KARMA (PÁG. 7-8

                                                      






07

      Devido à facilidade de memorização, quando se aproxima a estação das flores, tenho por hábito embarcar nos perfumes da primavera e fazer “do espaço” uma ponte para o “tempo”. 


     Visualizo-me aos cinco, seis, ou sete anos de idade, até aos dez, onze, e sinto uma agradável sensação espiritual, bem diferente do que o vulgo poderia chamar saudade.

      A bem da verdade, evoluí em criança, e hoje, que sou adulto, noto que não foi a dor a principal responsável por tal desenvolvimento, educação, sentimento de fraternidade e tolerância. 


     Passei pela dor mais de uma vez, e quem não passou ? Todos a sentem lá uma ou outra vez. Refiro-me à dor física, mental e espiritual. Seja qual for, julgo-a, na melhor das hipóteses, apenas como parte secundária, mas não essencial.


      Divinizar a dor é masoquismo; amaldiçoá-la seria falta de senso. É criação nossa, simplesmente humana, nada tem de divino em se tornar um sofredor ou sofredora.


      Se Jesus, mais de uma vez, combateu-a; conclamou-nos ao esquecimento das ofensas e o uso efetivo do perdão para aqueles que, consciente ou inconscientemente nos prejudicaram, então não há razão plausível para endeusá-la como elemento único de nossa evolução.


      Ao axioma hermético de que “O QUE ESTÁ EMBAIXO É COMO O QUE ESTÁ EM CIMA”, querem alguns afirmar que, se o fogo purifica todas as coisas, a dor purifica o homem, como fogo simbólico de purgatório.

      Isto até certo ponto é aceitável. As provas e testes da vida, em alguns casos nos fazem melhores e nos elevam a um plano superior, mas nem sempre.


      Perguntamos, pois: Não é o amor também um fogo ? Não dizemos que a alegria dos jovens queimam-lhes os corações ? Não é a inteligência um fogo ?

      Então, porque se a ignorância não nos permite entender a dor, temos nós que erigir-lhe altares, propagar-lhe  o nome e até adorá-la, como os pagãos adoravam Moloc ,sacrificando suas virgens  e crianças na fornalha ?


      Isto são sinais evidentes de masoquismo, irrecomendável às almas sãs,  que desejam a verdade pura e simples  que liberta.

      Não iremos entrar na eternidade após a morte; já estamos nela.


      A verdadeira evolução é a vida! Só se evolui vivendo, e à medida que se vive descobre-se o que é essencial e o que é secundário.


      Ao correr de muitas encarnações a pessoa passa a trazer para a sua vida apenas o essencial, e a  viver de acordo com tais princípios.


      Não colocamos de parte a existência  da dor, e sim, alertamos, e até conclamamos, para a conscientização da necessidade de eliminá-la sem tratamento de choque, sem violência e sem precipitação.


      Não é recomendável divinizá-la ou torná-la figura demoníaca. 

Devemos acender uma luz de amor em cada coração, principalmente nas crianças e nos jovens, e assim, as trevas da ignorância,  ao se retirarem, arrastem consigo as dores em suas mais diferentes manifestações.

                                                     08

      Certa feita, conversávamos com um urologista, pessoa de rara cultura, não só do ramo médico, mas também de filosofia em geral. 


Sua filosofia pessoal revelou-se em uma de suas assertivas, ao nos dizer:

      “- Para que pudéssemos, nós, os médicos em geral, descobrir novas formas de tratamento para as muitas doenças físicas e mentais, seria muito proveitosa uma guerra mundial. Teríamos muitos cadáveres à nossa disposição; o trabalho de emergência nos incentivaria, e a suspensão temporária de certas leis que “impedem” o desenvolvimento da ciência ser-nos-ia assaz conveniente”.


      Aí se revela, em toda a sua nudez, nesta curta exposição, a mentalidade estreita dos que apelidamos de “cientistas”. Sem visão capaz de deduzir, induzir e pensar. Precisam da prática, e para fazer ou melhor, remendar a vida só apostam  na alternativa da morte generalizada a milhões de pessoas.


      Uma guerra, no estado atual, se levada a efeito com vistas a ser “pra valer”, não deixaria nem “remendados”, nem remendadores, nem pregadores de outras guerras.


      É de tais mentalidades, como a deste urologista, especialista na ignorância da realidade suprema, que surge, cá e ali, a ideia de que a dor é necessária e o pânico, até o pânico, requisitado. 


     Para ele, no caso pessoal, a ausência da dor significaria uma mudança incômoda de emprego. 
   
     Onde entraria esse lixo adequado para jogar fora todos os livros; deitar ao nada todos os seus equipamentos cirúrgicos e químicos, ou até mesmo largar da caneta que redige receitas?  

    E pegar de uma picareta para enterrar, com a pedra da civilização que custou milênios de amor de poucos contra a incompreensão – fútil de muitos, para não dizer da maioria ?

      Queremos deixar claro que a ideia atual da humanidade está um tanto quanto enferma, somente porque assim o desejou. Não é este o intento precípuo da Natureza.


      Hoje, por exemplo, sabemos que a maioria das pessoas precisam de soníferos para dormir.


      Este quadro insone  pe de uma dimensão  astronômica, invertida em dinheiro para os laboratórios que os fabricam, sem que com isto representem algo matematicamente eficaz.


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