PASSAGENS DA MINHA VIDA (Gegê) -

       Nossa Patota: JUSTINO (Rojão); Eu (GERALDO GENEROSO); LUIZ ANTONIO  ARANTES (Céu); PAULO ROSA DE CAMPOS; José da Silva MOREIRA E TONINHO GALVANIN (Bicudo).


       Esta turminha nunca pretendeu se destacar ou fazer algo de extraordinário para aparecer. A gente era feliz com o simples acontecer das coisas, nas horas de folga. Com cinema, uma cervejinha e papos bem mesclados. 

       Enfim, éramos como uma família. Só de homens, porque nenhum de nós, nesse flagrante aí (lá pela década de 60), tinha namorada. Oras, eu estive pensando porque, àquele tempo em que a liberalização dos costumes já andava à  solta, éramos tão comportados e desprovidos do complemento  feminino indispensável.

       Arrisco a pensar que, no fundo, todos nós, ainda que de masculinidade insuspeita, éramos sonhadores demais.  Ou com um adjetivo menos complacente, éramos por demais exigentes.

       Sempre com a alça de mira voltada para amores impossíveis entre as nossas colegas escola. Entre elas, algumas "minas" (era o termo da época) - simplesmente encantadoras.

Meninas felizes, exuberantes e perfumadas.  Talvez por sadismo, até  abriam a guarda para alguns de nós, mas na hora de firmar namoro , melavam. Queriam gatos ricos, melhor situados, de famílias tradicionais e aquele papo todo. 

     A gente até, particularmente, não se julgava vítima de preconceito por sermos pobres, ainda que decentes. Rojão era saqueiro; eu,  balconista da Baiúca do Miguel; o Céu trabalhava na Cia. Luiz e Força, tinha la seus trocos; já o Moreira era contador da Prefeitura ( com ele era mais cruzeiros no bolso do que nos nossos). 

     Paulinho era estudante, filho de pai operário do D.E.R. Já o Bicudo era de outra idade e não estava incurso na mesma situação nossa. Ele aparecia de repente no nosso grupo, mas não era iniciado nos nossos mistérios de amadores (sim, do verbo amar mesmo) das gatas que estavam além de nosso voo de pombinhos pobres.

     Nesta foto, não sei de que ano, mas me recordo exatamente  o dia e  mês: 6 de fevereiro, aniversário do Moreira. No Bar Riviera (do Eduardinho Ramos), nosso point,  o cardápio líquido foi champanha e, uma depois da outra, evocada pelo Marcílio Azevedo: "mais uma 'celva' estupidamente gelada". 

     Nem é preciso dizer que, apesar de geladas, elas esquentaram as nossas cabeças a ponto de fervura. Uns mais, outros menos, mas Moreira e eu tomamos todas. As que tínhamos direito e outras  indevistas bebericagens, que o Marcilião trazia e dizia que eram "fortificantes para a cuca". 

     No decorrer da festa do Aniversariante Moreira, eis um imprevisto que só agora, em 2016, passado meio século, eu vi revelada a razão de uma encrenca em que nossa inofensiva patota se meteu.


      CAUSA DA ENCRENCA SÓ AGORA REVELADA

      Aproximou-se de repente de nossa mesa um tal de Otávio. Todos ficamos boiando, mas o rapaz se mostrou com cara de poucos amigos. Entre nós, dava para se ver, ele estava com aversão de um dos comensais vizinhos. Bicudo não estava a essa hora conosco na mesa. Era mais novo e, por certo, já havia ido embora.

      Mas o nosso desconhecido vizinho de bebericações e comilanças, lá  estava e nós todos sem saber o que estava a se passar. Foi então que o Moreira, líder da nossa turmota, indagou sobre o quê estava acontecendo. O diálogo foi mais ou menos assim:

   Otávio:    - Eu quero saber se tem algum homem aqui nessa mesa!
 Moreira: Afinal, o que está acontecendo, meu amigo? Eu estou comemorando meu aniversário com 0 meu pessoal aqui. 
  Otávio : ´- É o seguinte. Eu quero saber qual de vocês piscou para a minha noiva? Quem foi o macho aí que fez isso?
 Moreira;  - Amigo. Há alguma coisa errada nisso. Embora eu esteja fora de sua suspeita fora de hora, por estar de costas para sua noiva, estou aqui com os meus amigos para o que der e vier. Se algum entre eles fez isso será muito homem para sustentar o ato, ainda que impróprio, e aí a gente vai ter que fazer uma guerra  injusta de todos nós contra você sozinho, se sua noiva não te acompanhar nessa luta.

        Nesse momento, nosso colega Rojão saqueiro do IBC , que era muito desligado (e nunca fora de briga), talvez pelo calor que vinha de dentro pra fora pelo teor alcoólico excessivo, desvestiu a blusa que vestia e ficou de manga curta. 

     Mas o gesto foi decisivo. Otávio sem mais delongas, ao interpretar aquele gesto do Rojão, simplesmente voltou para a própria mesa, onde sua noiva estava com às mãos à cabeça, antevendo a surra que ele poderia levar. E pelo jeito, muito arrependida do gesto, pois veio-lhe ao encontro e disse: 

    - Ah, Tavinho. Eu tava brincando com você.  Esses moços são muito bons. E até nenhum deles tem namorada... O negócio deles é só beber e conversar entre eles aí da patota.

     O tempo rolou, rolou. O incidente passou batido e sem nenhuma consequência. Nada de mortos, feridos ou traídos.  

      Mas a moça tinha razão. E quem realmente piscou, sem dor de consciência, confesso que fui eu. Isto se deu  no momento em que, no ato de limpar as lentes dos óculos, alternei (como até hoje me obrigo ) fechar um olho, e depois, outro para uma limpeza eficaz e transparente.

     Tudo terminou em pizza. Ou melhor, em missa. Rezada pelo Moreira, às 2h da madrugada, no Coreto da Praça, muito bem assessorado pela sua impagável patota. Que aí está na foto acima e embaixo a ilustração simbólica e parcial das bebidas consumidas naquela inesquecível  comemoração.  
       

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