UM BÁLSAMO PARA A VIDA





A MÃO INVISÍVEL DA PAZ 

Cada um de nós conta com mais de um motivo para se assustar com as mazelas de que a vida é farta, a cada passo nos pode surpreender, em tocaia, acontecimentos inesperados. Seja uma enfermidade, para a qual resulte a hipótese de uma gravidade fatal; seja um acontecimento que sobrevenha, em questões com a polícia e a justiça.

Por melhor que sejamos, todos  estamos sujeitos a contratempos de toda espécie. Mas há outros, de longo prazo, que já nos advertem para uma eventual velhice enferma, quando não em estado até vegetativo. 

E essas sombras soturnas são useiras em se nos demonstrar na figura concreta, real, palpável – e que muito lastimamos – quando nos espelhamos naqueles que, com seus carmas suados, encontram-se a um passo do limiar de outra possível existência. 

A tal ponto que o próprio Nada que se pode supor será melhor do que o tudo da vida, preenchido dessas cruzes difíceis de suportar ao peso dos ombros.

Na verdade, tudo isto é compreensível, por nossa aparente fragilidade humana. Não somos águias, que ao sentir a chegada do último momento, se arroja no abismo, conformada ao fim inevitável de todo vivente. Somos apenas seres teimosos, sem asas nem nadadeiras em meio ao mar bravio e às nuvens sombrias das procelas.

Em contrapartida, não obstante, há, sim, atenuantes em nosso ser para o terror diante desses fantasmas que saltam lá de um futuro presumido para nos assombrar o dia de hoje. Não cabe aqui subestimar as mazelas inevitáveis que o correr do tempo pode nos alcançar. Só pretendo aqui registrar, se possível com merecida ênfase, que os quadros assustadores que temos diante dos olhos não contêm em si a dimensão que aparentam.

Pelo hábito de cultivar sempre o respeito aos mais vividos, desde cedo em minha vida conto com a amizade de pessoas mais velhas. Não raro acompanho os seus estágios, progressivos às avessas, de sua visível decadência. 
Acometidos alguns do mal de Alzheimer, de Parkinson, a família entende toda essa via crucis como algo que vai aos poucos retirando aquele ente querido do cenário familiar.

É difícil expor essa realidade tão crua. Em tais casos até cruel. Moléstias de difícil controle, a exigir medicamentos que, aparentemente, castigam mais do que a própria doença, em determinados casos de câncer. A lista seria enorme e nem um pouco desejável, tal o desconforto que inspira. Aqueles que passam por esses desfiladeiros de angústia, chegam ao ponto de achar que a morte não é o pior entre os males deste mundo.

No entanto, repito, sem subestimar a dor de muitas famílias que ora atravessam por esse vale sombrio, vendo a cada dia subtrair-se os traços característicos daquela pessoa amada, posso assegurar que há um fato importante a considerar nessa crucial questão.

Há em cada ser uma alma, e essa alma se liga com uma fonte de paz que excede a nosso entendimento humano na face da terra. 

Há um poema muito inspirado de  Gióia Júnior – que infelizmente não encontrei para incluí-lo aqui como chave de ouro,  e que, melhor do que nunca, fala sobre essa Presença que nunca se ausenta da vida de quem quer que seja. 

Diz esse poeta, já no andar de cima,  que a dor dos hospitais e dos presídios, aparentemente insuportáveis aos que olham da rua para esses locais, não têm o condão da Onipotência para assumir uma dimensão insuportável. 

Deus também está lá onde parece a dor querer impor-se como irrevogável e irremissível. Quem passou por grandes tempestades na vida, e posso falar de cadeira por grandes tormentas que me afrontaram   na  juventude, mesmo em momentos de desânimo, apatia e até mesmo descrença, a benção de Deus nunca  esteve, sequer por um minuto “fora do ar”.


0 comentários:

Postar um comentário

Comentários sempre serão bem-vindos!
Para assinar sua mensagem, escolha a opção "Comentar como -Nome/URL-" bastando deixar o campo URL vazio caso você não tenha um endereço na internet. Forte abraço!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...