CRIAÇÃO LITERÁRIA

Conciliação entre Ímpulso e Maestria

O presente texto pode ser denominado de espontâneo e improvisado. Surgiu de um diálogo com um escritor, meu amigo Otávio Bueno da Fonseca, de Piraju, há pouco, em um telefonema. Assim como há tipos os mais deversos de pessoas, inevitavelmente será difícil encontrar um escritor semelhante ao outro em seu processo criativo.

               Por inacreditável que possa parecer, há autores que não revisam os textos que produzem. Insistem mesmo em manter o que a mediunidade de si mesmo lhe ditou e não há como convencê-los do contrário. Em livro de minha autoria, Segredos da Atividade Literária (editora agbook), todo o livro prima por levar na devida conta a necessidade de se revisar. Seja prosa ou poesia, o certo é pegar o texto e virá-lo pelo avesso: inverter linhas de versos, trocar as palavras por sinônimos com verbos mais ricos (ainda que sem afetações). Ler em voz alta e avaliar a sonoridade das palavras, de forma a criar uma eufonia, uma prosa ou poesia bem cadenciada etc.
         
             Mas há também o oposto. É o caso do meu grande amigo, poeta dos melhores, Otávio B.Fonseca. Ele pega o poema e começa dar uma surra. Modifica aqui, modifica ali e acaba por dizer outras coisas do que disse no original. Ou transfigura todo o conteúdo. E ele está na labuta de concluir o livro há vários anos. A obra vai-se acrescentando cada vez mais, de poemas belíssimos. Vai senão quando ele resolve, para acomodação de espaço, a expurgar textos que, em sua opinião, são menos expressivos.

             Em desespero de causa, ele recorre a outra pessoa, e tenho o privilégio de ler seus poemas a fim de elaborar essa seleção. Só que os poemas de Otávio, onde um parece melhor do que outro, a tarefa se torna impossível. E ele prossegue escrevendo, escrevendo, escrevendo... Ultimamente, ocupados na tarefa comum de revirar, cada qual o seu baú poético, constatamos - em comum acordo - que os poemas que compusemos na mocidade dão de goleada naqueles que nascem agora, em nossa maturidade cansada, do politicamente correto e da afeição exagerada às regras gramaticais e estilísticas.

             Nesse ponto - ele que é um teimoso pela própria configuração do DNA ibérico - acabamos por entrar em comum acordo e, nessa revirança de nossos textos manuscritos, rabiscados, feitos à lápis ou antigas canetas tinteiro -  e retrabalhar (porém nem tanto) os nossos escritos de juventude. Na soma dos eus de ontem com os eus de hoje, resultam páginas mais evocativas, com mais sangue e mais adrenalina do que a mornice ou a forma viciosa a que nos acostumamos por força de nossa sexagenarice.

           A todos os autores, em iguais condições, considero valiosa essa singela sugestão. Revisitem as relíquias de seus apontamentos passados. Ressuscite-os com o vigor da juventude que circula em suas letras e vírgulas, pontos e exclamações. Será uma experiência agradável reincorporar o frescor da inspiração, lá no seu berço de prístina beleza, que só a mocidade sabe haurir e exalar.

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