Magno: Perfeito. Mas depois me
lembre de voltar sobre dois assuntos importantes: o dom e a sorte.
Vamos lá ! Em meus tempos de roceiro, onde talvez obtive a base das
lições mais importantes da minha vida, recordo-me que no nosso sítio havia um
açude onde nadavam, freqüentemente, alguns patos. Em pequeno número . Lembro
bem que minha mãe, D.Raimunda, nem se
ocupava em matar essas aves para a família comer. E você sabe que extraí lições importantes
para os meus negócios a partir daquele cenário saudoso do sítio de papai, o seu
José, cujas lições me faz muito bem partilhar em forma de depoimento nas minhas
conferências pelo Brasil afora.
Generoso: Foram lições sem palavras, eu creio.
Magno : Isso mesmo. Acho que foram
lições sentidas ao vivo e a cores, de forma serena na paz do campo. Era fácil
notar que o pato em tudo era desajeitado.
Ele nadava ao sabor das águas, solto e sem esforço. Superdotado com
nadadeiras que até nós, homens, copiamos para facilitar a natação. Pois bem, você
já viu um pato andando, que coisa mais feia?
É vagaroso, desajeitado e o que mais faz é defecar por toda parte.
Os danados dos patos não respeitavam nem as nossas visitas mais
importantes. Podia ser o fazendeiro
vizinho que ia lá em casa com a família, ou então, cagava aos montes para o
gerente do Banco do Brasil, e a gente até ficava com vergonha do descaramento
deles com aquela sujeira toda esparramada pelo terreiro.
Pois bem! O pato não tem um foco. Dele não se requer nenhum esforço
para nadar, já que é superdotado pela natureza. Não voa quase nada, porque não
exercita esse dom, deixando as asas em desuso. Anda desajeitado, sem elegância
e sem agilidade.
Generoso : Infelizmente, há pessoas que são assim também, como os patos. Medíocres
por levar uma vida sem diferencial.
Magno : Sim. Falta-lhes o “foco”.
Quanto mais se exercita num foco, mais ele se aprimora. Se o sujeito quer ser
cientista, ele precisa aprender e continuar aprendendo e aprendendo. Isto vale
para qualquer outra profissão ou atividade.
Nos negócios é a mesma coisa. E não é só questão de administrar bem um
comércio ou indústria qualquer. É preciso arrojo, tesão no que faz. Esse gosto
pelo que se faz vem com o fazer bem e cada vez melhor.
Há no mundo pessoas tão
ignorantes que relacionam negócio como sinônimo de se tapear alguém.
Isso não existe em nenhum
negócio ou profissão. Os grandes magnatas, você pode observar, descobriram há
muito tempo que a idoneidade é tudo.
O nome de uma empresa, seja
grande, média ou pequena é o maior capital com que se pode contar, o
melhor seguro contra possíveis contratempos no curso de suas atividades. A boa
fama, o conceito de que se goza, ninguém pode roubar.
Generoso : Magno, o que você
diria às pessoas acostumados à leitura de obras de auto-ajuda?
Magno: Este livro que vai resultar desta nossa conversa,
extensiva ao leitor, se constitui,
assumidamente, numa obra de auto-ajuda.. Sem qualquer constrangimento da parte
do autor.
Generoso: Há certos literatos que vêem a obra de auto-ajuda
como subliteratura.
Magno : Não dou a mínima atenção a tais
críticos gratuitos. Eles querem
ser osdonos da literatura e patrulheiros
dos que ousam escrever sem amarras e sem filiações doutrinárias limitantes.
Daqui de nossas entrevistas vai sair um livro prático, de textos às vezes até
agressivos, mas de resultados seguros, porque testados na prática.
Além disso, se repete que “os livros constróem”, que “uma
casa sem livros é como um corpo sem alma”, que “uma Nação se constrói com homens e livros” etc. Mas há uma
corrente ruidosa de “intelectualizados”, a gritar aqui e ali contra este gênero
de literatura. Na verdade, são esses tais os que mais carecem de orientações
seguras que os façam capazes de remover suas amarras íntimas.
Generoso : Literatura
não precisa ser apenas arte e passatempo. Concorda?
Magno: Concordo
plenamente. A pessoa pode usar como passatempo as suas novelas ou programas de
humor da televisão, livre ou de canais pagos. Acho que leitura de auto-ajuda é
coisa mais séria a ser escolhida.
Há também, por outro lado,
pessoas que viciam em ler sobre esses temas e acabam sem sair do lugar. Não é
culpa dos autores de tais livros.
Até porque já se disse mais de uma vez que não existe nenhum livro que
se possa tachar de completamente inútil.
Generoso : Mas é prejudicial a si mesma
a pessoa que fica procurando novidades, como aquelas hipocondríacas em
farmácia à procura das últimas vitaminas do mercado. Ou como aquela que experimenta um remédio,
antes mesmo do tempo para fazer efeito, passa para outro e mais outro. É nesse
sentido que eu acho necessário dizer que mais vale o pouco (lido ou ouvido) bem
aplicado do que o muito sem aplicação, só servindo para ocupar neurônios sem
ser colocado em ação.
Magno: Sim. Porque
a vida só acontece na ação e se vinga dos ociosos e sonhadores
inconseqüentes. É o que sempre faço questão de repetir : Mantenha o foco de seu
sonho alimentado pela sua ilusão sempre bem acesa.
Generoso: Magno, por falar em
auto ajuda, como você encara essa afirmação de que para todo problema existe
uma solução?
Magno: Essa questão, eu gostaria de responder à
queima-bucha, de que não há problema sem solução. Mas a questão exige um pouco
mais análise.
Custei a entender uma afirmação
da Psicologia que diz mais ou menos o seguinte: “ tudo o que acontece com uma pessoa, de bom ou de ruim, é porque,
consciente ou inconscientemente, ela própria o desejou”.
É difícil entender isto num primeiro momento. Mas há um fato fácil de
ser observado na vida de todos os
indivíduos. Todos nós temos tendências, boas e más, virtuosas ou infelizes. A
partir do momento que fomos dotados de razão, era para que a usássemos em toda
sua plenitude.
Generoso: Não são todas as
pessoas que usam a razão na maior parte do tempo. Não é isso?
Magno:Exatamente. Há graduações
entre as pessoas no uso racional da inteligência. O impacto de certas
tendências determinam comportamentos direcionados, feliz ou infelizmente, para
o fracasso ou para o sucesso. Sem contar os milhões que vivem na média, na
mornidade da vida: comendo, bebendo e se reproduzindo de forma inconseqUente,
ao sabor da sorte ou do azar.
Mas, respondendo a essa indagação sobre se todo problema tem solução, estou mais do que ciente que isto
ocorre, sem exceção, na vida de qualquer pessoa. E a solução está no interior
de cada um, não no exterior.
Não precisa ser superdotado para encontrar saídas nos labirintos da
jornada terrena. É que para obtenção de resultados é preciso ação. Às vezes
para a consecução de algo bom em nossa vida, temos que pagar o preço de
renúncias a que não estamos acostumados.
Mas hoje, e a cada dia mais, as soluções vão ocupando o lugar dos
velhos desafios, enquanto novos desafios vão surgindo. Acho que este é o ritmo
da vida e se não fosse assim não haveria a menor graça em viver.
Generoso: Você receitaria a fé como solução?
Magno : A fé é a base de tudo.
Principalmente a fé em si mesmo. Aliás, tem gente que não sabe, mas isto é
bíblico. Segundo fui informado, nas escritura cristã existe uma passagem que
diz textualmente o seguinte: “Tens, tu,
fé? Pois então tenha fé em ti mesmo diante de Deus.”
Ter fé não significa acreditar em milagres da noite para o dia. Aliás,
você já observou, numa noite de insônia, como as trevas demoram para dar lugar
à luz do amanhecer?
Mas pode a noite tentar nos assustar com seus fantasmas, mas nada
poderá deter a luz solar que brilhará na madrugada.
Acho que a primeira coisa que se tem de fazer diante de um problema,
que requer seja solucionado por alguém, é essa pessoa – a exemplo dos antigos
filósofos – fazer a seguinte leitura: “em algum lugar do universo, no tempo e
no espaço, esse problema já está solucionado”.
Porque imaginar que algo é insolúvel é o caminho mais curto para se
render à falsa evidência de que é um caso perdido.
Generoso: Abrindo o jogo ao extremo, o que você diria a alguém que se decide pelo
suicídio?
Magno : Essa forma extrema de sair
pela porta falsa da vida nada mais é do que o cúmulo da birra.
Todo suicida, ou quem tenha intenção de matar-se, no fundo, o que ele
queria era matar a todas as demais pessoas. Isto é duro de se dizer, mas está
comprovado.
Há casos patológicos, e hoje a ciência tem capacidade de sobra para
lidar com essas mazelas. Mas, muitas vezes, o sujeito fica nessa de vai, não
vai, dando trabalho para os mais próximos, para os amigos e a família e, nessa
lenga lenga vai se tornando uma pessoa indesejável, porque o mundo despreza
pessoas que assim pensam e sentem.
Mas eu diria a uma pessoa que nada mais quer da vida, que ela não pode
partir sem antes verificar tudo o que deveria ter verificado enquanto estava na
sua normalidade existencial.
O fato de alguém nascer significa que um, um só, entre milhões e milhões de espermatozoides, certo
dia alcançou – depois de uma luta que não há paralelo na história – a área de
um óvulo e o fecundou e uma vida humana nasceu.
Oras, isto não foi por acaso. Quaisquer dos outros milhões de
espermatozoides poderiam se perguntar –
“Por que não eu?”. Mas eis que esse indivíduo veio para a vida e aqui tem um
lugar. Se não está ocupando ainda é outra história, é uma questão de tempo.
Esse é o grande desafio: o tempo precisa trabalhar a nosso favor, e nem
sempre temos a paciência suficiente para que ele nos erga do túmulo para a ressurreição.
Falando nisso, Generoso, eu me lembro de um poema que você escreveu há algum
tempo, que falava sobre se dar essa chance a si mesmo para ver o mundo por
inteiro antes de se ir embora da vida.
Geraldo Generoso - biógrafo de Magno Alves |
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