Amor envelhece, sem nunca caducar.



“Amor feito por instinto é apenas ensaio”.(autor ignorado)

Nos versos de Renato Teixeira “cada um de nós conhece a sua história...como o velho boiadeiro levando a boiada” da canção Tocando em Frente, é bem mais profunda e sábia do que numa primeira audição se pode colher de seu significado.

Na passagem pela vida, as pessoas tecem suas histórias a partir de inúmeros fatores, a maioria deles nem sequer logicamente explicáveis. Há imprevistos agradáveis e, muitos deles, trágicos, quando menos se espera.

Dá a impressão que a própria estrutura social, à medida que em muitos pontos facilita a vida do indivíduo, por outros, acaba por desaguar em complexidades cada vez mais acentuadas na existência dos seres humanos.

Há contradições flagrantes no modo de vida da quase totalidade das pessoas. Há limites, não só naturais, como o tempo que demanda para uma criança aprender a comer, engatinhar, andar, falar e se conhecer por gente, como individualidade.

A partir daí surgem as imposições sociais, as regras de comportamento; o conhecimento do que pode e não pode em termos de pessoa na sociedade. Vem o imperativo de se aprender a ler, escrever, contar.

Some-se a toda essa rotina – que requer grande parte da vida do indivíduo -, o conhecimento do politicamente correto, da moral, dos bons costumes.

Tudo isso, e só depois de tudo isso, se fala em liberdade. Aprende-se sobre ela na escola e na mídia, e se descobre, na prática, o quanto ela é relativa a liberdade e o quanto os ensinamentos do lar e da escola a limitam de mil maneiras.

Pierre-Joseph Proudhon (Besançon, 15 de Janeiro de 1809Passy, 19 de Janeiro de 1865)  filósofo francês, considerado um dos mais influentes teóricos e escritores do anarquismo, foi  o primeiro a se autoproclamar anarquista, até então um termo considerado pejorativo entre os revolucionários.

Pois bem, Proudhon, sem querer, disse uma frase místico-filosófica, que ficou antológica e até hoje é repetida. Não só pela beleza poética da construção (e ele era um poeta dos maiores), mas também pelo significado de que se reveste. Eis o que ele disse:

“Sejamos como o pássaro,

pousado no galho mais alto,

que sente tremer os ramos,

mas não se assusta,

porque sabe que tem asas”.



A rigor, todos, de fato, temos asas. E o curioso dessa condição de entes alados, é que tanto podemos voar para o passado, como podemos voar par ao futuro.



 Nenhuma das opções é a ideal. Devemos voar para o alto do nosso presente, do nosso dia de hoje, mesmo com a bagagem cinza da saudade sobre os ombros e o verde da esperança como uma flor na mão.



É difícil seguir o mandamento do poeta Rudyard Kipling, num dos  versos da poesia “If” – que quer dizer “SE”, quando ele nos diz, entre outros preceitos para “entre reis não perder a naturalidade e entre a plebe não se corromper”.



Todavia, a modernidade cada vez mais complica a vida das pessoas. E ai de quem ousa questioná-la nos seus cânones, estabelecidos por pensadores complicados.



Ou talvez mesmo, filósofos especialistas em dosar a vida com pitadas de ideais impraticáveis, ao sabor de duvidosa inspiração para fazer um mundo mais feliz.



Pela limitação do formato internético, obrigo a restringir este conteúdo a um interessante questionamento levantado pelo filósofo norte-americano Will Durant, com o qual não me faço de pleno acordo, em seu livro Mansions Of Philosophi, traduzido por Monteiro Lobato.



Observa esse grande pensador do Século XX (escreve até de uma forma poetizada, só dele) que na idade em que aflora no jovem toda a efervescência do instinto reprodutivo, tal período não coincide com a idade do casamento.



Para desossar esse assunto teríamos que picar em pedaços, não  um boi mas uma boiada inteira, sob a supervisão de um competente açougueiro. Porque, como observado no início, o ser humano nasce incompleto, dependente, naturalmente anarquista.



Mas ao tocar nesse item, há a considerar que o assunto é de fato mais sério e há que se ir mais fundo do que mera constatação de fatos. Transpondo para uma linguagem mais aproximada de interpretação, o que podemos entender é que o passo de uma união, sem aquela cola inexplicável da empatia, do amor e da paixão, não reúne consistência em sua contextura para de fato estabelecer um núcleo familiar.



Até porque, assim como a Natureza não tem pressa em verter de suas galhadas os frutos que alimentam, ou espessar sua sombra a eventuais caminheiros que transitam em seu entorno; ou fazer-se num agente inserido entre insetos, pássaros, animais e homens (e mulheres), igualmente a paisagem social é vagarosa em suas elaborações.



E o amor entre duas pessoas igualmente se apura num processo lento, que requer mais maturidade. A sociedade teve que criar regras – feliz ou infelizmente – porque o ser humano, de si mesmo e por si mesmo – é a mais complexa entre todas as criaturas.



O grande desafio são aquelas coisas invisíveis, aqueles sintomas inexplicáveis, próprios de cada ente humano. E aqui entra o fenômeno do amor – aqui entendido no sentido de completude, sem perda de identidade.

O que existe e o que fica do amor é impalpável. Em matéria de sexo, o que prevalece não é o sexo por si mesmo. Quando muito, pode ser a sensualidade. E esta independe de potência, de catuaba, de viagra, de estimulantes físicos de qualquer jaez.



Amor é amor quando não se pode defini-lo em seu porquê ou em sua causa. Dirão os psicólogos que quando se fala em coração, entenda-se mente.



Eu diria, sem medo de errar, que coração é sinônimo de alma. Amores verdadeiros envelhecem, sim. E branqueiam como os cabelos dos anciãos ao correr do tempo. E sulcam rugas nas faces como marcas vivas que restam de sorrisos e lágrimas.



Amor envelhece, sim. Mas jamais caduca, porque não é de neurônios que a ciência conhece, mas de Espírito, que nem os maiores entre os sábios pode desvendar o seu mistério.



Assim entendo o porque de os amantes terem consciência de que tem asas, porque é certo que os galhos tremam sob o guante de tempestades inevitáveis, de procelas inesperadas, mas o céu é o destino de quem aprende a voar através de um amor ou de uma paixão.














Um comentário:

  1. José Vicente Campos13 de agosto de 2012 às 05:55

    Caríssimo Amigo / Irmão Geraldo.
    "Envelhecer sem esmorecer" tudo o quanto você verteu sobre o envelhecimento está coerente. O Amor amadurece, jamais se torna caduco. A paixão é passageira e pode se transformar em ódio, mas o amor é eterno e se renova a cada dia. Pode eventualmente se aquietar, é como a pausa existente na música para torná-la hamonicamente divina.
    Paz e Luz na Jornada
    Vicente Campos
    Escritor, Jornalista e Terapeuta

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