A DROGA DE SER ADOLESCENTE

O nascedouro da narcodependência

Certamente, não tenho a pretensão de ser inédito, nesta abordagem tão séria, no que tange à disseminação do crack, como uma praga comparável às pestes, de que a Idade Média foi palco, e mesmo em tempos mais recentes. A peste negra, a bubônica, a febre amarela é tão universalmente conhecida na História que dispensa menção de estatísticas.

          Hoje, em que a medicina evoluiu em grau inimaginável, aí está um desafio não menos assustador como o é o efetivo consumo de drogas por grande parte da população mundial. Pior ainda: são jovens que encurtam a vida (já tão breve por si mesma) quanto a invalida para qualquer finalidade. Os transtornos não se resumem ao nível individual, mas familiar, social e comunitário. Trata-se, para início de análise, uma prática irracional. Só desgraças semeia para o indivíduo, numa espécie de suicídio, não só do corpo mas da mente. É uma ilusão que mata a todas as demais, por mínimas ou máximas que sejam, de um ser humano.


     O mundo está cheio de considerações como estas. Nunca seria demais tecê-las, tanto melhor ainda com tecelões que soubessem fiar com mais emoção palavras de fato convincentes para prevenção desse mal do século.

         Não me ocupo, pois, mais do que o necessário em percutir sobre teclas tão batidas por gente com mais ímpeto e credenciais do que eu, em retratar os danos e os inconvenientes que a droga perpetra, de forma massiva, em um mundo cada vez mais impotente para conter esse flagelo a que milhares se expõem diariamente.

        Aqui venho ajuntar apenas observações aleatórias, sem qualquer pretensão científica, para alimentar possíveis debates entre aqueles homens e mulheres mais capazes e que, felizmente, não são poucos.

       Uma colocação óbvia, que remonta antes a Hipócrates, o pai da medicina, é a “de que mais vale prevenir do que remediar.”  Mas essa é apenas uma das muitas incógnitas que envolve o problema aqui retratado: a narcodependência em que se afundam levas e levas de jovens em todos os quadrantes.

       Oras, quero crer que essa prevenção necessariamente deveria começar mais em baixo, ou antes do que se costuma ser realizada atualmente, dentro dos cânones da preparação dos moços para a vida. Há estudiosos – merecedores de respeito, é claro – que procuram dissecar as várias causas  de esse monstro se abater sobre tão grande número de infelizes. Há até quem fale sobre hereditariedade. Outros, sobre o ambiente em que o indivíduo nasce e cresce. Há ainda os que evocam causas econômicas etc. Seria fastidiosa essa lista. Dissecar esse problema em minúcias – mesmo calcada em estatísticas – seria como dissecar o passarinho e tentar depois fazê-lo voar.

    A melhor hipótese que elegi para esta questão crucial obtive do pedagogo Fernando Gonçalves Mendes Junior, foi sobre o fenômeno, inevitável a qualquer adolescente, em intensidade  maior ou menor,  é o da desconstrução da personalidade, em que o indivíduo experimenta uma sensação contraditória: tem que continuar o mesmo não sendo mais a mesma pessoa.  É uma crise de identidade. Não se trata de se mencionar um fator a mais na questão da dependência a drogas, mas em se estabelecer aqui a causa fundamental. Aí está o nó da questão.

   Mesmo sem levarmos em conta todos os fatores que concorrem para o adolescente saltar para esse abismo: lares desfeitos, miséria, violência doméstica, influências do meio etc., o que mais se exige é conhecer o que se passa dentro dele e, principalmente, em quê intensidade. Ele não é mais uma criança. Também não é um adulto. E essa procura de si mesmo dói bastante, ao ponto de se procurar um analgésico, um anestésico, qualquer coisa fora de si mesmo.

   Nos tempos passados a adolescência terminava mais cedo porque a economia permitia que os casais se unissem com menor idade do que hoje. Entre as tribos primitivas haviam as iniciações, cerimônias que marcavam essa transição da criança para homem ou mulher.  Hoje nem mais existem bailes de debutantes. Se os há, são em menor número e não como prática usual de uma sociedade que já se foi e que era menos complexa.

    Somos menos pedagogos ou psicopedagogos do que os índios, nossos nativos e de outras partes do mundo. Invariavelmente, talvez por um instinto social que remonta a priscas eras, eles conheciam a importância do ritual na interpretação dos significados da vida.

    O objetivo deste opúsculo é ressaltar a importância de que os pais ou responsáveis acompanhem os passos dessa transição a que a adolescência está sujeita em todas as latitudes.

   O ideal seria que se investisse mais em psicologia e terapias que socorressem os jovens nessa encruzilhada, a fim de que garrem pelos caminhos normais a que um ser humano tem direitos e deveres e, não reluto em acreditar que a ciência pode e deve vencer mais essa parada. Os homens e mulheres de ciência merecem, pois, todo o nosso respeito e confiança. Pois no mais das vezes desprovidos de fé (que tanto bem faz a tantos) eles conseguem chegar a bons resultados a partir de suas próprias dúvidas.

     Concluindo, acho que o mundo precisa de mais arte – em todas as suas modalidades -, pois ela é o único vício cuja dependência não nos causa dano.

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