AMIZADE VALE MAIS QUE OURO









Uma das principais razões pelas quais muitos bons relacionamentos murcham é o surgimento de um “parceiro para a vida toda”, possivelmente uma “alma gêmea”, mas definitivamente uma distração. Quando isso acontece, muitos de nós sucumbem ao charme e os colocam em primeiro, por último e no meio das pessoas com quem queremos passar um tempo. Assim, aqueles que têm sido fiéis companheiros, aqueles com quem podemos fofocar no telefone ou marcar um café ou um almoço, são abandonados pelo novo “grande e único” em nossas vidas. Foi um grande conselho do autor do livro sobre Runas Celtas, Ralph Blum, “deixar os ventos dos céus dançarem entre vocês”. Infelizmente é o que o recém apaixonado raramente faz!
Há algum tempo, uma velha amiga, de longa data, veio à minha porta com uma vasilha coberta e anunciou que ela estava me apresentando o bolo da amizade, um bolo da amizade alemão que se chama Herman e que tem circulado o globo como se fosse uma corrente por carta, provavelmente desde logo após o começo dos tempos. A vasilha continha um pedaço de massa e uma lista de instruções escritas à mão para o futuro bem-estar de Herman para serem realizadas ao longo dos 10 dias subsequentes.
Nós rimos quando eu li a folha que começava com uma advertência: “Meu nome é Herman, sou um bolo de massa azeda e preciso ser mantido na sua bancada da cozinha por 10 dias sem a tampa. Eu morrerei se me colocar na geladeira. Eu morrerei se eu parar de borbulhar.” As regras exigiam que Herman fosse mantido em uma vasilha de dois litros, coberta com um pano de prato. Ele precisa ser mexido nos dias dois e três e alimentado com pequenas quantias de farinha, açúcar e leite antes de ser mexido e colocado novamente para dormir sob seu cobertor, o pano de prato.
Os dias cinco, seis, sete e oito necessitam de uma mexida mais vigorosa para manter a massa viva e no ponto. No dia nove ele fica com fome novamente e precisa de mais farinha, açúcar e leite para saciar seu apetite. Neste ponto, você divide a massa viscosa em quatro porções iguais, entrega três porções para amigos com cópias das instruções e adiciona à porção que você guardou uma quantia de ingredientes de bolo incluindo ovos, especiarias, óleo, maçãs cortadas, nozes e passas antes de encerrar a vida passada de Herman, ou seja, assá-lo e servi-lo à nova e decorada nata fresca.
Pelos primeiros dois dias eu estava encantada, mas no dia três eu o esqueci completamente e no quarto dia me encontrei resgatando-o de seu suspiro da morte na 11º hora, literalmente às 11h da noite, com o complemento dos ingredientes.
Resumindo a história pela metade, decidi que eu realmente não gostava do Herman. Era como ser responsável por um bichinho virtual tirânico, como um Tamagotchi do tipo que foi frequentemente banido das salas de aula dos anos 90 porque os professores frustrados tinham suas lições interrompidas por alunos alimentando e exercitando seus filhos eletrônicos. Eu não gostava da responsabilidade de cuidar dele, de atender suas necessidades ou do espaço que ele ocupava na minha modesta cozinha.
Posso até ter pensado possivelmente em pendurá-lo para os pássaros, mas eu realmente queria cortá-lo e distribuí-lo aos meus amigos? E mais tarde eu queria adicionar uns quarenta reais de ingredientes à sua massa misturada e esmagada há dias para um prato ligeiramente menos tentador que vísceras com creme? Antes de responder, tenha em mente que a última vez que fiz um bolo eu tinha tranças e um uniforme escolar e agora estou sacando uma aposentadoria.
Em um momento insensível de firme decisão eu, sem piedade, joguei o Herman no lixo junto com conteúdo do aspirador de pó. Herman se misturou com a poeira e suas últimas bolhas explodiram. Porém, Herman vive nas cozinhas de incontáveis vítimas de amizades encerradas e também online ao toque de um motor de busca. Procure por ele se você quiser conhecê-lo. Não serei responsável por suas ações lhes passando a receita.
Amigos, leitores, posso dizer pela experiência: Se você gosta de alguém e o valoriza, então demostre o que essa pessoa traz para a sua vida.  Dê-lhe tempo, uma conversa, um ouvido amigo ou um presente que não venha agregado de responsabilidades e culpa. Ligue para ele, lhe escreva uma carta, envie um cartão. Convide-o para um almoço. Convide-o para dividir uma agradável garrafa de vinho, e converse entusiasmadamente sobre as coisas que importam na vida, ou as coisas que não importam, principalmente! Façam um passeio juntos, uma jornada de meditação, divida qualquer coisa que você tiver na despensa que cozinhe em 20 minutos e desapareça com o lavar da louça, mas, independentemente do que decidir para fortalecer essa maravilha faculdade que chamamos de amizade, não lhes dê um bolo de amizade.

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