Esta é uma sequência de histórias (reais) que, aqui e ali respingam Lições de Vida, através de entrevista biográfica, em andamento, de MAGNO ALVES, no livro O PULO DO GATO
Não! Tinha um violão (risos).
Usava cabelos longos. Para resumir, ele
era diferente em tudo do resto da turma.
Tão logo procurei entender os motivos daquele assédio do mulherio em
cima do cara, descobri que, de fato, o motivo era o jeito exótico dele.
Na realidade, quem conquistava o mulherio mesmo era o violão que ele tocava,
as canções que cantava jogando de um lado para o outro os longos cabelos. Só que
havia um porém.
Ele conquistava, hoje, uma “mina” (assim ele se referia
às garotas), levava para o cinema, mas em pouco tempo – descobri depois –
perdido o encanto que ele sugeria de mil maneiras, ele sempre acabava só, e
logo trocava aquela namorada por uma outra, e outra e outra. Era um verdadeiro
vassourinha .
Dia destes,
viajando para Mato Grosso do Sul, por um mero acaso – para mim muito
gratificante, e creio que também que para ele – encontrei-o numa churrascaria
em Campo Grande, no intervalo de uma palestra que fui proferir naquela
simpática cidade.
Ele estava muito bem
vestido, dono de duas fazendas de gado e me pareceu muito próspero.
Casado com a mesma mulher nos últimos vinte
anos, contou-me que se cansara da vida de violonista. Ele constatou –
quando o fiz relembrar dos antigos sucessos
entre as colegiais:
-
Magno, elas gostavam tão somente do
violão, e do meu modo artificial de ser e de viver. Quando eu
pedia para ir à casa dos pais de qualquer uma delas, sem exceção a
recusa era imediata.
Mas o que eu
não sabia nem jamais poderia ter imaginado, é que a esse meu velho amigo dos
tempos de escola, eu ofereci um conselho
que, francamente, jamais me lembraria
tê-lo feito. Ele me disse mais ou menos assim:
- Magno,
você se lembra daquela nossa excursão escolar para São José do Rio Pardo,
cidade que cultua a memória do escritor Euclides da Cunha?
Você se recorda que fomos num bar e...
-
Encontramos um bêbado tocando violão e todo o pessoal se divertindo com ele?...
relembrei.
-
Exatamente, cara – replicou ele com entusiasmo, estampando nos olhos uma expressão
de descoberta inusitada. Sem nenhuma restrição às pessoas que gostam e sabem
tocar bem um violão, ou qualquer outro instrumento, eu me enxerguei naquele
bebum e senti um imenso murro na cabeça.
- É... –
concordei – lembro agora que você me fez um desabafo qualquer, mas eu não sabia
que era para valer. Depois disso você foi embora de nossa cidade e só agora
estou revendo-o, por sinal muito bem e bastante mudado desde o tempo que o
conheci.
- Generoso
: Então
o rapaz teve um estalo?
- Magno : Experimentou
o que se pode chamar um estouro. Este meu amigo percebeu, felizmente a tempo,
que a vida dele não tinha um foco. Depois entrou em mais detalhes, me
encaixando na sua história de vida.
Generoso : E como
você entra nessa história, Magno?
Magno : Disse esse meu amigo, resumidamente o seguinte:
- Magno, eu
via você chegar à escola todos, às vezes com uma capa velha e desbotada em dias
de chuva, amarrar o seu cavalinho
baio sem raça em frente o “Bar do Vô” .
Lembra? Os boyzinhos, todos empombados, viam-no com
uma certa superioridade, e você não estava nem aí.
Você continuava, durante o
dia –e o encontrei muitas vezes no Largo São Benedito – vendendo ovos e frangos
que trazia do sitinho que você morava com a família.
Eu via a maioria dos
garotos gastando mesada dos pais em chicletes, sanduíches, sorvetes caros e
vestindo roupas de grife, e o que mais distinguia você era o trabalho.
E, por
conseqüência, pouco ou muito, eu sempre via que quando você puxava a carteira
ela nunca vinha vazia.
Você tinha duas virtudes que eu invejava. Ou melhor,
três – disse-me ele emocionado: - você se sentia útil por trabalhar; possuía o
dinheiro porque trabalhava e, para arrematar, sabia fazer economia.
Generoso : Você
estava sendo observado sem perceber?
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