- Eu trago uma marca atávica
- Como uma cicatriz da História,
- Desde os seus fios primordiais,
Antes
mesmo, talvez,
Que todo
esse progresso chegasse.
Dou trabalho, reconheço,
No bom e no mau sentido.
No aspecto menos feliz,
Basta-me tão só declarar
O sub-ofício que exerço.
Mas, a
partir da tramela
E do
ferrolho, estou gerando empregos,
Cuido
de levar levas e levas de pessoas,
Avaras sem
dizer sequer “muito obrigado”.
Graças a mim
Quantas portas se fazem
Num mundo feito de casas,
Cada vez mais fechadas.
Quanto e como evoluíram
Carpintaria e marcenaria,
Quantas e quantas fábricas de
pregos,
De vernizes e tintas,
De batentes e fechaduras
Não se fabricam por minha causa!
Nas travas
de segurança dos carros,
O quanto
não se ocupam em pesquisas
Cuja
pretensa perfeição me é um desafio!
Assim procedo e prossigo,
Sem apoio
governamental,
Assim só,
sempre só
Na raça e
no peito
Contra todo
um arsenal.
Qual o
destino das seguradoras
Sem minha
ação real e imaginária.?..
Certamente
seriam pouquíssimos segurados
E, por
conseqüência,
Ínfimo o número dos securitários.
Ah ! não
fossem as minhas ações
Na calada
das noites, nas madrugadas,
As ruas não
contariam com guardas ou sentinelas...
Quantas e
quantas bocas não são alimentadas
Pela minha
ação renegada:
Policiais, carcereiros, escrivães,
Agentes penitenciários,
Seguranças
bem ou mal pagos,
Promotpres,
juízes, desembargadores,
Sem contar
os advogados,
A quantos
beneficio!
Gente que
nem conheço...
No entanto
vejo que do mal praticado
Há um bem
como resultado
E por ele
não ouso
Esperar
reconhecimento ou gratidão.
Mas basta
pensar em quanto,
A pretexto
de minha existência ativa,
O quanto a
economia se movimenta.
Sempre
estive. Sempre estarei presente.
Até mesmo
na cruz ao lado do Mestre,
Não por
acaso,
Lá partilhei
de um martírio insano,
Donde fiz
escalada para o paraíso
Como me
prometera o Redentor do mundo.
Não faço,
contudo, apologia dos meus afazeres,
Nem quero ser como aquele colega,
Ao lado do Filho de Deus
Que quis prova de poder e assim se fez blasfemo.
Por último
bem causado,
Por conta
de meus atos
Tantas e
tantas orações sobem aos céus
Em função
do medo a exigir a fé.
Eu sou o
Bom Ladrão,
Que apesar de maldito entre os
homens
Tem seu
lugar no que a sociedade tem de fundamental:
A economia
que se fez no eixo
De um mundo
onde, até entre os ladrões,
Existem
alguns mais iguais.!
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