DUAS CASAS


 

DUAS CASAS



Uma casinha no baixio da serra,
Cheia de  frestas pelos vãos da  porta,
Me vem à mente que da infância  encerra
Uma  saudade que o meu peito corta.

Dissera minha mãe: - por esta fresta,
Que da lua em silêncio vinha o brilho,
Chegaste-me do  céu  como  uma réstia,
E foi assim que te chamei “meu filho”.




Deixei atrás a choupana esquecida
Em passo lento tomei outra estrada,
Pois queria   outra casa e outra vida
Melhor que aquela que não tinha nada,
Com aquela porta tão desguarnecida.
Lá na  grota  esquecida e abandonada.

Foram duros  caminhos, tantas quedas,
Para, afinal, erguida esta mansão,
Ouvir um transeunte que segreda
A sua inveja e admiração
Por este espaço que esconde e veda
O tamanho da minha solidão.



E neste afã de a  custo isolar-me
A vida, sempre a mesma, continua. 
A lua não se faz mais   inquilina
Como se já me foi na ida sina
Da casinha da serra tão lembrada.
Da rua vejo o cômico e  o trágico
Somente através do olho mágico,
Cravado em minha porta bem fechada.

 



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