todas as conseqüências desse novo passo.
Generoso: - A psicologia ensina que para conter a ação gasta-se
tanta energia, ou até mais, do que para agir.
Se, por um lado, agir é apostar em algum resultado, a inação, por seu
turno, não resulta em absolutamente nada. Pior ainda, gasta energia sem nenhum
retorno e termina num cansaço doentio, diferente daquela canseira gratificante
que é correr atrás de alguma coisa.
Magno: Qualquer pessoa, que resolva se mexer, sair da inércia vai
experimentar uma sacudida no pensamento e nas emoções que ele burila. Nem estou
falando – e faz um bem inegável – sobre exercícios, malhação, ginástica etc,
dentro dos limites de cada um.
Generoso: - Você acha que mexendo o corpo acaba por mexer na cabeça
e, nesse tranco, pode-se entrar num caminho de vida melhor.
Magno: - Isso acontece de forma automática. É claro que se a pessoa
começar a se movimentar, abraçar uma atividade, qualquer seja ela, e ao mesmo
tempo primar por agir positivamente, com o pensamento bem calibrado com os
sentimentos, os resultados serão inevitáveis.
Mas ficar recluso, recolher-se a um mosteiro e buscar milagres se
constitui numa probabilidade de êxito bem menor. A vida é movimento, o universo
é movimento incessante. Não há como não seguir essa diretriz cósmica.
MAGNO ALVES - FAZEDOR DE CABELO E CABEÇAS |
Generoso: - Mas isto quer dizer que não se pode excluir o pensamento
positivo?
Magno: Absolutamente. Em hipótese alguma o pensamento positivo pode
deixar de ser cultivado. O que não pode faltar é o ato conseqüente depois do
pensamento cultivado. Mas quando a pessoa começa a agir, ela está usando o que
se poderia chamar de um truque para alinhar os neurônios, digamos assim.
Generoso:- Ocorre, também, que uma ação positiva desencadeia,
invariavelmente, uma reação positiva. Essa reação positiva nasce de dentro e de
fora; do interior e do exterior e se interagem umas com as outras. Mas vamos supor, Magno, que alguém – e são
tantos nessa condição – chegue para você e diga: “ Magno, tudo isto é muito
bonito, muito otimista e até pode ser verdadeiro. Mas eu estou desempregado,
sem perspectiva nenhuma. O quê posso fazer num mundo automatizado,
informatizado e com tantos desempregados iguais a mim no olho da rua?
Magno: - Outra vez nós voltamos à questão do foco. Não podemos
subestimar essa condição de alguém que está em desespero por falta de uma
ocupação. Veja bem que estou dizendo “ocupação” e não, emprego. Emprego quem
cria são as empresas – e os termos são quase parentes gramaticais.
Mas “ocupação” é outra história. Ocupação cada qual pode criar, com
mais ou menos lucro, em melhores ou piores condições. O próprio governo dispõe
de estatísticas diferenciadas, com classificação para emprego e ocupação. Sem
falar em termos mais específicos da Economia, como formalidade e informalidade
comercial.
Mas, primeiramente , a pessoa precisa derrubar esse tabu de que o mundo só tem lugar para pessoas
especiais. Se isso fosse verdade estaríamos perdidos. Quem faz o mundo são as
pessoas comuns. As pirâmides do Egito estão lá não foi graças a este ou aquele
faraó.
O rei egípcio não deu um estalo de dedos para tudo aquilo surgir do
nada e desafiar milênios. Precisou do arquiteto, do mestre de obras que
entendia o que o arquiteto queria fazer (talvez até melhor do que o
governante).
A construção das pirâmides requereu uma multidão de peões, de trabalho
braçal, com seus feitores em cada seção e por aí afora. Se não fosse essa massa
de pessoas comuns não existiria nem pirâmide no Egito; nem a Ford ou a General
Motors nos Estados Unidos, que estão presentes no mundo inteiro; nem o Bil
Gates teria a fortuna que detém se fosse somente contando consigo próprio
unicamente.
Acontece muito freqüentemente de
as pessoas se julgarem inferiores, mesmo entre as iguais do seu convívio
profissional. E aqui entra o item
auto-estima. Quando uma pessoa se autodenomina com essa palavra feia
“desempregado”, infelizmente o sinônimo mais próximo é “desocupado”.
Um desocupado, voluntária ou involuntariamente, cá entre nós, cai em qual sinônimo? – “Vagabundo”. E isto forma uma trava na cabeça da pessoa. O que você pensaria de você mesmo se você concluísse que você é um vagabundo?
Um desocupado, voluntária ou involuntariamente, cá entre nós, cai em qual sinônimo? – “Vagabundo”. E isto forma uma trava na cabeça da pessoa. O que você pensaria de você mesmo se você concluísse que você é um vagabundo?
Você pode até rir do que estou
dizendo, os leitores podem até achar que estou fazendo piada, mas é um caso
muito sério. A questão maior é essa. Houve um tempo - nas minhas benditas
quedas, das quais até me sinto feliz por terem me fortalecido – que perdi o
foco da minha vida.
Eu havia perdido tudo. Em vez de investir no meu negócio, investi em
ilusões. Como um garoto que em vez comprar um caderno e livros para estudar se desse à compra de sabão para fazer
bolhas furta-cores. Arrumei a minha
mala e fui para bem longe enfrentar o garimpo.
Mas, como ? Procurar ouro seria o mesmo que procurar uma agulha num
palheiro. Logo que cheguei para minha
nova ocupação, movido pelo desejo de ficar rico bem depressa, a primeira coisa
que se me deparou foi que eu não tinha jeito para aquele trabalho.
Pior ainda, eu via aqueles meus
novos colegas de profissão (eu nem era profissional), reclamando dia e noite
das condições precárias de trabalho, das carências, do preço alto de tudo.
Em áreas de garimpagem os custos são normalmente mais elevados.
Em áreas de garimpagem os custos são normalmente mais elevados.
Então, constatei, em breve, que aquela atividade (não tenho nada contra
quem sonha com um veio de ouro ou uma ninhada de pedras preciosas) era o mesmo
que jogar no bicho, na loteria e, quando acertasse em qualquer jogada já estava
devendo tudo para o lotérico ou o bicheiro. Não há nada pior do que depender da
sorte, pura e simplesmente.
Fiquei ao ponto de ter-me restado sabe o quê?
Generoso: - Você me disse que nessa época só restou uma tesoura e
uma máquina velha de cortar cabelo. É isso mesmo?
Magno:- Isso mesmo. De concreto eu só tinha essas duas ferramentas como
única coisa em que me pegar. A princípio fiquei deprimido.
Parei com tudo. Dei aquela parada para dar uma olhada em minha vida a fim de tomar um rumo. Mas, que rumo?
Parei com tudo. Dei aquela parada para dar uma olhada em minha vida a fim de tomar um rumo. Mas, que rumo?
Eu não tinha recurso nem para a
passagem de volta. Fui investindo o pouco que possuía confiando na sorte, e a
sorte não gosta que a gente dependa dela.
Aí me lembro estar conversando com um colega no acampamento. Nós
parecíamos apostar quem conseguia reclamar
mais do que o outro por aquela situação de penúria. Encontrava-me num
verdadeiro beco sem saída. Até a minha cueca já estava penhorada pelo dono da
área de garimpagem.
De repente me deu um estalo. Esse meu amigo – Josimar, estava com o
cabelo por fazer e, quando me viu mexendo na minha tralha, ao se deparar com a
máquina e a tesoura, ficou curioso.
Perguntou-me o que eu estava fazendo com aquelas ferramentas. “Por
acaso você é barbeiro?”. “Não” – respondi, “sou cabeleireiro, tive um salão
muito chique, frequentado por madames da alta sociedade e, por vários motivos,
quebrei a cara e estou aqui, onde o Judas perdeu as botas e o calcanhar”.
À primeira vista – eu próprio estava barbudo e cabeludo - ele não confiou muito na minha habilidade.
Mas talvez por solidariedade – e as pessoas quando estão sofrendo são mais
solidárias – me autorizou que fizesse o cabelo dele.
Aí foi “mole pro gato”. Como havia muitos peões, e até mesmo pessoas
com família naquela vila de sonhadores, em pouco tempo começou a chover gente
no lugar que eu chamava de “salão improvisado” .
A partir de então o meu ganho, apesar de não ser alto para o meu padrão, já me permitiu sobreviver por lá algum tempo. Até que pude comprar uma passagem e retornar para São Paulo, de onde nunca deveria ter saído.
A partir de então o meu ganho, apesar de não ser alto para o meu padrão, já me permitiu sobreviver por lá algum tempo. Até que pude comprar uma passagem e retornar para São Paulo, de onde nunca deveria ter saído.
Mais uma vez você e os leitores
podem notar o alto preço que a gente paga quando perde o foco.
Voltando à história do pato, eu nem voava nem andava, só fazia o que pato sabe fazer sujando por onde passava.
Não posso negar que a experiência valeu a pena.
Voltando à história do pato, eu nem voava nem andava, só fazia o que pato sabe fazer sujando por onde passava.
Não posso negar que a experiência valeu a pena.
Aprendi mais sobre o coração humano, e vi o quanto de sofrimento as
pessoas são capazes de suportar. Nisso é que eu vejo a misteriosa força da
vida.
Generoso: - Sim, Magno, mas então você tem a suposição de que uma
pessoa nunca deve dizer que é, mesmo sendo ou estando, um desempregado?
Magno: - Não, Generoso. Não é suposição. Isso é matemático. Emprego é
uma palavra elitista. Ocupação é o que não falta. E cada vez mais teremos
desempregados. E qualquer pessoa, com um mínimo de iniciativa vai estar
ocupada. Isto se deve à robótica, à informática – pois a tecnologia não pára de
crescer, então emprego hoje é coisa de luxo.
Mas o homem ou a mulher que quiser fazer algum trabalho, sempre terá no
que se ocupar. Preferentemente, escolhendo a habilidade que domina melhor. No
meu caso, por exemplo, o que me salvou foi entender que não nasci para
garimpeiro. Tão logo reencontrei o meu foco, o mundo se incumbiu de ir bater à
porta da minha tenda e eu pude sair daquele lugar e daquela situação.
Só hoje compreendo que o meu
grande equívoco era a pressa em enriquecer. Queria ficar rico o quanto antes.
Reconquistar o que perdi da noite para o dia. Embora também deva fazer a ressalva que não existe isso de se perder tudo da noite para o dia.
Reconquistar o que perdi da noite para o dia. Embora também deva fazer a ressalva que não existe isso de se perder tudo da noite para o dia.
Mas querer ficar rico de repente
é miragem e até nem teria graça se realmente eu houvesse encontrado um
generoso veio de ouro ou muitos quilates de diamante.
A minha mina estava onde sempre esteve: no lugar de onde eu saí para uma aventura louca, pela qual paguei o preço da carência naquele degredo voluntário.
A minha mina estava onde sempre esteve: no lugar de onde eu saí para uma aventura louca, pela qual paguei o preço da carência naquele degredo voluntário.
Porém, não quero, em hipótese
alguma, que as pessoas, espelhando-se
neste exemplo verídico menos feliz de minha vida, se limitem nos seus sonhos e se castrem. Para
algumas pessoas é necessária essa experiência de deixar tudo e buscar terras e
pessoas estranhas e aventurar-se por novas terras e novas condições.
Se não fosse assim o mundo seria muito pobre. O que seria de nós sem os
aventureiros? Colombo não teria descoberto a América; Cabral não teria
descoberto o Brasil, e assim por diante.
O meu grande erro foi ter perdido o “foco”. Fui literalmente sem lenço
e sem documento, contando com o acaso, e não poderia ter sido diferente.
Mas as pessoas devem entender que OCUPAÇÃO existe; em toda e qualquer parte sempre há o que fazer. A questão de se ganhar pouco nunca é definitiva. Todo o “muito” é feito de muitas porções de poucas coisas. Tudo que existe se constitui de átomos. Você quer coisa menor do que um átomo?
Mas as pessoas devem entender que OCUPAÇÃO existe; em toda e qualquer parte sempre há o que fazer. A questão de se ganhar pouco nunca é definitiva. Todo o “muito” é feito de muitas porções de poucas coisas. Tudo que existe se constitui de átomos. Você quer coisa menor do que um átomo?
Generoso: - Seria bom definir melhor como a pessoa pode se entregar
a ações positivas. Pelo que deu para entender, é que o indivíduo faça um
esforço se mover, e por conseqüência, motivar-se à ação.
Magno: - Quer ver um exemplo simples?
O sujeito foi despedido do emprego porque o patrão queria enxugar o
quadro de pessoal. Em situações tais, invariavelmente, no ato da demissão a
pessoa recebe lá um dinheiro resultante, ou do tempo de serviço, ou mesmo
apenas das férias e décimo-terceiro proporcional, abonos do Pis/Pasep ou algo
que o valha. Não é isso o que acontece?
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