ENTRE O GOVERNO E A ANARQUIA

Cada um de nós, por conta da condição humano, apresentamos, sim, um vezo anarquista que remonta, quiçá, ao Éden perdido. Já se disse que “as leis são sem conta nos povos corrompidos”.

Por outro lado, os governos moldam as civilizações mais do que são moldados pelos povos que representam. Podemos perguntar, não especificamente nos cingindo, no tempo e no espaço, ao nosso país ou ao mundo atual – até onde os governos realmente representam o povo , de que se diz parte?
Mesmo não se remetendo a um juízo de valor, isto é, se o governo é eficiente ou não, mas quem, em sã consciência, votaria por mandar um filho para a guerra? Ou mesmo, em sã consciência, tomasse de um mochila e rumasse para o teatro bélico em nome de uma questão de Estado ou simples capricho de um governante?

Nunca poderemos aquilatar, na medida exata, quais os atos do governo – na esfera do Executivo , Legislativo e Judiciário –se realmente se fazem no eco das aspirações dos representados?

A dimensão dos países – em território e população – está na ordem inversa dessa representatividade, pois o povo passa a ser algo abstrato. Na Suíça se votava em decisões, mas o porte do país permitia esse luxo, além, obviamente, da índole democrática, ainda que com suas mazelas. Sim, porque na Suíça as mulheres obtiveram direito a voto depois do Brasil, em meados do século passado.

Não se leve em conta – é bom repetir – a competência ou não, sob o aspecto gestão, deste ou daquele governo. A proposta é discutir o fato de que não há uma lógica em alguns atos da parte dos dirigentes. Se dependesse, pura e simplesmente, dos povos, de cada povo, a guerra não mais teria lugar no planeta.

Na História antiga, era até plausível entender que grupos se guerreassem, pela própria proximidade entre suas fronteiras. Ainda assim, entender não significa admitir como válidas todas as guerras antigas, pois em nenhuma delas houve um motivo nobre, ou sequer uma premência justificável. A única guerra realmente romântica há sido, talvez, a Guerra de Tróia, onde se disputava a bela Helena. Embora, ainda assim, se perscrutarmos a história a fundo, constataremos que houve motivos menos românticos do que a simples flechada de Cupido no peito do guerreiro.

Não são os povos famintos e miseráveis que invadem os países ricos sob a alegação do motivo famélico, biblicamente admissível. Em toda a História isto nunca se verificou. Grande é o esforço dos governos – e nesta era de marketing em tudo isto se torna grandemente facilitado – em criar versões e preconceitos, instilar o medo para que os indivíduos hipotequem a própria vida em função de um simples desejo dos chefes guerreiros.

Se uma extraterrestre chegasse à Terra e visse a nossa realidade nesse aspecto – e em tantos outros igualmente infelizes – jamais entenderiam a lógica de se investir tanto dinheiro fisgado compulsoriamente do cidadão, em nome de seu bem-estar, para mandá-lo a campos de batalha. Pior ainda insuflar de modo doentio na mente dos fanáticos a vocação para morrer dentro de um carro-bomba, num triste espetáculo de loucura e estupidez. Por causas sem fundamento, fruto de lavagens cerebrais demoníacas.

A que extremo chega a condição humana! No entanto, por mais que busquemos visualizar um horizonte de real liberdade, sempre haverá o desafio de que a ordem, pelo menos de modo simbólico, exige comandante e comandados. Concluímos, pois, que os governos, apesar de suas mazelas e suas imperfeições, é um “mal” necessário. Pelo menos por enquanto.


(Geraldo Generoso, de Ipaussu)

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