ELA...QUE SEMPRE FOI LINDA !
Geraldo Generoso* p. Folha de Ourinhos
Ela já nasceu bela. Cercada de todos os mimos que a fortuna permite acrescentar mais qualidades aparentes do que a comum das mortais. Não se sabe se pelo compromisso de manter as formas e linhas de sua bem dotada natureza, ou pela compreensível ambição de aumentar as luzes de seu carisma impactante, ela sempre se cuidou muito bem.
Além do esperado e necessário. As pessoas a quem cumprimentava - pois mesmo discreta mantinha a fina educação de berço, havia aqueles e aquelas que diziam de si: Você está linda. Outros a chamavam: Poderosa e de adjetivos afins. Dos mais tácitos e de pouca familiaridade, embora não ouvisse, mentalmente exclamavam qualificativos parecidos: mulher maravilhosa, que coisa mais bela, parece feita a mão.
Na proporção que os anos se distanciavam de sua data de nascimento, mais se dava aos cuidados estéticos. Não se fazia tão premente aquela sua luta contra o tempo. Ela era bela e ponto. Habituara a se tratar bem, a emitir tão espontâneo quanto possível (o que nem sempre acontecia) aquele sorriso angelical que irradiava de seus lábios e de seus lindos olhos.
Apesar de seu ar pacífico e acolhedor, nenhum homem se atrevia a gentilezas que pudessem sugerir qualquer insinuação de algo mais do que amizade e admiração. Mas parava por aí. Temiam o embaraço de uma recusa, ainda que esperadamente educada.
E assim passou o tempo que, em dado momento, levou-a a perguntar-se:
Até hoje, desde que nasci, tomei por obrigação ser sempre a mais linda. E, afinal de contas, para quê?
Ou mais precisamente: Para quem?
E a solidão, em seu feitio inapelavelmente mudo, nada lhe respondeu e ela continuou a não entender o porquê de seus zelos e o próprio porquê de ter nascido e vivido tão bonita.
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