TOMA QUE O FILHO É SEU


Disse  Aristóteles que o homem é um animal político. E alguém espirituoso, tempos depois, num inteligente jogo de palavras, afirmou que “se tirar o político, fica só o animal. Sempre acompanhei eleições, muito de perto e, desde que me conheço por eleitor, nunca achei que os métodos e meios justifiquem o processo e os fins políticos em nosso País. 

A rigor, em todos os lugares do mundo, política há que sempre levar o ingrediente da astúcia na sua receita do como fazer. Penetrei mesmo, de fato, na política, em fins da década de 70 e princípio da década de 80. Fui candidato a vereador, na chapa do então PMDB da época. Por conta da existência do direito de sublegenda, o PMDB lançou 2  candidatos a prefeito: Toninho Alonso e Alberto Maistro. Este último, à época, era meu sogro. 


Na verdade, Alberto criou uma verdadeira escola de política. Poderia dizer, um estilo político dinâmico, de abordagem do eleitor, de estabelecimento de propostas e transformou o Ipaussu Hotel, de sua propriedade, num comitê 24 horas. Toninho Alonso acabou sendo eleito, nesse ano de 1982,  por ter maior votação na legenda, o que lhe deu a primazia de somar com  os votos de Alberto. Na  qualidade de professor,  e mais ligado aos formadores de opinião, ao final da campanha percebi que ele levava vantagem, e isto se confirmou no resultado das urnas.

Mas o que pretendo do prezado leitor é contar-lhe  uma breve passagem ocorrida com Hélio Brizola, o coordenador geral da campanha do PMDB, grande orador, com dotes de ator dos mais capazes.

Entre outras prioridades menos votadas, estava na plataforma de governo dos nossos candidatos – a prefeito e vereadores – a criação e instalação de uma creche. Curiosamente, em 1982, Ipaussu não contava com esse tipo de acolhimento de crianças para, como dizia Hélio Brizola: “oferecer condição às mães operárias, nas searas urbanas e camponesas, que possam trabalhar tranquilas, tendo a quem e onde confiar seus filhos...”

Esse era um mote que alguns frequentadores de nossos comícios até decoraram. Quando, educadamente, fiz uma crítica pelo fato desse orador carro chefe da campanha, repetir sempre o mesmo discurso, ele disse : “o segredo para memorizar é sempre repetir não só a mesma ideia, mas também as mesmas palavras...”

Por amostragens informais descobriu-se que o cerne da campanha centrou-se no assunto creche. Até foi cogitado mandar confeccionar um bercinho contendo uma criança para influir no imagético popular, mas em reunião da “cúpula” , Alberto Maistro – a quem pertencia a última palavra- houve por bem vetar essa opção publicitária. 

O berço poderia sugerir ao eleitorado que os futuros políticos, que esperançávamos fossem os de nosso partido, poderiam passar a imagem de preguiçosos. Claro que Alberto Maistro, em seu argumento, já foi logo dizendo: “a turma da Arena vai dizer que nós todos somos vagabundos e dorminhocos, deitados eternamente em berço esplêndido.”

Como mencionado, o Prof. Antonio Alonso Sobrinho venceu as eleições. Da parte dele não havia muito essa centralização em creche. Ele trabalhou muito bem, aos moldes mineiros, sugerindo  a necessidade de se construir mais habitações populares. Até criou – ele próprio – um plano de apoio a construções de residências e abriu novos bairros.

Mas, enquanto isso, cadê a creche? perguntavam ao Hélio Brizola, a essa altura já ocupado na gerência de uma filial do Ipaussu Hotel, que funcionava perto do Banco Itaú (a construção existe até hoje - 2012). Ele até evitava ir para as vilas, jogar alguma partida de futebol, por conta desse assédio de zelosas mães que se sentiam enganadas.

Vai senão quando, Brizola,  pitando um cigarro e conversando numa roda de amigos em frente o seu posto de trabalho, uma mulher furou o bloco e interpelou o comandante  de forma invasiva e incisiva:

- Escute aqui, Hélio.  Promessa é dívida. Creche mesmo que é bom, nada. Então eu tomei uma decisão que me fez vir aqui. Sou mãe solteira com muito orgulho e vou deixar aos seus cuidados, aqui no hotel do Berto esta criança para você e seus aliados cuidarem, e quando construírem a creche, levem o menino  para lá. Vou trazer o Juninho cedo e pego à tarde...

Hélio Brizola, num ímpeto compreensível de justa indignação, sapecou claro e firme:

      - Quem pariu Mateus que embale.

 

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