O BAR DO BRUCUTU
Geraldo
Machado
“O bar ainda está aberto, com as suas portas
escancaradas para a madrugada. Não há mais ninguém nas ruas, feitas de cidade
pequena, que folga seu aconchego na noite deserta, isenta de humanos passos”.
Geraldo Generoso – HUMOR
MORENO (Ed, Agbook, 2012)
O
escritor “santa-rosense” nasceu no município de Timburi, além- Paranapanema e
aquém-Itararé. É paulista e tem do espanhol os dois pronunciados sobrenomes. “Ao meu irmão, amigo e xará, Sr. Geraldo
Machado, com o meu cordial abraço em
tríplice impacto”.
Preste atenção o
leitor: é a dedicatória com a qual ele me saúda e assina ao dar-me de presente
o seu novo livro, HUMOR MORENO- Cronicontos do Interior . Foi da alma do seu “humor moreno’,
ou mourisco, que eu fisguei as primeiras quatro linhas do pequeno volume
precioso. São 108 páginas e 108 “histórias que integram a memória das pequenas
cidades”. Na introdução ele cita o sábio chinês Lao-Tse: “O humor é mais sábio do que a própria sabedoria”.
Li e ri, gostei do
chinês. Ri, sem cócegas, num só fôlego, as histórias do Geraldo, meu xará, meu
amigo, meu irmão talentoso. Somos, ele e eu, dois caboclinhos saudosistas de
uma saudade que se mede pela idade e pesa mais prá mim nos impactos.
Somos
ribeirinhos, como as capivaras que pastam a capituva das margens do Itararé –
onde eu “fui beber água e não achei” – ou do Paranapanema, onde sobra água na
represa e a minha sede não acaba. Sede de saudosista – trava a língua.
O
Oswaldo Romão, o WALDO, dono do bar do Brucutu não vai pensar que me esqueci
dele e do seu bem frequentado bar, ou melhor, lanchonete. É o que a nossa
cidade – de muitas necessidades – tem de melhor no ramo.
Talvez, seja a melhor
coisa que você fez até hoje, foi essa: voltar para Chavantes, de mala e cuia,
quiçá, o melhor investimento dessa pródiga (generosa), reviravolta da sua vida.
Veio para ficar, por
opção. Você, moço. Pelo que me contou, nasceu em 1947, 7 de outubro; o
Generoso, em 1948, 19 de julho. Ambos, moços. Ele cursou as primeiras letras na
própria Fazenda e você, na Fazenda Santa Francisca.
No sítio não havia escola.
Afora o que você me contou, não sei patavina da sua vida por este mundo de meu
Deus e dos “bem-aventurosos” ,como o Cachoeira. Espero ver o bar do Brucutu,
apinhado, cervejando a queda (pelo menos sete quedas), dessa cascata de
ladrões.
O
meninão Waldo pegava carona no meu Jeep-51, quando, cedinho, eu levava o Murilo
e a Cristina para a aula no mesmo grupo de Chavantes. Se você fizesse conta da
poeira, estaria hoje em corte de cana para os usineiros: boa e acertada escolha
a sua. Estaria, hoje, vendendo garapa, invés de cerveja.
Os seus pais, José
Romão e Diolanda Cruz, mudaram para o sítio com você no colo. Filho único e
herdeiro, com um ano e meio de idade. Vou resumir a sua história (um vaidoso
encargo), não por preguiça – é muita coisa para a minha cabeça. Sua mãe, a
Landa, sabe mais, é o que lhe basta. Eu, velho “patrão”, os entendo.
Trabalharam muito
tempo comigo, colonos que eram. Saíram de lá, foram para a cidade para dar
início no que você tem de bom: filho e gente. Hoje, idosa e aposentada, a Landa
tem a vida que pediu a Deus.
Conheci a sua casa e a edícula que você mandou
construir pra ela. Tudo do melhor eu vi nas casas gêmeas. O bar, este, veio bem antes, no terreno de esquina. Têm razão os seus
fregueses e amigos: é um lugar muito especial para cervejar e papear nos
feriados e todas as noites, é o que eles fazem.
Não vou citar nomes,
não é meu costume. Mas, com esta memória esgarçada, lembro-me de quase todos os
seus amigos que aí se irmanam. Lembro, com saudades, do Nelson Gonçalves e o
seu violão, de retorno para os amigos leais... Você dá conta (naturalmente), dá
a conta a todos, direitinho, tostão por tostão, do churrasco ao troco.
Não
cobra, recebe. Um dia desses peço para alguém me levar para uma cerveja bem
gelada. Você me ofereceu e eu não tomei porque fazia frio e ventava lá fora.
Aceito o vinho seco e tinto: ele não afeta as minhas coronárias bem protegidas.
À noite, nunca. Não saio, e a minha filha não dorme enquanto eu não chegar,
(aqui troco o Nelson Gonçalves pelo Adoniram Barbosa). Enquanto o Faustão, da
Globo, se sustentar nas pernas e na fala, o “show” deve continuar e eu vou lhe
ver... se não chover e, se chover, chove no molhado.
Vou
terminar com chave de ouro, este “humor moreno”. O xará vai me emprestar um
nadinha da sua verve para me animar e, ao mesmo tempo terminar este texto. Eu
já devia tê-lo escrito quando podia passar uma hora entre amigos, no Bar do
Brucutu, aprendiz de Lao-Tse que sou, e que sabe que o “Humor é mais sábio do que a própria sabedoria”, e que a burrice
não faz negócios da China.
“Só o boteco ali na esquina insiste em ser
uma ilha povoada em meio ao arquipélago de casas dormentes. Ali, um pequeno
número de fregueses, entre os mais insistentes a enfrentar o sono ou a fugir da
solidão, teimam em molhar as palavras com o amargor gostoso e suave da
cerveja preferida”.
Sanada
a dívida, vou dormir sossegado, com os arcanjos que, pelo sinal, são friorentos
como eu e a tia Landa, mãe do Oswaldo Cruz, dono do bar onde só a conversa é
fiada.
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