A PRIMEIRA VEZ QUE ELA FALOU "PAPAI".

CHAMOU PELO PAI E QUASE LEVOU UMA PISA.
Em atendimento ao apelo de um amigo, cujo apelido era Cacau, fui como testemunha em uma querela sobre direito de paternidade. Vale dizer que, a esse tempo, ainda não existia o fatal exame de D.N.A. 
Em resumo, uma mulher, filha de uma mãe muito idosa, houve por se dizer, a partir dos relatos maternos, já portadora de caduquice (também não havia a denominação Alzheimer) sobre os relacionamentos mantidos, ou mais propriamente sobre aquele da qual ela era fruto, e sempre mantido em sigilo. 
Tudo porque, entre os citados, havia a menção a Cacau, no relato da venerável senhora. E Cacau  havia vendido uma casa, da qual fui comprador, com pagamento à vista. E a essa altura, vamos chamar de Nair a essa pretensa herdeira, queria parte do que lhe competia como filha do vendedor. 
Não deu outra. Acabamos no fórum de Santa Cruz do Rio Pardo, então Comarca de Ipaussu. Aguardávamos a chegada do juiz, ou quem suas vezes fizesse, para ouvir a queixa e tomar alguma medida. O negócio foi sentar e esperar.
Vai senão quando, num acesso de ternura que bem lhe convinha, Nair se aproximou do lugar onde estávamos e, numa voz  bem piegas  buscou um tremendo agudo, e  clamou por Cacau, pela primeira vez por um termo que nunca usara desde nascida, então do alto de seus 45 anos de idade:
- Papai! Me dá um abraço e vamos embora daqui, acabar com essa história.
Respondeu Cacau roxo de raiva, já que era de tez escura:

- O quê? Olha aqui o meio do mundo (e cada vez gritando mais alto). Não tenho filho  e muito menos filha da p....  nenhuma , e muito menos do seu tamanho. E já que me chamou de pai, deixa eu tirar a cinta que aqui mesmo você vai levar uma pisa que vai me fazer ir preso com muito gosto.

Não deu pano rápido, não. O juiz chegou e ordenou que todos, inclusive as testemunhas, Hélio Brizola e eu, "evacuássemos o recinto".

O plano da pretensa herdeira falhou. Aliás, não havia nenhuma base para isso. Pois Cacau, durante audiência, já então tendo como patrono de sua causa nosso grande advogado Edson Santos Souza, o Carioca, não perdeu chance em sapecar, com sua beiçola avantajada:
- Esse é mais um causo do papagaio comer a fruta e o tico tico levar a culpa.
Geraldo Peres Generoso - 
Excerto do livro Humor Mulato em preparo, para a Amazon.


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