Compartilho esta obra prima do colega
Eco Moliterno
Executive Creative Director at Africa Propaganda
Artigo feminino
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Pra mim, Deus é mulher.
Isso mesmo: em tempos efervescentes de discussões acaloradas sobre as diferenças entre os partidos políticos, prefiro ocupar sua timeline pra falar sobre a igualdade entre os gêneros (que, infelizmente, ainda estão longe de serem iguais em tudo aquilo que deveriam).
Afinal, não concordo nem um pouco com essa representação clássica do ser barbudo criando a luz, os planetas, a fauna, a flora e, finalmente, o homem "à sua imagem e semelhança" - e confesso que sempre achei essa afirmação bastante presunçosa e contraditória.
(Aliás, em defesa da minha categoria, atesto que o maior criativo de todos os tempos jamais copiaria algo que já existia antes - pelo menos, não tão descaradamente assim, né?)
Sem falar que o job description é totalmente feminino: criar o universo todo em apenas 7 dias. Nada pode ser mais "multitarefa" do que isso - algo que, sabemos bem, elas fazem muito melhor do que a gente.
Pois se esse briefing tivesse sido passado para um homem, ele teria finalizado, no máximo, um sistema solar nesse prazo. E, mesmo assim, a Terra não teria uma Lua e Saturno não teria anéis - toques de requinte típicos de uma mão feminina.
E me desculpem os mais religiosos mas também não concordo com essa história de que Eva surgiu de uma costela de Adão. Isso só faria sentido se a Bíblia tivesse sido escrita por outro Pedro, o Almodóvar - que, aliás, filmaria essa cena como ninguém.
Por essas e outras, pra mim não faz o menor sentido a concepção de que Deus é um ente masculino. Discute-se tanto o sexo dos anjos, tadinhos, que ninguém se lembra de questionar o do chefe deles.
E digo mais: além de mulher, Deus é uma cantora. Sou casado com uma e posso afirmar: nada é mais divino do que ver uma mulher cantando. E não há outra justificativa, a não ser inveja, para o tratamento rude que foi dado a Edith Piaf, Billie Holiday, Janis Joplin, Amy Winehouse, Cássia Eller e outras cantoras cujos talentos foram inversamente proporcionais ao tempo que passaram em nosso planeta.
Pra mim, claramente, Deus se arrependeu de ter dado essas pérolas para os homens e tratou logo de levá-las de volta para não ter concorrentes à Sua altura por aqui.
Por falar em concorrência, me agrada muito ver as mulheres começando, aos poucos, a dominar nosso mercado de trabalho - pois, na minha opinião, todos têm a ganhar com comandos mais femininos: elas, salários mais justos e nós, chefes mais justas.
E nos ambientes criativos, é bom ver cada vez mais ideias que têm mãe em vez de pai (apesar dos departamentos de criação das agências ainda serem um dos mais atrasados no quesito igualdade dos gêneros).
Hoje, por exemplo, entre os indicados a melhores profissionais de criação do ano pela ABP (Associação Brasileira de Propaganda), se somaramos a lista dos Diretores de Criação, Diretores de Arte e Redatores, são 9 homens e só 1 mulher. Mas pelo menos, na lista dos 3 melhores profissionais digitais, junto comigo e com o Rapha Vasconcellos, do Facebook, está a Juliana Constantino, do Instagram - e não poderíamos estar em melhor companhia.
Pois vale lembrar que, quando a primeira dupla de criação da história (Adão e Eva) ganhou seu primeiro job (da Apple), quem deu a ideia errada foi ele, não ela.
E assim como ideia já carrega um artigo feminino, torço para que no futuro, se Deus quiser, sejam elas que carreguem os departamentos de criação.
E Ela há de querer.
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