BANQUETE IMPROVISADO


CHURRASCARIA RODA VIVA OU VIVEIRO  ?

     Vida de política pode ser tudo, menos, monótona. Mesmo para os menos afeitos ao exercício da sociabilidade, sempre há surpresas reservadas, apuros a superar, arestas a aparar. Para dizer a verdade, não há político em cima de terra que não se depare com um desafio a cada passo.
     
      Fui vereador em Ipaussu, SP, município situado meando o sudeste e o sudoeste do Estado de São Paulo, Brazil. Nesse sextênio, me deparei com várias situações inusitadas. Atualmente, ainda vivo no meio político, como assessor parlamentar da mesma Casa que presidi no biênio 1985-86. 

     A história de hoje, traz (e ele sempre está presente nas minhas recordações)  um protagonismo da ímpar figura do nosso perpétuo delegado partidário, Eudóxio da Silva Mattos. Dobrar esse "X" em "QS" do nome dele não era lá muito fácil para sua clientela, sempre com cheiro de povo.  Daí seu nome passar à corruptela de DÓCIO .

     Não me lembro do dia exato, senão que foi num domingo bem ensolarado e convidativo para a pessoas e famílias se deliciarem nas imediações do Parque José Nocolau à altura do início do Lago Artificial. 

      Só me lembro tratar-se de período pré-eleitoral que, coincidentemente recebe a visita de muitos candidatos a deputados estaduais e federais. Não seria diferente com Ipaussu, pois embora cidade de pequeno porte, de 13 mil habitantes, havia políticos locais que faziam barulho. 

     E quem principalmente puxava essa banda ruidosa era sempre o Dócio, como delegado do PMDB. Nunca ocupou qualquer cargo parlamentar ou executivo. Ele fazia questão em ser um militante. E que militante. Era famoso no pedaço por ter lutado na Revolução de 1932, ainda que fosse getulista dos pés à cabeça, ruiva e de cabelos rebeldes.

     APARECERAM OS CANDIDATOS ( a deputado,  e a farta comilança)
    
      Os deputados visitantes: Osvaldo Doretto, de Marília e Benedito Ribeiro, da capital, mas com fortes raízes na vizinha cidade de Santa Cruz do Rio Pardo, chegaram por volta das 11 horas da manhã ao local combinado: Churrascaria do Serginho Scacchetti.

       Logo na chegada se deram a apertar as mãos dos eleitores em geral, pegar crianças no colo e outros mimos. Sempre anunciados, ainda ali no terraço, pelo Dócio: "Nestes meninos eu confio, e podem ter certeza, eu faço política desde que nasci. Este mais alto, é o Doreto, grande médico e um lutador feroz contra os ladrões. É o nosso candidato a deputado federal, e tá eleito""
    
         E prosseguiu nas apresentações:
       "Este outro menino, mais robusto um pouquinho, é o Benedito Ribeiro. Filho da grande vizinha cidade de Santa Cruz, vocês podem chamar ele de Ditão. . Outro baluarte da democracia e batalhador por nossa cidade, que ele conhece muito bem ...etc".

     Conversa vai, conversa vem, até que os candidatos, cada qual com alguns assessores, se aproximaram do balcão. Pediram algo para beber. Dócio ficou na porta do restaurante em conversas com uns e outros. Entremeava alguns discursos ao público, ao que ele chamava de micro-comícios. 
   
       O relógio não parou. O prefeito Toninho Alonso falava com os candidatos, no pouco que lhe sobrava de oportunidade, já que Dócio, muito paroleiro, pouca chance dava a quem quisesse falar. Até aí tudo bem. Estávamos acostumados com essas visitas de políticos. E na verdade, o PMDB sempre se mantinha candidatos bem votados a cada eleição.

Enfim, o Almoço

        Já passava de meio-dia. Hora de fome aguçada pelos temperos do Scacchetti, como de costume. Eudóxio não se deu por esperar. De plantão na área externa, alternava entre trazer para as mesas 2 ou 3 apetitosos peemedebistas para o almoço.

       A certa altura, já nem cabia mais no recinto, tal o número de "convidados do Eudóxio". E foi então que, como anfitrião oficial, na qualidade de presidente da Câmara, que havia marcado o almoço para um número de 10 pessoas, eu nem tive coragem de contar o número de penetras - introduzidos pelo Eudóxio, pois não teria verba para arcar com aquela inusitada comilança.

       Sem contar que rolou cerveja e refrigerante às pampas, até mesmo para bebericação de alguns ferrenhos adversários nossos que não perderam a deixa de Eudóxio para homenagear com a "ilustre presença" os nossos candidatos do PMDB.

      Comecei a pensar como pagar aquele exagero. Devo ter refletido em minha expressão, facial e corporal, aquela sensação de impotência, e ao mesmo tempo puto da vida com o Eudóxio ter trazido aquele exército, sem condições mínimas de arcar com aquele "rancho".

       Chegado ao término, o dono da Cantina me traz a conta. Nem me lembro quanto, só que montava a umas  10 ou 15 vezes o meu subsídio, inclusa  a verba de representação. Aí devo ter esbugalhado os olhos e girado a cabeça numa consequente zonzura, até que os parlamentares,  Doreto e Ribeiro me perguntaram sobre quem iria pagar aquela conta.

       Salvo pelo gongo, o prefeito de Ipaussu, Toninho Alonso, sacou de seu cheque especial Banespa, preencheu e entregou ao Scacchetti, que com um sorriso, disse a olhar para mim em tom de deboche:

       - Geraldo, volte sempre. Muito obrigado. Quando você vai reservar mais um encontro com deputados? 
     
           Não respondi à pergunta  do comerciante. E  obviamente, se o tivesse feito, eu respeitaria você,  leitor ou internauta, e não reproduziria aqui os palavrões que retive por educação e amizade.

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