O ÚLTIMO PLANETA


Aos 23 anos de idade, fui agraciado com uma viagem a um planeta pelo qual sempre nutri especial interesse, mais do que mera curiosidade. Eu havia lido sobre fatos e situações desse lugar, tão longe da minha querência cósmica, e sempre duvidei sobre tudo quanto me informavam documentos os mais diversos, nas diferentes modalidades de mídia.

Assim, para melhor apreciar esse cenário, para mim atraente e ao mesmo tempo indutor a vários temores, na minha condição de jovem decidi por essa empreitada, de forma irrecusável e, diga-se de passagem, sem nenhuma garantia de retorno.

Vou resumir o quanto possível as impressões que obtive, mais abstratas do que concretas, sobre esse planeta diversificado, em certo ponto até mais misterioso do que o astro onde nasci e cresci.

Logo ao aqui chegar, desci no que me disseram ser uma comunidade, nome antes denominador da palavra favela. Deparei-me com um carro com homens e mulheres uniformizados, e os observei estar em auxílio num trabalho de parto dentro de uma casa muito pobre, tanto pelas paredes enegrecidas e enrugadas quanto pela mobília das mais singelas.

De repente, vi lampejar os olhos dos uniformizados, cujo nome descobri serem policiais, coisa que já em meu planeta de há muito não mais sequer ouvia falar. Mas o que mais me causou estranheza foi que, em poucos quarteirões adiante vi homens com os mesmos uniformes dos que julguei parteiros, com objetos que saíam fogo, em revide a instrumentos quase iguais usados por elementos em trajes normais.

Aí concluí que o planeta era contraditório em termos de vida e morte. Passei por hospitais e vi vidas sendo resgatadas. Muitas delas apenas para continuidade de dores e gemidos, ainda assim a vida estava sendo valorizada. Não opino sobre o que acho certo ou errado, me fiz apenas num observador objetivo. 

E nesse quesito, senti não tanto piedade, quanto admiração pela luta dos habitantes da Terra. Aliás, melhor seria habitantes do Planeta Mar, porque descobri que mais de 70% da área desse lugar se constitui em água. Salgada, em sua maioria.
 Uma ínfima porção denominada água doce, e que já começa a ser um problema para os terráqueos. Não por inclemência da Natureza, mas por incúria da própria humanidade, onde cada qual, infelizmente, nos tempos atuais em que aqui me encontro (ano 2014 DC), adotaram o perigoso lema do “cada um para si”. Não só em termos de pessoas, mas de países também. Essa questão é bem estudada em meu planeta de origem, por isso não me detive em constatar o que já sabia. Que apesar da fome reinante em número de milhões, as safras são recordes e a abundância de alimentos pode suprir com sobra a fome desses contingentes humanos em diferentes pontos do globo.
Enfim, pelo que constatei, o leitor terráqueo sabe sobre quase  tudo, e a cada momento se depara com uma luta ingente contra a doença e a morte. Em meu país cósmico tudo se encontra praticamente resolvido sob esses aspectos. 
A partir da genética (e os terrenos estão elaborando trabalhos nesse sentido) eliminarão a doença antes do nascimento das pessoas. E por aí afora, tudo se encontra nos eixos e em conformidade.
Mas o item que me assombra é ver que em meio a tanta desordem, tanta desgraça, onde se rompe  a carnificina em campos de batalha e até em lugares pacíficos, a fome campeia como um doido fantasma.  Mas apesar desse quadro de constantes terrores,  esses indivíduos lutam por uma vida, mesmo sem qualidade, mesmo sem estímulo e quase sem esperança.


Nesse ponto, eles são superiores a nós, habitantes de um orbe onde a criação se concluiu com êxito e onde se pode dizer que, concluído, podemos afirmar “eis que tudo está bom”. 

Geraldo Generoso (Direitos autorais reservados para o livro a sair em 2016.)

Um comentário:

  1. Ah! Geraldo! Amei o que li e só foi uma parte... Espero ansiosa por seu livro. Um dia suas palavras serão mais do que profecias, serão realidades, e espero poder estar aqui, ou pelo menos na espiritualidade, para ver tudo isto acontecer. Um grande abraço desta tua amiga.

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