ZECA VIOLEIRO

Observação: Este texto faz parte do livro HUMOR MORENO, a ser lançado neste mês pela ETE Prof. Pedro Leme Brisolla Sobrinho, Fundação Paula Souza, em Ipaussu.


Na pacata cidadezinha onde nasceu, Zeca era um tipo inconfundível. Alto e magro como um pinheiro, cabeça raspada, barba sempre bem feita. Desde criança o seu sonho era ser violeiro, mas as posses poucas não lhe permitiam comprar o sonhado instrumento. Zeca compensava a falta da viola emitindo lindos ponteados com a boca, numa imitação impecável em notas, tons e acordes.

A tal ponto se esmerou nessa arte que fazia de costume um acompanhamento vocal, imitando violas e violões nos forrós de Seu  Azeitona  sanfoneiro, com exímia perfeição. Foi justamente num desses bailes que aconteceu este caso real. O baileia animado. Forrozão da pesada. Garrafas de pinga rolando soltas pelo salão.

 Lá estava Zeca em seu posto, a executar  com a boca os tinidos de uma viola imaginária.
Damas e cavalheiros dançando alegremente... Zeca, que havia  jantado bastante, e ainda por cima comido uma boa salada de pepino e abusado um pouco da cachaça, de repente suspendeu sua função de violeiro oral e saiu em desabalada  carreira  para o quintal,  onde se acomodou de cócoras sob uma bananeira. Ali pensou poder aliviar-se daquela terrível e inesperada dor de barriga.

Metros abaixo permanecia  um casal de namorados trocando juras sem palavras. Uma nuvem que filtrava o luar de repente desnudou a lua e clareou todas aquelas cercanias. Zeca,aliviado dos intestinos, mas por conta do imprevisto, não dispondo de papel à mão, tomou de um lenço branco para efetuar a higiene exigida.

O dois namorados, mutuamente embevecidos, só deram conta de que Zeca estava sob a bananeira, naquele gesto vulgar, insólito, mas necessário a todo vivente,  no momento em que o “violeiro” se dava ao trabalho de limpar-se, precedido de sucessivas emissões de gases do ventre, a quebrar o silêncio do pomar, em flagrante contraste com o perfume das damas da noite perfiladas além do laranjal.

Gertrudes, a namorada, virou-se  para Gersino, que a custo continha o riso e disse:

        - Coitado do Zeca, bem. Ele está limpando a boca da viola.  Gersino concluiu sem pestanejar:

        - Não,  Gertrudes,  pelo jeito,  agora o Zeca  acabou de limpar a boca do trombone.

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