MACHADO FALA SOBRE ÁRVORES PLANTADAS

Cedo a palavra ao mestre Geraldo Machado, 96, residente em Chavantes e que é
um cidadão do mundo, naturalistas e apaixonado pela vida.Abaixo, uma crônica de seu livro 
NA GARUPA DA MEMÓRIA



AS ÁRVORES QUE EU PLANTEI



Geraldo Machado

“É mais fácil começar do que parar.”


Em 1945, assim que terminou a guerra entre os Aliados e o Eixo,eu vi a minha grande oportunidade de voltar para a minha casa da infância, no sítio Guarantan, do meu avô Possidônio e da minha avó Veridiana, já falecidos àquela altura.

 De volta para quitar a dívida com a vocação imbatível pela agricultura. Eu vivia nos meus 25 anos e sonhava com a vida que tinha, desafiadora, pela frente.

Eu sabia, por intuição, que em todo homem em que  há uma tendência inata para certa atividade, persevera e ouve o apelo de forças solidárias, ocultas,que empurra pra diante e o leva pra lá.  Isso é saudável na coisa e imperativo, de modo.

A boa agricultura exige mais que possuir “10 alqueires e uma vaca..” Requer diligência, não a militância – a de direita ou a canhota. O alqueire de terra só tem três dimensões: largura, comprimento e “altura”. Esta, entre aspas, não conta e se perde nas nuvens: de chuva ou de sol. Vou me esquecendo de uma “dimensão”, a ideológica. Esta não é registrada em Cartório, não paga Imposto Territorial.
Mas, em compensação (negativa) custa ao bom agricultor, os olhos da cara. É caríssima e desordeira. Não produz, briga. Quando dois brigam, lucra o terceiro, que é um adágio. É mais que corriqueiro, para ser de Sêneca, que não é sábio do óbvio acadêmico, que não uiva mas pontifica. 


Todavia, nisso, há a turma do “deixa disso”. Essa turma do quebra a porteira, corta o fio de arame da cerca, bota fogo, mata o touro melhorador do plantel e faz churrasco da carne, que é boa. Olha, leitor, como é fácil começar.

Tenho espaço para ir longe,  mesmo para justificar o título  deste artigo de quem não sabe lidar com computador. Assim mesmo, eu plantei uma peroba lá no Guarantan, sítio onde nasci. A peroba é, como a cabreúva, o ipê, madeira de lei, tem cerne, é dura (dura lex). Se os “fora da lei “ofendê-las, usando-as como lenha ou carvão para churrasco nos feriados emendados, cometem grave e imperdoável agravo à lei do sambientalistas da Marina Marina Silva – vão tirá-la do sério.


O brasileiro deste tempo, terceiromundista dos BRICs, de chinelos de “vão de dedo”, a cerveja de latinha numa mão e, noutra mão um cigarro (se bebe não guie; se fuma, tussa), não larga do celular, esse carrapicho que não desgruda e agarra. Enxerido neste contexto, etsá o senador Suplicy, coçando aquela caspa histórica e histericamente chatérrima: “Distribuição da Renda Básica”.

Trouxe esse estropício para cá, duma  viagem ao Alasca, freio pra danar.  Perdas e danos para nós, contribuintes, que não iremos ganhar 10º primeiro, segundo, terceiro...até a não ser que a casa caia.
                Leitor de renda básica, vamos parar, que é mais fácil e, também deixar de ser “manés”. 


Somos, fazemos parte (nós e a modéstia) do Mercosul, essa “comedeira”, esse “saco de gatos” que os voluntariosos da Pátria corroem a nossa economia e dar azo à mania de pegar nações “hermanas” para acabar de criar, trocando soja e trigo com armas para os bandidos da Rocinha e “pó” para o nariz dos viciados da “cracolândia”. Haja fôlego! Tossimos nós.

                Já contei, não vou repetir, toda a minha vida articulada, indiscretamente, em dois jornais da região. Uma coleção organizada por pessoas amigas que, citadas aqui, nunca me perdoariam pela indiscrição, teve um final felilz: dois livros de memórias que, à maneira de um “saquinho”, correm por aí, de mão em mão, como dinheiro de sacristão.

                Sem me amofinar, por fora, sem saber, deram-me alegria por conta desses livros, sem depender do óbolo da Renda Básica do visionário senador, defensor de causas perdidas que, aos domingos, faz caminhada na Avenida Paulista, de zóio na reeleição.

                Plantei muitas árvores, até que as pernas não mais me ajudam. Mas a peroba é especial e “inédita”. Foi assim que aconteceu, por acaso. Um dia, o Dionírio Rosa, camarada efetivo e afetivo da família, que veio, só, solteirão franciscano (ele tinha um irmão chamado Francisco Rosa, citado no “Celeiro da Memória”, pág 112 – “Os Rosa”).
                O Adoniram foi conhecido do Dionírio. Adoniram fica bem para o outro, o Barbosa,que foi convidado para ir ao Braz, para uma festa na casa do Arnesto, leitor, que se perdesse o “trem das onze”, deixava a mãe sem dormir enquanto ele não chegava. Esta história é letra de música para as gerações sucessivas, mais importantes que “My Way” do Sinatra – não do Sêneca, seja dito.

                Um belo dia, o Dionírio, que carpia mato do pomar – que pomar! -, me chamou: “Geraldo, vem cá um pouqinho.” Fui com ele. Lá me mostrou uma mudinha de peroba, limpa ao redor, pronta para sair dali, fora do lugar.

                O Dionírio deu um pulo em casa e voltou com um enxadão. A “arvinha” foi arrancada sem ser desenraizada e plantada, abeirando uma cerca no pasto, perto da minha casa. Enquanto eu terminava a tarefa, o meu ajudante trouxe o regador com água. 

Ficou lá a perobinha enquanto a história corria. O empregado, com tempo e com o  inventário de meu pai, foi para Londrina, morar num lote que seu irmão mais novo, Luciano, comprou, trabalhando em sua banca de jornal, na Londrina pujante, por mais de 20 anos – era solteiro como os varões dos Rosa.




                Um dia destes lembrei da árvore esquecida de mais de 50 anos. Pedi para o Cido, que trabalha no meu Sítio: “Cido, pega um barbante, vá lá em baixo, no Guarantan e meça a grossura da árvore na altura do seu peito”. Ele foi e deu a resposta pelo celular:

 “Seu Geraldo, a peroba está com 1 metro e 70 centímetros de grossura. Mas, vou lhe dar  uma notícia triste: o vento brabo fez ela se inclinar, descobrindo as raízes que cobriam  o lajeado de pedra preta (basalto). Fiquei triste, mas ...é a vida. A fronde da árvore está verde, nem murchou. 

É triste mas não é inconsolável. Ficará, assim, inclinada, encostada numa árvore que, ao seu lado, lhe ampara, até quando essa Torre de Pisa, vegetal e verde? Encostando, encostando, até virar de costas. Só não vê isto os de má inclinação, seja no Sítio do Adoniram, com a peroba; seja em Pisa, a Torre de Galileu Galilei. 


O sábio,que não conseguiu o apoio dos seus maiores (leigos ou tonsurados), morreu resmungando: “No entretanto gira”. A árvore que você mediu, Cido, no entrementes, bilha e flora, enquanto não faltar o alento da fotssíntese nas suas verdes ramas. Naturalmente, a árvore vizinha, que não canse até que, abraçadas, também juntas, com uma inesperada chuva braba.


                

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