EU E AS DROGAS

    DROGA Á PRIMEIRA VISTA

     De vez em quando, sem qualquer laivo de narcisismo literário, armadilha a que muitos escritores caem sem perceber, uso contar um pouco da minha vida. Uma existência simples, feita de rotina na maior parte dos dias - como a vida da maioria deste planeta complicado. 

E, permita-me confessar, apesar de desde muito cedo na vida, pelo meu fenótipo inevitável, até pessoas por mim desconhecidas,  me chamam  de professor. 

Na verdade, transpondo para o mundo das patentes - muito prezadas na vida militar, sou nada mais do que um soldado raso da educação, em termos de estudo convencional, acadêmico.

 Faço esta ressalva porque, em minha audidatice literária, eu me realizo sempre, não em dar lições para a vida, mas em fazer, sempre e sempre, com que inspire bom humor aos que lerem. Acho que quando a tragédia marca o ponto final do texto não faz o meu gênero: - nem de leitura nem de escrita.

O caso de hoje remonta ao ano de 1966, quando mudei-me para Piraju para estudar no Instituto de Educação Cel. Nhonhô Braga. Foi um ano marcante em minha vida. 

Frequentei o antigo curso Normal, de magistério, vindo depois a ser chamado de Professor I na categoria, e somente  em 1970 vim a  me formar no C.E.N.E. Diva Figueiredo da Silveira, de Paraguaçu Paulista.

Mas vamos ao 1966. Aos 18 anos (nem isso),  fui atropelado por  uma paixão à primeira vista. Era uma vizinha da minha idade.  Até correspondia, de forma muito light como se diz atualmente, mas já tinha um namorado. O lema do amor virou  dilema. 

Eu não sabia lidar com esse sentimento. E como ouvia muito, àquela época (e até hoje) músicas sertanejas, o mote das canções, na maioria, (canções rancheiras) falavam da bebida como remédio para os males do amor. 

A par com essa experiência romântica devastadora para meu coração inexperiente,  e pela minha timidez natural, vindo da fazenda, criado num mundo simples e de pouca gente,. comecei a sentir necessidade de algo que me fizesse sair do que até então eu tinha sido: um menino comportado, avesso a ousadias. Ainda mais com relação ao sexo oposto.

Até porque àquele tempo, pegar na mão da namorada já era uma aventura, invejável aos menos sortudos. E ainda mais fiquei na sinuca quando li um provérbio de Napoleão Bonaparte onde ele dava um dica que parecia servir para minha situação: "A fortuna e as mulheres, geralmente concedem seus favores aos audazes".

Mas eu audaz? Com que cara? Com que roupa? 

Eis que a história de hoje  comprova como são nocivas as ditas más companhias. E tais (maus) companheiros, voltados para o proibido, são também atrevidos.  Se  expõem e impõem,   até por uma lei da atração dos opostos,  preferem os mais comportados para, ao feitio de um demônio, desencaminhá-los para uma vida  igual ou pior que a deles.

Logo no início das aulas , esse colega, que se fez de muito meu amigo, até pelo fato de por desgraça ser meu vizinho, se pôs a me induzir ao hábito de, a cada saída para a aula, beber uma "rabo de galo", na verdade uma mescla alcoólica, que hoje acredito estar fora de moda e cujos ingredientes específicos, , até por uma defesa inconsciente ,me esqueci. E ele sapecava: "É isso aí. Afoga essa mágoa e bebe o sangue dela !

O pretexto foi que a "rabo de galo" me tornaria um cara mais simpático e, com muito jeito, até me convenceu que eu poderia ser um conquistador como os amigos Riato e Montilha, que tinham namoradas firmes  e gozavam da simpatia de todo o mulherio, tanto  escolar e fora dele.

Vamos chamar esse amigo de Pinheiro. Ele ainda agregou outro benefício para que eu não relutasse em consumir bebidas alcoólicas.  E daí foi que até passei a gostar de certas bebidas, puras ou misturadas, embora nunca tenha sido chegado em cerveja.

 Disse ele que com a manguaça na cachola eu ia ser mais expansivo nos estágios do curso de magistério que juntos cursávamos. Eu enfrentaria a classe sem medo e os colegas que me inspecionavam os defeitos na exposição.

Concordei, mas no dia que fui estrear para a aula-estágio, passei da dose e a professora, Dona  Elinah simplesmente recomendou na metade da minha explanação  que eu encerrasse e fosse pedir um café forte na cozinha da escola para cortar a bebedeira.

Por fim resolvi pela cachaça pura, pois meu tio bisavô, Joaquim Caldeirão era um grande consumidor de pinga (a Verdinha era a preferida dele), e era um cara muito legal. Bebia e não ficava zonzo, bêbado ou tonto e era estimado de toda a redondeza ali de Timburi, a que pertencia a fazenda que eu morava. 

Começaram as consequências do meu vício ainda iniciante. A experiência não foi das melhores. A minha vizinha, e meia-musa (já que tinha um namorado), deu mostras de não aprovar aquelas minhas liberalidades alcoólicas. Para completar, em vez de me alegrar, a bebida começou a me deixar deprimido, inquieto, infeliz. Até com enxaqueca e vista embaralhada.

Até que o Pinheiro, conhecido no meio social como pessoa menos recomendável, passou a oferecer bolinhas (droga da época) para um grupinho, que foi crescendo, Nessa eu não entrei, pois a essa altura já havia constatado que o danado do falso traficante  era mesmo um safado e, acima de tudo charlatão. Não se atinha sequer à ética que a própria bandidagem é useira em manter.

Sim, ele ficou desmoralizado ao extremo. Como não bastasse a ilicitude de vender "bolinhas", (nem sei com que era composto), só sei que o Pinheiro, para cúmulo da falta de idoneidade, vendia placebo que aprendeu a fazer com um farmacêutico de Fartura. 

Da bebida eu já havia desistido, por fastio e por zelo para com a  minha meia musa (metade minha, metade do namorado ). Quanto à droga do Pinheiro, ele próprio uma droga na pior expressão do termo, deixei longe de mim e rompi completamente os laços tênues que mantínhamos até então.

.Enfim, como todos os males vêm para o bem, esse foi mais um e me inspirou este provérbio que dá um pouco para pensar:
         "O mais importante não é a amizade, mas o tipo de amigo que nos escolhe e que escolhemos".
          O vendedor de  falsas bolinhas sumiu para sempre da minha vida e nenhum de seus "amigos" o salvou de uma bela pisa que ele levou de um grupo que se sentiu lesado em seus direitos de consumidores.  Foi proibido de   voltar a Piraju, com pena de levar uma surra bem maior,  que o impediria da viagem de regresso ao distrito rural em que morava.





5 comentários:

  1. De "Pinheiros", o mundo tá cheio. Antes fosse só no inferno...!! Abs!!

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    1. Verdade, Jonas. É o que mais tem. O duro que esta história é pinçada da vida real.

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  2. Passei bons momentos lendo este texto,amigo

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    1. Obrigado, Roberto. São retalhos da minha vida feita de pano pequeno que veste este interior de sp. kkkk Grande abraço. Admiro seus textos e me identifico com suas posições.

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