"É apanhando que se aprende."
José B. de Maio, advogado e escritor radicado em São Paulo, orgulhava-se da Ipaussu em que nasceu, por volta dos anos 20. Em suas vindas à cidade natal, gostava de relembrar de sua infância e das pessoas, coisas e situações de sua época.
Sob esse tema escreveu o livro “Minha Terra, Minha Gente!”.No entanto, por imperdoável omissão, deixou fora de sua obra uma figura marcante de sua memória familiar. Nada mais nada menos que TARECO, um cão de porte médio, amarelo ruivo, pitoco, vira-latas e muito amigo da criançada.
Venho, pois, mesmo ciente de minha confessa inabilidade literária, comparada à pena ágil e madura de José B.de Maio, tentar reparar essa injustiça de lesa caninice.
Na casa, entre casal e os filhos, normalmente contavam dezesseis pessoas. O cachorro Tareco completava as dezessete.
Na casa, entre casal e os filhos, normalmente contavam dezesseis pessoas. O cachorro Tareco completava as dezessete.
Poderia se dizer infalível a reunião dos Maio, em dias chuvosos, junto ao fogão de lenha. Essa folgança compulsória, era alimentada com polenta e café adoçado com açúcar mascavo.
É discutível afirmar se vira-latas, como o nosso biografado, seria menos inteligente do que os cães de hoje, com pedigree definido, até ganhadores de prêmios em exposições nacionais e internacionais.
Na cozinha acanhada da casinhola, a abrigar prole numerosa, aquele encontro sagrado bem podia ser comparado a sardinhas numa lata. Obviamente, Tareco era presença obrigatória. Mais ainda o ambiente doméstico ficava apertado, por conta de visitantes, igualmente de folga, que apareciam no domicílio, por culpa da chuva e da hospitalidade dos Maio.
Tareco era muito ágil e andejo. Mas quando chovia, adentrava à casa e assentava-se ao pé da lareira, sempre de olho em sobras que as crianças prodigamente lhe destinavam.
Nessas reuniões, contudo, as propriedades do milho, aliado ao elevado teor calórico do açúcar, formava nos intestinos presentes uma violenta fermentação. Eram comuns – entre os garotos – a exalação de seguidos puns, cujo som era abafado pelo ruído de dissimulada tosse.
Nessas reuniões, contudo, as propriedades do milho, aliado ao elevado teor calórico do açúcar, formava nos intestinos presentes uma violenta fermentação. Eram comuns – entre os garotos – a exalação de seguidos puns, cujo som era abafado pelo ruído de dissimulada tosse.
Assim era costume da velha matrona, ao primeiro sinal de qualquer coisa estranha no ar, avançar de chicote sobre Tareco com enxotá-lo do convescote doméstico.
Confirmadas as notáveis experiências do cientista Pavlov, (foto) Tareco poderia perfeitamente ter sido a cobaia no experimento da Teoria do Reflexo Condicionado do grande estudioso russo. Em sua reação à simples ameaça do castigo, passou a esboçar uma reação concatenada e repentina nas sessões de polenta doce com café fraco.
Certa vez, após sucessivos dias de insistente e minuciosa chuva, que ensejavam tais reuniões, um dos garotos explodiu numa incontida tosse, até ensejando preocupação aos presentes.
Eis que TARECO, mais do que depressa, levantou as orelhas, estalou os olhos e escafedeu-se em desabalada carreira, preferindo o frio e a chuva de janeiro em campo aberto, ao chicote a cantar desapiedadamente em seu lombo. Inútil o esforço da garotada, postada à janela, a assobiar e a chamá-lo de volta para o sacrossanto recinto do lar dos Maio.
Eis que TARECO, mais do que depressa, levantou as orelhas, estalou os olhos e escafedeu-se em desabalada carreira, preferindo o frio e a chuva de janeiro em campo aberto, ao chicote a cantar desapiedadamente em seu lombo. Inútil o esforço da garotada, postada à janela, a assobiar e a chamá-lo de volta para o sacrossanto recinto do lar dos Maio.
Daí por diante, ao simples pigarrear de algum dos presentes, ou ao menor de odor de qualquer coisa estranha no ar Tareco emitia um uivado e sumia na quiçaça , desafiando até chuva de canivete.
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