PALAVRAS A UM VELHO POETA


Ele, pela vida inteira, fez e soube fazer como poucos, o uso da palavra, sempre enriquecendo-as com o melhor de sua pena. A palavra sempre lhe prestou  para abençoar ou amaldiçoar pessoas ou circunstâncias.
Não se sabe ao certo se o verbo, como munição de que sempre se valeram os poetas – na guerra e na paz da vida – se desgastou pelo uso. Ou pela própria sucessão implacável dos dias pontuados, em alternâncias de amor, dor ou indiferença.            
Só se constata – salvo ilações transcendentais, que ele põe de parte – pela evidência exaustiva e viciosamente repetida de um silêncio a pontuar suas últimas sílabas.
A leitura, mais que um hábito, sempre o prendeu  como um vício feliz e inofensivo. Pelo contrário, útil, pela possibilidade de contar e recontar histórias sobre tudo e todos.
Enfim, chegou sem convite o cansaço intruso a intoxicar-lhe o vocabulário. E o poeta não quer mais se deter no mundo das formas, construídas de matéria perecível, mas apenas os pensamentos, com matizes de todas as cores que hauriu de seus deuses escritores.
A comunicação é um dom que nos acompanha do berço ao túmulo. Ao abrir-se para este mundo é o primeiro protesto de um ser vivente. O significado desse vagido expressa a inconformidade do próprio fazer-se carne.
Meu velho poeta já não tange a lira, com as mesmas mãos destras que tecia causos, histórias e, num abrir as cortinas do passado, trazia de lembranças antigas, pessoas as mais diversas, sempre evocadas com o carinho de sua saudade que se transfazia em letras agradáveis, no som e no enredo.
O máximo que a vida pode fazer a um poeta, meu caro irmão mais velho, é fazê-lo envelhecer e nada mais. Porque os verdadeiros poetas não morrem nunca, perpetuados nos seus escritos que, ao simples folhear de um livro faz saltar a vida com toda as suas qualidades e defeitos.

Assim é a vida e assim são os verdadeiros poetas como você. A lira pode estar pendurado, silenciosa ou mesmo escondida, mas o som dela tangido perpetuou-se no espaço, e mesmo que você queira, o mundo não deixará que você morra. Seus poemas serão seu sangue a correr em outras veias alimentando sonhos e imprimindo significado aos seus póstumos leitores.

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