UMA VIDA INSISTENTE


DO CADERNO G - 19/12/2009 -

A expressão "Viva a Vida" vem bem a calhar com um acontecimento inesperado a altura deste mês, que é Natal o ano todo. Há duas semanas, estas notícias balançaram os aventais cotidianos de nossa urbe. Sempre ouvia, em muitos  interlocutores, referências a uma personagem de nome  TUCHO.

À primeira audição soa como um nome masculino. Mas, não. Tucho era uma menina, com todos os predicados de feminilidade, em seus doze anos de idade.

De repente, Tucho foi parar na Santa Casa de Ipaussu. Seu quadro agravou-se, praticamente do nada. Transferiram-na, de ambulância, com U.T.I. para Assis. As notícias chegaram péssimas. Nem se sabe se ela chegou ao hospital de Assis em condições para procedimentos médicos válidos.

A informação sobre Tucho foi de que ela sofreu morte cerebral. Ato contínuo, seus órgãos, novos em folha, foram doados.

Ontem, 18 de dezembro, lhe foi prestada uma significativa homenagem, digna de chefe de estado. Tucho mereceu as honras recebidas da Fundação Ferraz Egreja, na pessoa de sua direção, funcionárias e da patota que deixou para saltar para a outra vida.

Sim. Tucho está agora dentro de outras vidas, por isso ela é mais do que uma lembrança concreta, e deu uma banana para a própria morte, de forma a evitar que esta levasse pessoas entre as que contava entre suas garras.

Inegavelmente, é difícil assimilar o porquê da morte de uma criança ou de alguém em plena juventude. Quando desaparece alguém  do cenário humano, já vivido e experimentado no que a vida tem de bom, de rotineiro, de especial e de males, até encontramos explicação na biologia e, de certa forma, assimilamos.

A Parca não colherá impunemente essas árvores que já produziram seus frutos, sejam os quais de natureza for.  Mas ao levar uma criança, em   florescência ainda, entendo como uma intromissão indevida, uma imposição inaceitável. Interrompe experiências de que toda alma carece nesse ensaio para a eternidade.

De qualquer modo, façamos voar mais alto o coração, a planar por sobre as aparências. Votemo-nos para o Espírito, que é eterno e nos assevera que no Universo nada há que se perca. Tucho não se perdeu. Encantou-se, tornou-se invisível, mas continua viva, até mesmo fisicamente, por conta de sua extrema doação.

Continua a viver em outras pessoas, das quais nunca sequer ouvir falar. Mas a vida fala, pela Tucho. Continua sob o impulso divino de outra Alma, o seu espetáculo. No milagre da ciência e no mistério da nossa fé.


0 comentários:

Postar um comentário

Comentários sempre serão bem-vindos!
Para assinar sua mensagem, escolha a opção "Comentar como -Nome/URL-" bastando deixar o campo URL vazio caso você não tenha um endereço na internet. Forte abraço!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...