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Não duvidamos da imortalidade da alma. E é
exatamente por podermos crer que a alma é infinita, imortal e ilimitada, que
não nos daríamos a trabalhos de evocações doutrinárias aos nossos irmãos de
além-túmulo.
A ignorância, contudo, sempre
fomenta o fanatismo, desmorona os mais nobres e caros ideais no proselitismo
barato de alguns espertalhões, ou mesmo uma grande parte de pessoas de boa-fé
que, de tanto imaginarem e conjecturarem, passam a crer mais do que o seus
próprios articuladores num determinado movimento, ou seita.
A VERDADE DE CADA DIA
O título acima parece restrito,
mas, dentro de um esquema de vivência, pode ser o “abre-te-sésamo” para uma vida
renovada.
Infelizmente, a verdade hoje é um artigo de museu. Na arqueologia
paleontológica de nosso vocabulário, iremos encontra-la na boca do próprio
Pilatos, a indagar Cristo: “O que é a verdade ?”
Em termos, não seria tão importante
saber o que é a verdade, mas senti-la e vivê-la no dia-a-dia. Como o Cristo a viveu na própria carne.
Apesar de tudo,
para ser verídico até nas mínimas coisas, é necessário ser herói até aos
extremos. É preciso ser solitário e ao mesmo tempo participante; é preciso ser
amante da paz, e, ao mesmo tempo, ser constante partícipe da luta.
Todos mentem, todos sucumbem com o
veneno que fabricam com as frases de ardis mentirosos, num mundo de pouca
verdade, ou talvez, num mundo de ilusões e vaidades, mas tão vazio de
objetivos.
Seria uma maravilha a terra se
pudéssemos volver à idade de ouro em que reinou nestas plagas, a verdade. Mas,
o declínio vertiginoso de nossa raça está aí para quem quiser ver. A mentira
hoje vai do palácio à choupana nas asas dos abutres da conveniência e do
interesse próprio.
Em que pese o fato de ser o homem um animal de origens
aquáticas, a triste realidade que hoje se assiste é que ele se tornou terráqueo
como o verme que rasteja entre as sombras e tumbas.
A verdade de cada dia é mais
necessária do que o pão de cada-dia. Para viver a verdade não é preciso
inteligência, mas brio; nem tanta prudência ou intelectualidade, mas maior dose
de vergonha.
Qual verme inculcado apenas nas necessidades
de uma vida parasitária; emergido num casulo de ideias malsãs, hoje os homens
tecem com o ardil mais enganoso os meios de fazer do forte, mais forte; do
fraco, mais fraco; do rico, mais rico; e do pobre, mais pobre.
- 22-
O mundo externo é o exato
reflexo do mundo interno. Se hoje a podridão grassa desbragadamente como peste
nauseabunda, quer seja aqui ou acolá, é porque os corações estão podres e as
mentes corrompidas. Felizmente nem todas. Há os que são o sal da terra e a luz do mundo.
Afirmou certa feita, e com profunda base de sustentação
filosófica, um certo alemão de nome Frederico, que a “raça humana está involuindo”...
Com certo aspecto, o ser humano está inferior ao animal. E
realmente, para triste constatação de todos os que, com objetividade e espírito
isento, analisam a humanidade de hoje, vê-se que tal assertiva, um tanto
alarmante é deveras constatável em certo nível.
Vemos que, grandes homens e grandes
mulheres, destinados ao apogeu de uma existência luminosa, com tudo para vencer
na vida; munidos das melhores ferramentas espirituais que se pode imaginar,
estão aí entregues à corruptela coletiva, à prostituição, aos vícios de uma
sociedade que preza em ter, mas não presume em ser; antes valoriza a aparência
do que poderia ser, do que a essência do que pode e deve ser.
Ademais, com a derrocada dos
valores para uma total inversão, o conservador honesto é um preconceituoso na
opinião de muitos liberais em matéria de costumes.
Os velhos e rígidos padrões
que antes aglutinavam a sociedade num diapasão de harmonia e boa conduta, foram
para sempre riscados dos mapas morais.
Hoje, taxar alguém de moralista é
chama-lo de quadrado, retrógrado, antediluviano, ou algo similar. Claro que não se admite, como em nada que se possa imaginar, o ultra-moralismo de alguns imitadores dos fariseus, ao tempo de Jesus.
A conveniência superou a vergonha;
a requisição de liberdade levou a própria juventude à libertinagem consentida; o
poder paterno é sombra extinta no livro de uma história que já assinalou o seu
ponto e vírgula e marcha para um ponto final definitivo.
“Ainda há pouco tempo, um ateu exclamava:
- Deus, se é que existe, destrua
tudo para que comecemos tudo de novo; e nunca permita que a situação chegue aonde chegou”.
Temos tido oportunidade de
averiguar hoje um retorno ao feudalismo de épocas remotas. São, evidentemente,
imperceptíveis aos olhos da maioria, mas aí estão os tristes resultados do
consentido imoralismo.
Aí está a base do apocalipse, aí está o Anti-Cristo
desta era conturbada, mercadejando as consciências; aviltando os corações,
denegrindo a imagem do homem; que se é que continua sendo a imagem de Deus,
nada mais pode ser do que uma imagem de barro que ao pó retornará.
Mas... Ah se não fosse esta lei
eterna das exceções para todas as regras, e nem ânimo teríamos em escrever este
livro.
23
O
RAIAR DE NOVA ALVORADA
O termo se gastou pelo uso
diuturno, como divisa utópica, talvez de ressumo messiânico.
No entanto, num
ciclo bem equilibrado pelas mentes cósmicas mais evoluídas, assistimos o leve
descortino da verdade por entre as chaminés negras das ideias primitivas.
Pouco a pouco, muitas verdades
assomam no horizonte moral da humanidade, quer pelas línguas de fogo de um
profeta ou pelos dedos de aço de algum escritor ousado.
Tudo provém, em última
análise, da fonte invisível das ideias, como um banco imenso a incrementar e disseminar o
contínuo conhecimento.
Com referência à lei do karma, tão
apregoada nos últimos tempos e tão mal interpretada como sendo um regurgitar da
velha tese do “olho por olho, dente por dente”, algo está se tornando mais
claro e menos sombrio.
Sendo a lei do karma uma resultante de causa e efeito,
temos presente que “todos os atos, mínimos que sejam, levam fatalmente a uma
evolução da personalidade-alma, quer disto se aperceba a nossa mente objetiva
carnal, quer disto não tome conhecimento.
Então, concludentemente, podemos
afirmar que a verdadeira evolução se processa com a vida, e não com a dor; e
que tanto a dor como o prazer servem à vida e não à morte”.
Viver na negligência de uma fé
esmaltada de serenidade; pautar uma vida pelos caminhos do menos ruim, e do
melhor, se possível, eis o lema de nós todos que peregrinamos à sombra deste
vale de lágrimas.
Reatando os fios de minha intenção,
vejo no divino autor uma imagem de amor que supera todas as leis do mundo; não
temos o menor juízo do mecanismo que rege, através desta inteligência, o nosso
mundo e outros mundos; mas é patente que existe,
E isto independente de nossa crença,
um poder que atravessa milênios e eons, sempre impessoal e justo, mas não
distante de nós, pobres humanos, caminheiros da senda universal, cujo ponto
final, cujo objetivo primeiro e último, é e continua sendo o BEM.
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