NA SOLIDÃO EXTREMA

Enquanto, para a vida de algumas pessoas,
compreensivelmente a solidão se possa comparar
a um torniquete silencioso,
nos momentos extremos deste Vale de Lágrimas,
ela se transverte no mais eficiente
remédio, que nos prepara para o confronto
com a a Eternidade, venha o que vier e da forma que for
esse insondável Mistério.

CRISTO SOLITÁRIO NO HORTO DAS OLIVEIRAS

     De degrau em degrau do calendário terreno, vamos a somar experiências, felizes, rotineiras ou mesmo infelizes, desditosas e cruéis, nossas e dos nossos iguais, neste cenário que alguns, para alívio nosso, conseguem maquiar com a Arte, em suas muitas modalidades. Com o dom de palavras consoladoras, sejam verdadeiras ou não, para suportar a jornada à frente. Longa ou breve.

     O ser humano, o mais complexo entre todos os animais terráqueos, obriga-se, e não há como sujeitar-se, à configuração materialística do planeta que habitamos. Neste espaço redondo e girante, alguns poucos plantam ervas - daninhas e úteis; árvores para florir e derramar frutos e esparzir sombras, para que uma grande multidão, inconsciente da própria loucura, fustiguem o solo, o clima, os rios, os mares, os lagos etc, e tentam e conseguem aos poucos fazer deste mundo uma lixeira, um cadáver redondo, aquático, na sanha assassina própria dos predadores. O que resta é que, ao fim e ao cabo, não restarão - a continuar neste ritmo -, nem presas nem predadores.

   O planeta Terra realmente é um campo de guerra permanente. Um deserto de clamores por coquetéis venenosos de tantas injustiças - individuais, sociais e contra povos, que ainda insistem os donos da bola (a Terra é uma boal) a demarcar fronteiras. Divisas entre ricos e pobres, não só em questão de pessoas, mas de países. 

  Multidões refugiadas, como se não bastassem o próprio drama, o inferno - nem sequer em expressão comparativa, mas real, que vivem países como a Síria (mormente ela), Iêmen, Iraque - tantos e tantos irmãos lançados ao abismo da miséria extrema, despossuídos de tudo (quiçá das próprias almas) , apenas se transfazem em meros registros de estatísticas, que nem sequer mais gatam pontas de grafites de lápis, mas tão somente registros em informática.

 E até há alguns que, num sadomasoquismo suicida, alimentam suas vísceras intelectuais e morais, até mesmo cristãos exemplares, não raro enxergam nesse quadro uma explicação política, como se houvesse razoabilidade nessa arte de mandar, comandar e impor, da parte de pessoas e países, de uns sobre outros.

   Pois bem. Pois bem, nada. Pois, mal. Vamos nos cingir ao aspecto do indivíduo. De uma pessoa que por alguma ou várias razões, se conscientiza da gravidade da hora presente. Aí ele fica puto  e constata que de tanto começar remendo novo em roupa velha, processo já usado e abusado no tempo de Jesus Cristo, daqui a pouco os remendos novos também envelhecem,  e o mundo vai está nu, em pelo ou pelado, e se vier o fim, esse final será uma bênção. Talvez do tudo do outro lado, ou do nada de lado nenhum.

  Cada pessoa, pelo menos aquelas que são conscientes da insolubilidade dos dramas humanos em todas as latitudes, certamente verá chegada a hora de se estar a sós. De absolutamente sós. Como Jesus Cristo esteve no Horto das Oliveiras há dois mil e poucos anos. E lá, ele permaneceu sozinho. 

   Alguns dos discípulos dormiram, ou pelo cansaço ou, creio mais que seja pelo próprio sentimento de impotência diante da hora trágica para a execução do Amado Mestre. Nem se fale do Judas de Carió, que o traiu; do companheiro Pedro, que o negou 3 vezes e o galo confirmou em forma acusadora.

   De qualquer forma, tenho comigo, que o Cristo de Deus, naquele momento, sobre os ombros a suportar todas as dores da humanidade, passada, presente e futura, optou ele próprio pela solidão, pelo entramento em si mesmo, que é a companhia que nunca nos deixa: esse ser nós mesmos, a despeito de que o mundo desabe e o Universo ensaie uma segunda explosão depois daquela que iniciou tudo isto que aí está. Que passou pela Idade de Ouro, segundo a tradição ou lenda, e aí está, e vai estar para quem ficar, mas não ficará para sempre, mais dia menos dia, para ninguém.

  Naquela hora crucial, o que foi admirável em Cristo, de suprema e divina sinceridade, foi constatar que até Deus, o Pai, o havia abandonado. Esta evidência mostra o lado humano de Jesus. Lado lindo, exemplar, heroico, e que hoje eu me sinto, guardadas as devidas proporções, em igual situação.

  Esta solidão, este não contar com nada nem com ninguém, porque ninguém traz a definitiva solução e apenas escala, como capítulos de novelas rotineiras, remendos novos (já velhos) insuficientes para cobrir a nudez de tantas almas, e do próprio mundo, 

   De poderosos que se arvoram em deuses e, mesmo no impérios, mantém o desplante de dizer que são os escolhidos das massas. E aí eu pergunto: nós escolhemos, mas quem são os tais falastrões que, antes de nós, escolhem aqueles que DEVEMOS eleger para eles, seja A ou B a serviço de um mundo, não propriamente em decadência, mas na marcha final do inevitável fim. 

  E é aí que nos fazemos em mais irmãos de Jesus Cristo, nessa dor que ele sentiu e que não quis ninguém ao lado dele e, por mera pergunta, apenas constatou, sem protesto, mas de forma intimativa: DEUS MEU, POR QUE ME ABANDONASTE ?

Reconhecido como Padre da IGREJA SERTANEJA DO BRASIL, em 2003.


   

     

0 comentários:

Postar um comentário

Comentários sempre serão bem-vindos!
Para assinar sua mensagem, escolha a opção "Comentar como -Nome/URL-" bastando deixar o campo URL vazio caso você não tenha um endereço na internet. Forte abraço!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...